Partir para o desconhecido

Andressa Kaliberda
Jornalista

Quem nunca pensou em pegar um ônibus (ou carro, um avião, bicicleta…) e partir sem rumo? Talvez a ânsia das novas descobertas seja sufocada, quase que constantemente, pelo medo do que nunca foi visto. Não, você não foi o único que já teve essa ideia. Muitas pessoas já tiveram, mas apenas algumas colocaram em prática.
É comum pensar em fugir de tudo e recomeçar em outro lugar. E, convenhamos, essa vontade tem sido cada vez maior nos últimos tempos! A intolerância, a violência crescente e a falta de garantias básicas ajudam a nos fazer questionar constantemente o aqui e agora. E a vontade de ir para outro lugar só cresce.
Partir em busca de novas experiências, novas culturas e mais conhecimento é sempre incrível. Digo isso como alguém que largou tudo para morar a 800 km de casa. E viu sua vida recomeçar em poucos dias. Isso foi lá em 2015 mas, até hoje, o frio na barriga em chegar no desconhecido e questionar se me “encaixaria” aqui, existe. Hoje ele está muito mais na lembrança, é fato. Mas, junto com isso, existe a certeza da pessoa forte que toma cada decisão de recomeçar. As maiores e aquelas pequenas, do dia a dia. Nesses quatro anos, já fiz amizades que parecem ter nascido na infância. Mas também enfrentei perrengues homéricos. Afinal, quando você larga tudo e vai, você pensa em recomeçar. Mas como se recomeça algo que não terminou? Em um lugar onde a vida está seguindo seu curso normalmente e você é um completo estranho naquele círculo?
Recomeçar é difícil. Mas pode ser muito recompensador. Podemos descobrir coisas que nunca imaginaríamos e até construir uma “família postiça” com a qual jamais sonharíamos. Tudo isso com o bônus de não perder os laços com a nossa vida anterior.
O recomeço não precisa ser tão distante. Ao lado da minha porta, um quadrinho de pendurar as chaves diz que “A vida recomeça a cada manhã”. Parece um baita clichê, ao melhor estilo hollywoodiano-romântico-sonhador, mas é uma frase para refletir. Eu uso, inclusive, como um mantra para poder pensar muito bem em cada decisão. O recomeço depende de cada escolha. E cada uma delas pode ser no conforto do nosso lar, da nossa cidade e da nossa vida. São as pequenas (grandes) decisões diárias.
Há quem recomece após um transplante de órgãos (podemos ser a mudança radical na vida de alguém, inclusive). Há quem mude após um corte de cabelo e tem também aqueles que viram suas vidas de ponta cabeça após decidir praticar exercícios e se alimentar melhor. A mudança mesmo, aquela que vai nos fazer ter experiências incríveis, está no fato de abrirmos nossa mente e nossos olhos para as experiências que a vida nos oferece, sem medo do desconhecido. E isso pode começar já nas primeiras decisões após o café da manhã.

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