Maus-tratos. Montenegro volta a registrar suspeitas em mortes de cachorros
De acordo com o Artigo 32 do Código Penal Brasileiro, praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou envenenar animais silvestres ou domésticos é crime. A punição prevista varia de três meses a um ano de prisão e multa para o autor da ação. Mesmo havendo punição, os casos suspeitos de envenenamento estão cada vez mais comuns em Montenegro. Mas para que a Polícia Civil consiga identificar os responsáveis, e aplicar a lei, é preciso que os donos dos animais vitimados denunciem os casos.
Na semana passada foram constatados pelo menos três casos suspeitos de envenenamento de cães na cidade, denunciados na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). No bairro Santa Rita, na mesma casa, dois animais morreram após ingerir uma porção de ração deixada na calçada da residência vizinha. O outro caso ocorreu no bairro Rui Barbosa.
Preta e Guri eram considerados os “guardiões” da rua Sergipe, no bairro Santa Rita, conta Kelly Kaminski, uma das donas dos animais. De acordo com ela, sempre que os cães notavam a presença de pessoas estranhas na vizinhança começavam a latir, como que avisando os proprietários das casas.
Preta era a mais dócil, já o Guri era mais companheiro. “Quando minha irmã estudava na Escola José Pedro Steigleder, o Guri sempre ia esperar ela no portão da escola na hora da saída”, comenta.
Mesmo contando com a simpatia da maioria dos moradores da rua, na última quinta-feira ambos acabaram tendo um triste fim de vida. Por volta das 22h, o pai de Kelli, José Ademir Kaminski, foi alertado por um vizinho que um homem estava em frente a sua casa. Quando saiu ao terreno para ver o que estava acontecendo, José notou que os cães estavam passando mal.
A ação do produto ingerido foi instantânea, não houve tempo para salvar os animais que, em poucos minutos, acabaram morrendo. “A gente se sente incapaz de proteger os bichos. Foi muito triste ver os dois mortes”, desabafa Kelly.
Após ter dois cães mortos, casal espalha cartazes
Na terça-feira da semana passada, dia 8, a cadela Nina do engenheiro agrônomo André Carmago Volpato também morreu, após ingerir um alimento jogado no pátio. Há menos de um mês, dois filhotes de Nina também passaram mal depois de terem comido algo largado no terreno.
Graças à ação rápida da esposa de André, a jornalista Iana Reis, que levou os animais a uma clínica veterinária, um dos cachorros foi salvo. Mas o outro não resistiu. “A nossa vizinha também teve o cachorro envenenado já duas vezes, mas conseguiu salvar o animal”, conta Iana.
Com medo de perder os últimos dois cães que restaram, filhotes de Nina, Iana resolveu agir movida pela emoção. Ela fez diversos cartazes com frases de apelo para que o crime não se repita. O material foi afixado no muro. André diz que a atitude da esposa é um grito de desespero.
“Fizemos isso para que não aconteça pela terceira vez. Os cães não têm culpa de nada. Se há alguma diferença entre as pessoas deve ser resolvida com diálogo, não com atitudes como essa”, ressalta.
Hoje eles convivem com a insegurança de deixar os animais soltos em casa enquanto estão no trabalho. “Não dá pra deixar os bichos fechados. A gente se sente impotente”, conclui.
Registrar BO é fundamental para enfrentar esse crime
Abalada com a perda de seus “amigos”, no dia seguinte ao crime, Kelly Kaminski e a irmã Franciele, que também era dona dos animais, foram até a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento para registrar ocorrência.
Já André Volpato não denunciou quando perdeu o primeiro cão. Mas agora percebeu a necessidade da investigação do caso, para evitar que sejam feitas novas vítimas. O delegado da 1ª Delegacia de Polícia de Montenegro, Paulo Ricardo Costa, informa que o setor de investigações trabalha na apuração dos fatos.
Procedimentos em casos suspeitos de envenenamento
A veterinária Juliana Senger explica que o atendimento imediato aos casos suspeitos de envenenamento é fundamental para tentar salvar a vida do animal. De acordo com ela, o principal procedimento adotado é provocar o vômito do produto que foi ingerido, antes que a substância comece a agir no organismo o bicho. “O veneno normalmente da sintomas neurológicos, o animal grita de dor, baba, é horrível”, explica.
A veterinária acrescenta que a venda de venenos como a Stricnina, um dos principais produtos usados para cometer o envenenamento de animais, está cada vez mais controlada. Essa substância é conhecido por causar um tipo de hemorragia cerebral irreversível, informa.
Contudo, a médica orienta para que doenças como as paraviroses não sejam confundidas com envenenamento. “As pessoas têm que ter em mente que, nem sempre que tem vômito ou diarréia, é veneno. Eu vejo muitos falsos diagnóstico, as vezes o cachorro não foi vacinado e pegou uma virose. O veneno dá sintomas neurológicos como convulsão”, explica.