Paralisação dos caminhoneiros ocasiona desabastecimentos

Impactos na economia começaram a ser percebidos pela população

Nesta sexta-feira, a greve dos caminhoneiros contra os aumentos dos combustíveis pode ter uma trégua de 15 dias. O governo federal anunciou, por volta das 21h, após uma reunião com sete horas de duração, ter chegado a um acordo com a maioria das entidades que representam os caminhoneiros. Contudo, a Associação dos Caminhoneiros (Abcam), que congrega 700 mil motoristas, não concordou com as propostas e saiu da reunião antes mesmo do encerramento.

 

: a fila de caminhões parados em decorrência da greve aumenta a cada dia

Enquanto o impasse não se resolve, os problemas de abastecimento em Montenegro aumentam. Os impactos dos protestos se intensificam na mesma proporção que os estoques de combustível vão se esgotando. Ao que tudo indica, os postos montenegrinos não terão mais gasolina a partir desta sexta agora. A procura pelo produto gerou longas filas e chegou a terminar em diversos locais nesta quinta.

Outros serviços essenciais sentem o reflexo das mobilizações nas rodovias. Prefeituras paralisaram serviços e já se fala até em falta de água. Nos supermercados, o risco é de desabastecimento de alimentos perecíveis. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Comando Rodoviário da Brigada Militar, até o final da tarde desta quinta-feira foram registrados 12 pontos interditados por grevistas nas estradas de Montenegro e região.

Em decorrência dos bloqueios nas vias, o secretário de Meio Ambiente, Adriano Chagas, afirma que a Komac, empresa responsável pela coleta do lixo em Montenegro, enfrenta dificuldades com o acúmulo de resíduos, porque não estão sendo levados ao destino, em Minas do Leão.

Diante da situação, o material tem ficado na estação de transbordo, que já está esgotado. “A estação de transbordo opera com licenciamento emitido pelo Estado que determina limites máximos de armazenamento de resíduo. Assim, não podemos ultrapassar estes valores, pois estaríamos descumprindo a legislação em vigor”, esclarece o secretário.

Nos postos, enquanto alguns frentistas avisam os motoristas sobre a falta de gasolina nas bombas, outros estabelecimentos aproveitam para cobrar valores ainda maiores devido à grande procura. Em função disso, a Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada na Defesa do Consumidor (Decon), em conjunto com o Procon-RS, Procon-POA e MP-RS, alertam sobre o aumento indiscriminado de preços durante a greve.

O argumento deles é que se trata de prática abusiva vedada pelo Código do Consumidor, que proíbe os fornecedores de exigir do consumidor vantagem indevida e elevação sem justa causa do preço de produtos ou serviço. A conduta é considerada crime contra a ordem econômica e prevê pena de reclusão de dois a cinco anos, além de multa.

sem previsão para acabar, grevistas continuam os protestos e reforçam a necessidade de apoio da comunidade

Entenda o impacto da greve no dia a dia de Montenegro e região
Transtornos. Se greve seguir, população pode até ficar sem água da Corsan

Até por volta das 20h30 desta quinta, poucos postos de Montenegro ainda tinham gasolina: o Ipiranga Kirst, no entroncamento entre a rua Ramiro Barcelos e a RSC-287; o Shell Fatur, na ERS-240; além do BR Sagás/Comauto na rótula entre BR-470 e a RSC-287.

Mais cedo, no final da tarde, o Jornal Ibiá apurou que os postos de Campo do Meio e Costa da Serra, ambos no interior do município, ainda possuíam estoques.

Aqui no município, os primeiros registros de esvaziamento dos reservatórios foram confirmados já na quarta-feira, 23.

Com a demanda bem maior que o normal, os proprietários dos estabelecimentos temem que o restante dos tanques acabe ainda na manhã desta sexta, porque todos confirmam que não há expectativa de reabastecimento, uma vez que os grevistas mantêm trancada a saída da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas.

