DEZENAS de pessoas tiveram que sair de suas casas por conta do avanço das águas do Rio Caí
Os relatos dos moradores de diferentes localidades de Pareci Novo não deixam dúvidas: a enchente que atingiu a cidade no final de semana é a maior da história. Impiedosas, as águas do Rio Caí avançaram por áreas pelas quais nunca haviam passado antes. Isso resultou em dezenas de famílias desabrigadas ou desalojadas, além de enorme prejuízo.
Na manhã de segunda-feira, dia 20, muitas famílias já trabalhavam na limpeza de suas casas. Por diferentes ruas de Pareci Novo o cenário se repetia: pilhas do que não tinha mais uso de um lado e do outro, ao sol, móveis, eletrodomésticos e outros itens que ainda tinha salvação. Dentro das residências, moradores faziam a limpeza com lava-jatos, mangueiras e rodos.
No Centro, a água também avançou por ruas antes nunca atingidas. É o caso da rua Santo Inácio de Loiola. Lá, Maria Marli de Melo Kich, 59 anos, e o marido começaram a erguer móveis e eletrodomésticos na tarde de sábado, diante de um aviso da irmã de Maria que mora em São Sebastião do Caí – que também teve cheia recorde.
Maria revelou que ela e o marido ficaram em casa até as 3h da madrugada de domingo, dia 19. De lá, foram para uma construção que a família possui na rua João Henrique Kinzel. “Às 5h30 começou a entrar água lá também. A solução era vir para o ginásio”, disse. Assim, com auxílio de um trator da Prefeitura, eles foram levados para o Ginásio Municipal Armin Adolfo Heldt onde, com outras famílias, ficaram até a manhã de segunda-feira. “Estou ansiosa para limpar tudo e ajeitar”, afirmou Maria antes de voltar para sua residência.
Na localidade de Matiel, Dóris Gehm, 69 anos, disse que está acostumada a ver as águas do Rio Caí quando enchentes de maior porte ocorrem. Ela mora em frente ao trecho da ERS-124 que fica interrompido por causa do Rio Caí. Apesar da proximidade, as águas nunca chegavam até a casa dela. Isso até a presente cheia.
Em mais de 25 anos morando no local, Dóris nunca havia presenciado tamanha elevação do rio. “A gente levantou (móveis), mas não o suficiente”, contou, lamentando as perdas. Ela ressaltou que a elevação foi tamanha que se viu obrigada a buscar refúgio na vizinha, que mora em uma casa centenária. Em 100 anos de história, a residência vizinha também nunca havia sido invadida pelas águas, marca que foi revertida com essa enchente com uma lâmina d’água entrando na casa.
Na Várzea do Pareci, Ivanete Krebs, 48 anos, contava com a ajuda de parentes para limpar sua residência atingida pelas águas pela primeira vez em 30 anos. “Começou (a elevação do rio) no sábado de tarde, e veio muito depressa”, contou. Ela lamentou perder, entre outros itens, as máquinas e materiais usados para seu trabalho de costureira. “Nunca vi parecido. Agora é ver o que dá para salvar”, afirmou.
Comunidade pode ajudar com doações
Muitas famílias foram atingidas e precisam de ajuda. Os donativos, tanto de roupas quanto de produtos de limpeza, móveis e eletrodomésticos podem ser levados ao Ginásio Municipal Armin Adolfo Heldt ou ao Centro de Referência em Assistência Social (Cras) Amor Perfeito, localizado ao lado da Prefeitura. Quem precisar dos itens pode retirá-los nos mesmos locais.
Conforme o vice-prefeito de Pareci Novo e coordenador da Defesa Civil local, Fábio Schneider, o rio chegou ao nível de 16 metros, muito acima das médias históricas. “Onde pessoas nunca precisaram sair de suas casas houve risco e começamos a resgatar”, revelou. Segundo ele, a retirada foi feita pela Prefeitura, voluntários e Corpos de Bombeiros Militar.
Só no Centro de Pareci Novo, até às 17h de domingo, a Prefeitura contabilizava 17 famílias alojadas no ginásio municipal. No entanto, ao todo, foram 35 famílias – totalizando 119 pessoas – que foram removidas de suas casas na área central da cidade.
A cheia também causou o corte de luz na cidade e, consequentemente, de diversos poços de água responsáveis pelo abastecimento de muito moradores. No entanto, já na manhã desta segunda-feira a situação começou a ser normalizada.