Paixão xavante vai além das quatro linhas do campo

Torcedor do Brasil de Pelotas, Oscar Bessi Filho fala sobre a história, as injustiças e o encantamento pela equipe

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Bessi sonha em ir ao estádio com mais frequência quando se aposentar. Fotos: arquivo pessoal Oscar Bessi Filho

O futebol é paixão nacional e movimenta milhões. Disso, todo mundo sabe. Porém, onde surge esse vínculo de amor aos clubes e ao esporte que fez do Brasil o “País do Futebol”? Para o Capitão Oscar Bessi Filho, 47 anos, essa paixão iniciou na frente da televisão, no início da década de 1980. Entretanto, diferente da maioria dos gaúchos, que escolhe Grêmio ou Inter para torcer, Bessi adotou o Brasil de Pelotas, time do Sul do Estado.
O xavante não é nenhum gigante do futebol brasileiro, mas tem uma torcida apaixonada e foi exatamente isso que chamou a atenção do porto-alegrense Bessi que, na época, já residia em Montenegro. “Sempre gostei muito de futebol, a família da minha mãe é de Pelotas. A paixão não tem uma lógica. No início da década de 80, assisti a um jogo do xavante na TV. A torcida e a combinação do uniforme, das cores… Pintou um clima ali, então comecei a acompanhar o Brasil”, recorda.

Quando adolescente, Bessi gostava de brincar de jogo de botão. Como não havia o Brasil de Pelotas nas opções, o torcedor resolveu criar seus próprios botões do xavante. No Ensino Médio, existia até um espaço para os torcedores da equipe rubro-negra em sua sala de aula. “No São João Batista, tínhamos um cantinho xavante no fundo da sala. Eu e o Everton Santos, do grupo Renascença. Éramos nós e mais ninguém os torcedores do Brasil”, conta.

Como nem tudo no futebol é alegria, Bessi não se esquece dos dois casos em que acredita que o xavante foi prejudicado. “São duas injustiças. Em 85, o Brasil foi terceiro colocado no Campeonato Brasileiro e, no ano seguinte, a CBF colocou nosso time na segunda divisão. A outra ocorreu em 2009, ano da tragédia que vitimou três membros do clube, entre eles o ídolo Cláudio Milar. O xavante teve jogos do Gauchão de dois em dois dias, o time abalado completamente. Fomos rebaixados”, lamenta.

A tragédia ocorrida com o ônibus da equipe em janeiro de 2009 comoveu o País. Nos anos seguintes, o Brasil de Pelotas disputou a divisão de acesso do Campeonato Gaúcho. A reconstrução do clube vem acontecendo aos poucos, mas hoje o xavante é um time solidificado na elite estadual e que vem fazendo boas campanhas na Série B do Brasileirão.

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O Capitão já levou seu filho mais novo ao Bento Freitas, mas o pequeno escolheu torcer para o Grêmio

A maior conquista da história xavante completa 100 anos em 2019: o título da primeira edição do Campeonato Gaúcho. O feito quase centenário motiva ainda mais o torcedor para os próximos desafios. “Os títulos do xavante são poucos, mas as histórias são muitas. Não foi fácil (a reconstrução do clube), mas sabia que ia acontecer. Essa torcida merece. É um ano para o Brasil sonhar. Se continuar com Clemer (técnico), o xavante tem chances de subir para a Série A. Levamos muita fé”, afirma Bessi.

Além da torcida apaixonada, que sempre faz sua parte, o Brasil contou com gestões de qualidade e bons treinadores para recuperar seu espaço no cenário estadual e nacional. “Tem muito da gestão nesse processo. O Rogério Zimmermann (ex-treinador) foi importante. O Clemer é fundamental, tem feito um trabalho tático fantástico e mostra identificação com o clube nas redes sociais. A diretoria tem uma visão muito interessante, uma visão social muito bacana”, resume.

“É uma mistura de encantamento com resistência”, diz Bessi
Sócio-colaborador do xavante, Bessi coleciona objetos da equipe em casa, em seu escritório e revela que tem rituais para assistir aos jogos. “Sou muito supersticioso. Tenho que usar a minha camisa da sorte, e a bandeira tem que estar junto. Às vezes, quando não tenho nada para fazer em casa, vejo vídeos de gols e da torcida”, conta.

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O escritório e a casa de Bessi são decorados com objetos do xavante

A distância entre Montenegro e Pelotas não permite que o torcedor esteja presente no Bento Freitas em todas as partidas. Apesar disso, Bessi não deixa de acompanhar o seu time do coração. “Assisto aos jogos pela TV, escuto no radinho. Quando estiver aposentado, quero ir ao estádio com mais frequência. Meu sonho é comprar uma casinha no Laranjal e ir direto ao Bento Freitas”, ressalta.

Quando o Brasil de Pelotas não joga, o Capitão torce para o Inter. No entanto, quando os dois clubes se enfrentam, o apoio vai para o rubro-negro. “Torcer para um time do interior é muito legal, tem mais paixão, mais dificuldade e dá mais graça. A festa do Brasil é quando os jogadores entram em campo. O futebol, por essa essência, devia ser democrático. Quem torce para uma equipe do interior acaba sendo um resistente do futebol democrático. É uma mistura de encantamento com resistência”, destaca Bessi.

Um dos jogos mais emblemáticos da história xavante foi disputado antes mesmo de Bessi nascer, mas o torcedor de 47 anos já leu muito sobre o duelo. Em 1950, o Brasil de Pelotas enfrentou a seleção do Uruguai em um amistoso, três meses antes da Copa do Mundo daquele ano, vencida justamente pela Celeste. O confronto aconteceu em Montevidéu, onde os uruguaios se preparavam para o mundial. O xavante não se intimidou e venceu o duelo por 2 a 1.
O Capitão possui várias camisas do Brasil de Pelotas em seu guarda-roupa. Porém, a primeira camiseta do xavante que Bessi teve na infância não está junto com as outras, por um motivo inusitado. “Um dia, minha avó lavou a camiseta e inventou de passar, só que acabou estragando. Eu gostava muito daquela camisa, era a minha primeira do Brasil. Depois disso, nunca mais passei uma camiseta de time”, brinca.

Sobre a violência nos estádios e os episódios recentes que aconteceram no clássico Gre-Nal do último domingo, Bessi enfatiza que não é uma tarefa fácil controlar brigas entre torcidas em jogos de grande público. “Existe em clássicos do profissional, no interior, em jogos do futebol amador, em tudo. É o que chamamos de comportamento de massa. Uma pessoa jamais faz sozinha o que faz em grupo. Já trabalhei em Gre-Nal que deu briga. Passamos trabalho, é sempre muito complicado. Quando existe o tumulto, fazemos o máximo para evitar os conflitos, mas é muito difícil”, relata.

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