Serviços essenciais prejudicados
Desabastecimento nos supermercados
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, informou que o problema de abastecimento de mercadorias para supermercados gaúchos em decorrência da paralisação dos caminhoneiros está se agravando. O dirigente salientou, entretanto, que as lojas possuem estoque médio de segurança de 15 dias nos produtos não perecíveis. “Com relação a estes produtos, não há risco de desabastecimento para o consumidor final em um curto prazo”, destaca Longo.

A situação mais preocupante no setor é sobre os produtos perecíveis, que não são estocados pelos supermercados por seu curto prazo de validade. “A partir dos próximos dias, se a situação não se normalizar, poderá haver desabastecimento em itens de hortifruti, carnes, frios e laticínios refrigerados, por exemplo”, explica. Segundo Longo, os problemas vão aumentar à medida que os supermercadistas não conseguirem repor as mercadorias.

Mais atrasos nos Correios
As encomendas do tipo Sedex 10, Sedex 12 e Sedex hoje, dos Correios, foram temporariamente suspensas devido à paralisação dos caminhoneiros. Em comunicado, a estatal informou que tem sentido “forte impacto” pela situação e que há atrasos em suas operações em todo o país. Os serviços de entrega pelo Sedez “normal” e pelo PAC (entrega não expressa) seguem ocorrendo, mas com acréscimo no prazo. A agência montenegrina garante que tudo o que chegar até o posto de distribuição local será entregue normalmente.

Prefeitura garante serviços básicos
O Poder Executivo de Montenegro tem monitorado a mobilizações pelo país e, neste cenário, prioriza garantir os atendimentos básicos como a área da saúde, por exemplo. Para tanto, frequentes encontros entre os setores da Administração seguem ocorrendo para colocar em práticas ações preventivas.

Transporte coletivo
Os ônibus da Viação de Montenegro (Vimsa) seguem operando normalmente. Porém, o gerente operacional da empresa, Julio Höerlle, afirma que, se a dificuldade em abastecer os ônibus continuar, a empresa não descarta a possibilidade de reduzir algumas linhas fora de horário de pico a partir desta sexta-feira, 25.

Fornecimento de gás
No setor de distribuição de gás de cozinha em botijão, a previsão é que os produtos acabem nos revendedores até o final desta sexta-feira, 25. Na maioria dos pontos de venda de Montenegro já não há mais unidades disponíveis.

Abastecimento de água
Segundo Lutero Fracasso, gerente da Corsan Montenegro, o abastecimento de água pode ser afetado devido às paralisações. Os insumos para o sistema de tratamento da água estão encomendados, mas se não chegarem até a próxima terça-feira, 22, o abastecimento será interrompido.

HM teme pela falta de remédios
Existe um risco iminente da greve nos transportes afetar a rotina de atendimentos do Hospital Montenegro (HM). Pode inclusive faltar remédios e materiais para procedimentos. A informação foi confirmada no início da noite desta quinta-feira pelo diretor da instituição, Carlos Baptista. “Principalmente na área de medicamentos. Hoje já foi preciso buscar medicações em Santa Cruz, porque as transportadoras não conseguem entregar”, afirma.
Outro setor afetado é a hotelaria do HM, que não consegue lavar as roupas, pois a lavanderia não consegue lenha para caldeiras. Ao menos o oxigênio usado nos leitos através de rede não é problema, pois a instituição tem usina de produção própria. Baptista alerta, no entanto, que talvez falte nos cilindros individuais usados para transportar pacientes. “Mas estamos atentos e isso é pouca quantidade”, ameniza o diretor.

Consumidores denunciam gasolina vendida a quase R$ 7,00

Comdecon afirma que realizou fiscalização,
mas não constatou nenhum abuso

Na manhã desta quinta, as redes sociais se encheram de postagens e reclamações sobre postos cobrando preços abusivos. No Conselho Municipal de Defesa do Consumidor (Comdecon), no entanto, nenhuma reclamação havia chegado. É só por denúncia oficial que os estabelecimentos podem ser responsabilizados, coibindo as práticas. Cabe até o acionamento da polícia e o registro de ocorrência.

