Metalúrgico foi um dos fundadores e presidente do sindicato da categoria por mais de 20 anos
Montenegro se despediu ontem de um dos seus principais líderes sindicais. À uma hora da manhã, faleceu o fundador e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Luiz Kayser, de 90 anos. Internado há alguns dias no Hospital Unimed Vale do Caí, ele sofria de problemas de saúde decorrentes da idade avançada. Kayser deixou a esposa Nauri, três filhos, sete netos e cinco bisnetos.
Metalúrgico de profissão, no fim dos anos 50, Luiz trabalhava na Fundição Hädrich e participou de uma grande mobilização para a organização da categoria, que resultou na criação do Sindicato, oficializado em 1961. Em entrevista ao Ibiá em 2011, quando a entidade completou 50 anos, ele lembrou do corre-corre daqueles dias. “Quando assumi, fui na casa do antigo presidente para buscar os documentos, uma máquina de escrever e oito duplicatas vencidas da máquina”, recordou.
Nos primeiros anos, seu Luiz usou uma peça no terreno da própria casa para fundar a Cooperativa dos Trabalhadores Metalúrgicos, que vendia itens de mercearia a baixo custo. Também se orgulhava de ter visitado pessoalmente uma série de colegas de profissão e conseguido ampliar o número de sindicalizados em pouco tempo. Em 1972, apenas 11 anos depois, foi inaugurado o ginásio de esportes da entidade, o Taninão, apontado, na época, como um dos mais modernos do país.
Por sua liderança entre os metalúrgicos, Kayser caiu no radar da Ditadura Militar instalada no Brasil em 1964. Naquela década e na seguinte, foi detido várias vezes por suspeitas de participação em atividades subversivas, mas nunca provadas. Ele deixou o movimento sindical em 1986 e se orgulhava de nunca ter vinculado a entidade a qualquer partido político. “O Sindicato tem gente de tudo que é lado, não podia assumir uma coisa só”, explicava.
No fim, decepção com a corrupção na Política
Luiz Kayser teve de mostrar fibra para conquistar credibilidade, especialmente quando foi lançado o projeto de construção da sede do Sindicato dos Metalúrgicos. Nem todos acreditavam que era possível. As dificuldades começavam pela área. O terreno doado pela Prefeitura, na esquina da Dr Flores com a Fernando Ferrari, era um banhado. “A gurizada ia lá pegar lambari!”, comentou o sindicalista em outra entrevista ao Ibiá.
Na época, o Município estava urbanizando o bairro Panorama e toda a terra retirada do local era levada para a área da futura sede. “Ficamos meses aterrando, foram mais de 700 caminhões. Os próprios associados do Sindicato ajudavam depois do expediente e nos finais de semana”, lembrou Kayser. Mais tarde, para erguer o que se tornou o primeiro ginásio de uma entidade sindical do Brasil, o Taninão, o sindicato contou com o auxílio do poder público e de empresários de diversos setores. Uma revenda de carros doou três fuscas para a realização de uma espécie de rifa. Até a sua própria residência Kayser hipotecou para bancar a obra. “Me diziam: tu é louco para fazer isso. E eu falava: eu não sei se vou conseguir terminar, mas eu vou começar o ginásio”, recordou.
Sobre a Política, em 2006, em outra entrevista ao Ibiá, Kayser já havia mostrado sua decepção. A corrupção nas diferentes esferas do poder e o descaso do próprio eleitor com seus deveres de cidadania desenhavam rugas na testa do veterano sindicalista. Nesta conversa, ele contou detalhadamente sua história, da infância no interior em uma família de origem alemã perseguida durante a Segunda Guerra Militar, até a passagem pelos porões da ditadura.
Kayser não chegou a ser torturado, mas o medo era uma companhia permanente. Numa das vezes em que parou na cadeia foi porque alguém inventou que iria colocar fogo na Igreja, durante um ato terrorista. Em 1972, quando da visita do então presidente da República Emílio Médici para a inauguração do Parque Centenário, foi obrigado a sair da cidade pelos agentes de segurança do Planalto. Tempos difíceis para quem só queria trabalhar pela comunidade.
Como o velório teve de ser curto, em virtude das regras de distanciamento social impostas pela pandemia do novo coronavírus, muita gente usou as redes sociais para manifestar seu pesar com o falecimento. E também para saudar o espírito guerreiro e corajoso do líder sindical.