No oitavo dia, cidade lida com o desabastecimento e a falta de transporte público
São visíveis as mudanças na rotina da população devido à mobilização dos caminhoneiros. No oitavo dia, a semana começou calma e com movimento normal pelas ruas da cidade. No entanto, faltam vários produtos nos mercados. Há pouca reposição nos estoques de medicamentos das farmácias, linhas de ônibus diminuíram significativamente e vários serviços estão prejudicados.
É notável e inegável a dependência pelos serviços de transporte terrestre do país. Em Montenegro, o comércio lida com a falta de reposição dos produtos nos estoques e mantém as portas abertas para vender o que está nas prateleiras. Nos mercados, pães, carnes, ovos e leite são os menos encontrados.
Outros setores que enfrentam problemas nesta semana são restaurantes, táxis, açougues e o transporte público. A expectativa dos comerciantes é pelos desdobramentos das negociações entre caminhoneiros e governo para que tudo seja normalizado. No final da tarde de ontem (28), a reportagem registrou duas lojas que fecharam as portas e colocaram cartazes em apoio aos caminhoneiros. Outros comerciantes também apoiaram as manifestações, mas a decisão por fechar os estabelecimentos cabia unicamente aos proprietários.
Comércio de gêneros alimentícios é o mais afetado
No supermercado Mombach do centro ainda há produção de pães, pois o estoque de fermento e a farinha é suficiente para toda a semana. Ovos, carnes, queijos, laticínios, frutas e verduras, porém, já estão faltando nas prateleiras. O mesmo acontece no supermercado Imec, que também possui um restaurante que não está em funcionamento desde ontem (28) por falta de gás e ingredientes. Segundo a gerência, resta uma quantidade razoável de frutas e de verduras, compradas de produtores do interior.
A cliente Karina Gonçalves esteve no supermercado procurando carne e massas para abastecer a casa. “Estou com dificuldade para achar alguns produtos e a maioria já teve aumento no preço”, afirma. Além disso, Karina não conseguiu ônibus para São Leopoldo. Questionada sobre a paralisação dos caminhoneiros, ela destaca: “Acho justo, porque o governo está fazendo muito pouco e, nesta hora tão difícil, os políticos estão quietos”.
A direção do Mercado das Frutas diz que a situação está bem difícil e que as últimas entregas de frutas e verduras ocorreram na quinta-feira passada. “Pão, arroz e feijão estão em falta desde a segunda-feira da semana passada”, afirma a proprietária Eva Vargas. Conforme ela, os preços continuaram iguais aos cobrados antes da greve dos caminhoneiros. “Não é justo aumentar o preço de um produto que não chegou reajustado pelo distribuidor. Neste momento, não podemos nos aproveitar da situação”, enfatiza.
Os taxistas também estão enfrentando dificuldades pela falta de combustível e realizam as últimas viagens antes da gasolina acabar por completo. Na rodoviária, o ponto de táxi possui, normalmente, dez carros à disposição dos passageiros. Apenas três estão com os tanques abastecidos.
Os lojistas de vestuário afirmam que o movimento está normal, por enquanto. A sub-gerente da loja Pompéia, Clarice Schommer Schneider, conta que somente os pedidos de novas peças estão atrasados. “Temos bastante roupa de inverno no estoque devido aos poucos dias de frio até o momento e, por isso, não há falta de produtos”, ressalta. A organização dos funcionários para a locomoção até o trabalho também garantiu a normalidade do atendimento.
Na saúde, há dificuldade para manter serviços funcionando
A saúde também é afetada pela falta de combustível e outros insumos. Apesar de lideranças do movimento dos caminhoneiros alegarem que veículos com produtos hospitalares e remédios não estarem sendo barrados, as direções de ambos os hospitais de Montenegro – público e privado – informam ter problemas de desabastecimento.
No Hospital Montenegro, segue o mesmo cenário de economia de insumos já registrado na sexta-feira, quando foram interrompidos por tempo indeterminado os serviços no Pronto Atendimento (os classificados como verde e azul) para priorizar os casos de urgência e emergência. A alimentação de acompanhantes e lanches de funcionários foram cortados por não haver previsão de quando será normalizada a entrega de alimentos. Medicamentos são buscados em Santa Cruz do Sul, de carro. Carne também precisa ser trazida da empresa pela equipe do Hospital. Cirurgias eletivas foram canceladas.
Já o hospital da Unimed divulgou nota nesta segunda-feira na qual informa estar tentando sanar dificuldades logísticas, já que produtos não estão chegando. Há redução no estoque de oxigênio e dificuldades no laboratório. Houve desabastecimento de medicamentos de uso oral utilizados por pacientes com câncer. Por isso, um funcionário do hospital teve de ir buscar o medicamento de carro em Canoas. Ainda assim, todos os serviços estão mantidos.