A leitora Mara Rosangela Ribeiro contou que esteve na fila para abastecer na noite de terça, quando presenciou um reajuste. “A gasolina estava marcando, na bomba, R$ 4,49. Quando chegou na nossa vez, interromperam o abastecimento por minutos e, quando voltaram, tinha mudado para R$ 4,95”, disse. Relatos pela região falam de abusos ainda maiores. Gasolina teria sido comercializada por R$ 5,25, R$ 5,99 e até R$ 6,80 o litro.

Secretário executivo do Comdecon, Fábio Barbosa afirma que, sem o registro oficial, tudo se trata de boato. Ele conta que, na manhã de quinta, por volta das 7h30min, realizou visitas pelos postos e não constatou abusos. A média era de R$ 4,70 para a gasolina. À tarde, os postos foram visitados novamente.

Fábio Barbosa frisa que o consumidor precisa pedir nota fiscal ou registrar, com vídeo ou foto, o preço praticado fora do normal

Fábio explica que a condição do preço como “abusivo” se dá quando o valor do posto fica muito acima da média de mercado. “O estabelecimento que vende é livre para colocar o seu preço, mas não pode vender uma batata a R$ 10,00, enquanto outros mercados vendem por R$ 3,00.”
Sobre as práticas acima da média, o Comdecon é claro: o consumidor precisa provar o valor que está sendo cobrado, com registro de foto ou vídeo e, principalmente, com a nota fiscal.

“As pessoas não têm a cultura de pedir nota fiscal em posto, mas isso é um furo”, avalia o executivo.

Em Brochier, comerciantes se unem aos caminhoneiros

Por vezes, manifestantes bloquearam a rodovia estadual

A ERS-411 amanheceu nesta quinta-feira com uma manifestação de caminhoneiros e produtores rurais de Brochier e Maratá, que abordavam veículos de carga e ordenavam que eles aderissem à paralisação. O protesto era realizado na localidade de Reta Grande, em Brochier, junto a um posto de combustíveis. À tarde, o grupo recebeu o apoio de comerciantes da cidade, que fizeram uma passeata do Centro até o local com cartazes que declaravam apoio aos manifestantes e que pediam o fim da corrupção no Brasil.

Um dos idealizadores do protesto, Alerson Silva conta que a ideia surgiu na tarde de quarta. “A gente reuniu o comércio, alguns clientes e a população. Se nós todos nos juntarmos, acho que chegamos onde queremos”, destaca. Na tarde desta quinta, grande parte dos comércios do centro do Brochier estavam fechados. Cerca de 60 pessoas participaram da passeata até a ERS-411.

“Não é só a questão do combustível, tem a corrupção também. Se nós nos unirmos seremos mais fortes para combater isso”, reforçou Alerson. Proprietário de um mercado que sofre com a falta de produtos, ele não culpa os caminhoneiros pelo fato, mas sim o governo federal. “A situação é inadmissível. Somos pequenos, mas juntos podemos ser grandes”, disse. O manifestante lembrou ainda que as eleições de outubro são uma chance de mudar e crê que os protestos terão reflexos na campanha eleitoral.

Passeata teve início nas ruas do Centro e seguiu até Reta Grande, onde estavam os motoristas de caminhão

As proprietárias de lojas Doris Endres Dahmer e Carla Gislaine da Cruz disseram que apoiam a manifestação dos caminhoneiros por verem nela uma chance de “o país tomar jeito”. “Dos políticos, nenhum resolve. É só roubalheira. Daí nós, os pequenos empresários, pagamos o pato pelos grandes”, reclamam falando sobre a corrupção e alta carga de impostos. Elas salientam ainda que a região tem, no setor primário, sua principal fonte de renda e que com os produtores recebendo pouco pela sua produção é difícil a economia do município girar.

Nesta sexta-feira, a promessa dos manifestantes é de realizar movimentos em dois pontos. Um deles voltará a ser na Reta Grande e o outro em Maratá.
Nesta quinta à tarde, os manifestantes realizaram bloqueios de curta duração. A manifestação, que iniciou na madrugada, terminou por volta das 18h. Pedro Leonardo Lauermann era uma dos manifestantes. Ele salientou que a paralisação ajudaria todo o país. “O manifesto é para o bem do povo brasileiro, para o coletivo, para toda a nação”, assegurou.

