“Paciente Covid-19”: foto de cadáver com cartaz vira caso de polícia

INVESTIGAÇÃO. Hospital Montenegro quer apurar autoria de imagem que circula em grupos no WhatsApp

Uma foto tirada de um cadáver nas instalações do Hospital Montenegro 100% Sus (HM) passou a circular em grupos de WhatsApp na última sexta-feira, dia 18. A imagem mostra um corpo embalado e, sobre ele, um cartaz com a frase “Paciente Covid-19”. A foto foi gerada em um local de acesso restrito e agora a direção do hospital quer apurar a autoria da ação.

Conforme o diretor do Hospital Montenegro, Carlos Batista da Silveira, o corpo deu entrada no setor no dia 17. A embalagem do cadáver seguiu as determinações do Ministério da Saúde para casos suspeitos de contaminação por Covid-19, o que contempla a colocação de um cartaz com a frase “Paciente Covid-19”. O que não significa afirmar que a morte tenha ocorrido em decorrência do coronavírus, até que se tenha a comprovação laboratorial para isso. No dia seguinte, o hospital recebeu o laudo do exame da vítima falecida, feito no Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen), que atestou resultado negativo para a doença.

Contudo, a foto já estava circulando e gerando comentários de que o HM está escondendo casos de Covid-19, o que é negado pela direção do hospital. “Não tem como o hospital esconder nada. O resultado do exame chega para a Vigilância Sanitária do município. Ela entra em contato com a família, ou com o próprio paciente, e só depois comunica o hospital ”, explica Carlos.
O local onde o corpo foi fotografado é de acesso exclusivo às duas funerárias da cidade e aos funcionários responsáveis pela sala. Um registro de ocorrência policial foi feito na tarde dessa segunda-feira, 20, para que a Polícia Civil abra investigação sobre o caso. O delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil (1ª DP) de Montenegro, André Roese, informa que antes de se manifestar sobre o caso precisa analisar o boletim de ocorrência.

Segundo o Artigo 212 do Código Penal Brasileiro, o Vilipêndio a cadáver é crime, com previsão de detenção de um a três anos e multa. Vilipendio é toda forma de desrespeito ao ser humano sem vida e a exposição de imagens de cadáveres nas redes sociais é uma delas.

O HM também tomará providências internas para tentar esclarecer a situação. O assunto fez parte de uma coletiva de imprensa organizada pelo Hospital para tratar sobre outra situação envolvendo um óbito registrado no sábado, 18.

O que diz o HM sobre testes de Covid-19
O Hospital Montenegro não tem testes rápido para coronavírus, exceto para casos em que servidores tenham tido contato com pessoas positivadas, como ocorreu com uma funcionária do HM. “Os testes rápidos são disponibilizados pelo Ministério da Saúde, exclusivamente, para funcionários que tiveram contato com pessoas com caso positivado. Mediante a Vigilância Municipal, a gente consegue esses testes rápidos para testar os funcionários ” , explica Carlos Batista.

O enfermeiro de controle de infecção Diogo Bonine relata que até o momento o HM realizou 29 coletas de exames, 18 delas feitas em funcionários, um apresentou resultado positivo. Em pacientes foram 11 coletas e um resultado positivo. Ambos os pacientes diagnosticados com a doença, a funcionária do HM e uma moradora de Tupandi, já são consideradas curadas.A funcionária do hospital, que estava em isolamento domiciliar, retorna ao trabalho nesta terça-feira, 21.

O infectologista do HM, Antônio Rosa, acrescenta que os testes só são realizados quando o paciente se enquadra na descrição do protocolo do Ministério da Saúde e que estejam internados.

Adriana Izabel de Brito de 44 anos faleceu no sábado, dia 18

Morte de mulher com problema respiratório, sem ter feito teste de Covid-19, revolta irmã
A morte de Adriana Izabel de Brito de 44 anos levou a irmã dela, Paula Kerber, a procurar a imprensa e fazer uma live no Facebook desabafando sua insatisfação ao fato da irmão não ter sido submetida ao teste de coronavírus. “Há mais de uma semana minha irmã vinha se queixando de falta de ar e febre. Ela sempre sofreu de asma, mas não era tão grave para causar óbito”, comenta Paula. “Minha irmã procurou o hospital uma semana atrás com os mesmos sintomas, não foi uma vez só. O que me causa revolta é que não estão enquadrando falta de ar como sintoma de Covid-19. Por que não fizeram teste rápido nela? Por que não colocaram respirador?”, questiona Paula.

O diretor administrativo do Hospital Montenegro, Carlos Batista da Silveira, diz que Paula não está falando a verdade em relação à irmã ter procurado o HM há poucos dias. “O último registro de atendimento que temos dessa paciente é do dia 12 de junho de 2019, no ambulatório cardiológico. Foi algo muito enfatizado no vídeo que ela teria estado no hospital várias vezes, inclusive na última semana, mas isso não procede”, afirma Carlos.

Conforme a equipe do HM, Adriana foi socorrida pelo Samu, já em estado grave, e encaminhada ao hospital. O diretor clínico, Jean Ernandorena, assegura que a paciente passou por processos minuciosos de avaliação médica e que não apresentou sintomas de Covid-19. “Está registrado no boletim de atendimento do Samu que no domicílio ela já encontrava-se em estado grave. Estava hipertensa e respirando rápido. Quando chegou ao setor de Emergência se confirmou que era uma paciente entre a vida e a morte”, diz o médico.

“Não existe nada sendo escondido. A paciente foi avaliada, não se encaixava no protocolo de coronavírus. Foi feita uma avaliação detalhada e o julgamento da equipe médica foi que não era um caso suspeito de infecção pelo novo coronavírus. Com isso, se explica por que não foram coletadas as sorologias”, acrescenta o diretor clínico.
O óbito de Adriana foi certificado como causa desconhecida, o que também gerou questionamentos por parte de Paula. Jean Ernandorena explica que existe um perfil de pacientes que chegam em estado crítico para atendimento, e não se consegue determinar a causa direta da doença. Nesses casos, conforme o Conselho de Medicina, é atestado como causa desconhecida.

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