Segundo Edar Borges Machado, Chefe de Gabinete da Prefeitura de Montenegro, mesmo com a dificuldade no abastecimento dos veículos, estão mantidas as viagens a Porto Alegre para atendimentos e consultas médicas. A Prefeitura tem combustível para manter o serviço da Secretaria da Saúde por toda a semana.
Pareci Novo cancela transporte da Saúde
Em Pareci Novo, foi cancelado o transporte para fisioterapia, equoterapia e para os postos de saúde. Além disso, as consultas de psicologia serão remarcadas e atendimentos odontológicos também serão reduzidos e remarcados. O agendamento de exames e consultas será suspenso, com exceção de casos excepcionais. Serão priorizados os atendimentos de urgência e emergência. Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Bananal e Despique estarão fechadas a partir desta terça-feira, e a UBS Centro atende somente até as 17h. O pedido é de que a população se desloque ao posto de saúde do Centro somente em casos de extrema necessidade. Agendamentos de van e ambulância feitos anteriormente serão mantidos.
Prefeito Kadu Müller decreta situação de emergência
O Prefeito Kadu Müller decretou situação de emergência na manhã desta segunda-feira (28). Aulas no Ensino Fundamental e na Educação Infantil estão suspensas de terça-feira (29) até sexta-feira (dia 1º). Prejuízos na prestação de serviços e fornecimento de insumos, como gás de cozinha, dificultam o atendimento. A utilização dos veículos oficiais está, rigorosamente, limitada aos serviços essenciais, como saúde e educação. A Secretaria de Saúde oferecerá, em caráter extraordinário, atendimentos básicos na sexta-feira. O setor médico adulto e a farmácia funcionarão das 8h às 12h e das 13h às 17h. Nesta terça-feira (29) e quarta-feira (30), os atendimentos seguem normais.
A coleta do lixo está suspensa por tempo indeterminado. A capacidade máxima da central de transbordo foi atingida e os bloqueios impossibilitam o transporte até Minas do Leão.
Brochier sem aulas hoje
A Prefeitura de Brochier emitiu uma nota em que informa a renovação do decreto de emergência e a suspensão das aulas da rede municipal (com exceção da EMEI Sapatinho de Cristal) e o transporte escolar até esta terça-feira, 29. Da mesma forma, a utilização de qualquer máquina ou veículo da frota municipal fica paralisada. A medida tem vigor até hoje, quando novas informações serão repassadas. As demandas da saúde e serviços considerados urgentes e inadiáveis seguem sendo atendidos, e o expediente na prefeitura também não sofreu alterações.
Sem coleta de lixo em Salvador e São José
Salvador do Sul – assim como São José do Sul – cancelaram o recolhimento de lixo. O secretário da Administração de Salvador, Fernando Lunckes, alerta que os resíduos neste período não deverão ser colocados na via pública, para evitar acúmulo desnecessário, poluição visual e risco à saúde.
Detran suspende provas
O DetranRS suspendeu em todo o Estado as provas práticas e teóricas escritas que ocorreriam nos Centros de Formação de Condutores esta semana. O fato ocorre pela dificuldade para abastecimento das suas viaturas e dos próprios veículos dos Centros de Formação de Condutores, em razão da greve. Além de gerar problemas para os deslocamentos de alunos e instrutores até os locais das provas.
Carros de passeio foram “vistoriados” por manifestantes
Uma ação dos manifestantes causou indignação em motoristas de veículos de pequeno porte de Montenegro e cidades vizinhas. Ocorreram “vistorias” nos carros em alguns pontos de bloqueio, onde os grupos de caminhoneiros estão acampados desde a semana passada. Queriam verificar o transporte de mercadorias. Segundo a Brigada Militar, os grevistas não têm direito legal para praticar essa ação. A orientação da BM é para que quem sofrer esse tipo de constrangimento procure a delegacia de polícia e registre boletim de ocorrência sobre o fato.
Um produtor rural, que prefere não se identificar, por medo de sofrer represálias, passou por isso no piquete instalado na rótula da ERS 124, próximo ao posto Shell. O homem transportava bergamotas e aipim em uma caminhonete Saveiro, quando foi impedido de seguir viagem. Ele tentou retornar para casa, mas os manifestantes não permitiram.
Um dos grevistas bloqueou a frente do carro do agricultor, impedindo sua passagem. De acordo com o cidadão, vários manifestantes se dirigiram a ele com hostilidade e disseram que seu carro não sairia de lá até o final das mobilizações. “Me senti muito mal. Eles fizeram pressão psicológica. Achei que estavam armados”, relata. O carro só saiu do local no dia seguinte, após ser liberado por um dos membros do movimento.