Municípios decretam emergência em razão da greve

Prefeito em exercício de Brochier, Fernando Aurélio Braun assinou, no final da tarde de quinta-feira, o decreto que declarou situação de emergência na cidade. O mesmo caminho tomou o Executivo de São Sebastião do Caí. Nos dois municípios, a causa é a falta de combustível para abastecer a frota.
Em Pareci Novo, o prefeito Oregino José Francisco deve decretar a situação de emergência nesta sexta-feira. O prefeito de São José do Sul retornava na quinta-feira de Brasília e ainda não estava completamente a par da situação. Em Montenegro, a Prefeitura reduzirá o uso de seus veículos. Esta é a mesma medida a ser tomada em Salvador do Sul e Maratá.

Falta de combustível leva municípios adotar emergência ou reduzir frota

Conforme o decreto assinado em Brochier, ficam suspensas as aulas na rede municipal e o transporte escolar oferecido pela Prefeitura, bem como é suspensa a utilização de qualquer máquina ou veículo da frota municipal. A exceção é quanto os veículos da Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social ou de outras pastas para o atendimento de situações de urgência. Os setores da Prefeitura não atingidos pelas medidas seguirão atendendo normalmente, assim como o administrativo das escolas. As medidas duram até o dia 27, domingo.

Entre as considerações apontadas no documento, é citada que a paralisação dos caminhoneiros culminou no desabastecimento dos reservatórios dos postos de combustíveis do município, que são os fornecedores do Executivo, bem como de empreendimento de cidades vizinhas. Destaca-se ainda que a medida foi tomada porque o Município é responsável pelo transporte escolar da rede municipal e estadual e não possui reservas de combustível.

Em São Sebastião do Caí, o transporte escolar será suspenso nesta sexta-feira. No entanto, as aulas ocorrerão normalmente. O decreto de emergência por gravidade social impõe que o posto de combustível licitado deve dar prioridade no fornecimento de gasolina e óleo diesel aos veículos da Prefeitura.

O documento aponta ainda como prioritário o abastecimento de veículos dos serviços essenciais da Secretaria Municipal de Saúde, bem como de viaturas de autoridades de segurança pública da Polícia Civil, Brigada Militar, Guarda Municipal e Corpo de Bombeiros Voluntários.

“Entendemos e apoiamos a paralisação dos caminhoneiros. O decreto é para salvaguardar o funcionamento dos serviços públicos municipais essenciais da melhor forma possível”, destaca o prefeito de São Sebastião do Caí, Clóvis Duarte.

Ele destaca que todos os serviços do município estarão operando normalmente nesta sexta-feira.

Montenegro, Salvador do Sul e Maratá cortam uso da frota

Medidas são reflexos da
paralisação dos caminhoneiros

A gasolina está em falta no posto que fornece combustíveis à Prefeitura de Montenegro. A Administração notificou a empresa por não ter se prevenido quanto ao estoque destinado aos setores públicos. Para reduzir os reflexos da falta do produto, com foco nos atendimentos de saúde, o uso de veículos só ocorre em casos de extrema necessidade.

Nesta sexta, em Salvador do Sul e em Maratá, as prefeituras a paralisam veículos e equipamentos nos setores da Administração, Cultura, Agricultura, Obras e Assistência Social. Somente os serviços essenciais, como saúde e educação, estarão com a frota em operação normalmente. A paralisação é somente dos veículos, também para preservar o nível de combustível, uma vez que não há informação de quando será retomado o abastecimento.

A medida dos prefeitos é uma adesão à paralisação sugerida pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). Dos 497 municípios do Estado, 373 teriam aderido ao movimento. Neste sentido, a orientação da entidade é que os municípios façam uma paralisação por um dia, considerando os preços abusivos praticados, o corte do repasse da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-combustíveis) aos municípios e em apoio aos caminhoneiros, que estão em greve há três dias.

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