Paixão e tradição se unem na velha arte da cutelaria

Parte da cultura gaúcha, a produção de facas artesanais virou hobby para um montenegrino encantado pelo ofício

Em um cantinho na garagem de casa, a música baixa com letras tradicionalistas evidencia que ali mora um gaúcho de quatro costados. É o montenegrino Renato Westhauser, 40, que transformou o lugar em uma cutelaria e se tornou um guardião desta velha tradição.

Para produzir os cabos das facas artesanais, Renato Westhauser aposta em cabos de materiais reciclados

Entre as facas produzidas carinhosamente por ele, vivem lembranças de um tempo em que ser cuteleiro era um sonho. “Quando criança, lembro que enquanto meus amigos brincavam de carrinho, eu me divertia de outra maneira e, desde aquela idade, já tinha fascinação por essa arte”, explica Westhauser.

Com o tempo, a admiração pela cutelaria aumentou. “Comecei afiando as minhas facas e as dos vizinhos, mas fui procurando me aperfeiçoar sobre a técnica e tomei coragem de aprender aos poucos”, afirma.

Há três anos, o artesão abriu a oficina, anexa a sua residência, e começou a produzir as próprias facas, o que se tornou uma realização a cada peça concluída. Para ele, além de fazer algo que funciona como terapia, a cutelaria preserva uma tradição gaúcha importante para a identidade cultural do Rio Grande do Sul. “Os cuteleiros estão presentes na história da nossa terra, por isso, a fabricação de facas fascina tanta gente”, revela o montenegrino. “São os detalhes e a forma como tudo é feito que torna a cutelaria tão especial para nosso Estado”.

algumas das facas produzidas pelo cuteleiro montenegrino

Entre os modelos já produzidos por Westhauser, fica fácil perceber o capricho e a dedicação. Cabos de madeira, de osso, de chifre, com detalhes em metal prata e dourado transformam facas em obras de arte. O importante, explica o cuteleiro, é ter muita criatividade e valorizar as possibilidades do trabalho artesanal.

“Ainda não vendo as que produzi, faço isso por amor e por gostar de todos os passos que envolvem esse processo de produção”, conta o cuteleiro. “Perdi as contas de quantas já fiz, mas todas para amigos e familiares, sem fins lucrativos, e em um futuro não muito distante pretendo trabalhar só com isso”, anuncia Westhauser.

Em um canto da oficina, um mostruário com algumas das peças produzidas pelo artesão chama atenção pela riqueza de detalhes. “Cada faca tem algo especial, tanto no material bruto quanto na finalização”, salienta. Embora tenha toda a estrutura que uma cutelaria necessita e tenha fabricado diversas peças, o montenegrino deseja se aperfeiçoar ainda mais.

“Tudo que aprendi foi pesquisando, buscando conhecer o processo de produção, e a internet ajudou bastante nesse sentido. Porém, para me considerar realmente um profissional da área, desejo buscar mais formação técnica, porque conhecimento nunca é demais”, destaca o artesão, feliz com seus resultados.

Cutelaria e reciclagem caminham na mesma direção
Cultivar a cultura gaúcha através da cutelaria é a forma que o montenegrino Renato Westhauser encontrou para expressar sua paixão pelo Estado. Para fazer diferente, na produção das facas, ele tenta usar matéria-prima resultante de reciclagem. “Busco aproveitar peças de ferro velho, madeiras de demolição, serras antigas e tudo que posso contribuir positivamente com o meio ambiente”, destaca o artesão.

Atualmente, o processo de fabricação de uma faca feito pelo montenegrino dura, em media, 10 horas. “As peças são feitas a partir de discos de arado, já que a qualidade dessa matéria-prima é muito superior e possibilita um resultado melhor”, explica Westhauser. “Quando finalizo uma, fico eufórico, é uma realização”, conclui.

Tradição que encanta
No dia a dia, Renato Westhauser conta que o processo de produção de faca encanta a todos, independente da idade. Durante os churrascos de família, alguns parentes e conhecidos chegam a pedir que ele mostre um pouco da cutelaria, e, assim como ele, ficam fascinados pela arte. “Eles ficam olhando atentamente os diferentes passos de fabricação, e quase todo dia tem alguém pedindo para afiar faca e já fica por aqui observando”, comenta o artesão.

Uma forma que o montenegrino encontrou para difundir e preservar a arte da cutelaria foi doando algumas peças para eventos beneficentes. “Já doei uma peça para ser leiloada e pretendo fazer isso novamente. É gratificante ajudar as pessoas com aquilo que amamos fazer.”

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