Outros dois casos de abordagem e vistoria de veículos, na ERS 124 e 240, foram relatados à reportagem. Os manifestantes não negam que estejam realizando a ação. De acordo com eles, a intenção é impedir que produtos sem procedência dêem entrada na cidade.
Conforme João Rosa – um dos líderes da paralisação, entrevistado na página 13 – as abordagens estão sendo feitas e terão continuidade, mesmo que isso seja considerado um ato ilegal. De acordo com ele, o objetivo do grupo não é recolher produtos e sim zelar para que não haja abuso na venda de materiais sem procedência. “Tem muito carro que está passando com mercadoria. Na sexta foi pega uma caminhonete de um comerciante de Montenegro lotada de carne. Acho que eram cerca de 600 quilos de carne dentro da caminhonete. Teve carro de funerária levando botijão de gás”, diz o manifestante. Ele relata ainda que as abordagens ocorrem de forma pacífica.
O subcomandante do 5º Batalhão da Polícia Militar, Iber Augusto Giordano, orienta os motoristas que se sentirem lesados pela ação dos manifestantes a, se possível, fazerem uma foto do autor da abordagem. Ou ir à delegacia e relatar detalhes da aparência do mesmo. Os dados servirão para dar andamento à investigação que deverá ser instaurada por meio do registro de ocorrência. Caso não seja possível identificar os envolvidos, o líder do grupo deverá responder pela abordagem abusiva que ocorreu.
Horário de ônibus sofreram alterações
Horários cancelados:
Linha Montenegro x Novo Hamburgo: todos horários cancelados
Linha Unisinos: todos horários cancelados
Linha Feevale: todos horários cancelados
Linha Ulbra: todos horários cancelados
Montenegro – Passo da Amora – Vendinha – circular: cancelado
Montenegro – Porto Alegre via – Timbaúva e BR-448 Semidireto: cancelado
Porto Alegre – Montenegro – via Timbaúva e BR-448 Semidireto: cancelado
Linhas urbanas e interioranas canceladas:
Linha Estação
Linha São Pedro/ São Paulo
Linha São João/ Santo Antônio
Linha Serra Velha
Linha Bom Jardim
Linha Porto Garibaldi via Vendinha
Linha Santos Reis
Llinha Germano Henke convencional: 7h20min/ 8h20min/ 11h20min/ 12h20min/ 13h20min/ 16h20min/ 17h20min/ 18h20min
Apoio ao movimento
Passava das 17h , ontem, quando pedestres, carros, motos e tratores uniram-se na RSC-287, em frente ao ponto de paralisação das lojas Taqi. Eles levavam faixas e gritavam pedidos de “Fora Temer”, de “abaixo a corrupção” e de “intervenção militar já”. Os manifestantes seguiram até a rótula com a BR-470, onde foram recebidos com palmas e muitas buzinas.
Na rótula, muitos montenegrinos também se uniram, nas calçadas, esperando a chegada da manifestação e apoiando a causa. Dezenas de famílias compareceram, levando até seu chimarrão. Após tocar o hino nacional, alguns líderes falaram aos presentes. Garantiram que a paralisação não para e que tudo no país precisa mudar.
Em Maratá, a comunidade também manifestou seu apoio ao movimento dos caminhoneiros. Cerca de 70 pessoas participaram de um ato de protesto nas ruas centrais da cidade e cantaram o hino nacional durante a tarde de ontem. A Prefeitura estabeleceu um novo decreto que prioriza o atendimento e a manutenção dos serviços essenciais inadiáveis e de emergência do Município.
O que o governo promete
Na noite de domingo, o presidente Michel Temer anunciou novas medidas do governo, procurando dar fim à paralisação dos caminhoneiros. Será suspensa a cobrança do eixo elevado para caminhões; será estabelecida uma tabela mínima para o valor do frete; 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) serão reservados para caminhoneiros autônomos; foi garantido que não haverá reoneração de folha de pagamento no setor de transporte de carga; e, talvez a mais significativa, o litro do diesel terá redução de 46 centavos na bomba, por 60 dias, só havendo, após, reajustes mensais de preço.
Os manifestantes, porém, afirmam que só vão desobstruir as estradas quando todas estas medidas estiverem em prática
ESCOLAS ESTADUAIS
A Secretaria de Educação informou ontem que as aulas da rede estadual serão retomadas hoje. Casos pontuais, em que devido à falta de transporte houver impedimento da chegada de alunos ou professores nas escolas, serão tratados pelas coordenadorias regionais.