Material em apoio ao pré-candidato à presidência, próximo à antiga Madeireira Montenegrina, gera reações opostas
Com o símbolo de vitória e a bandeira do Brasil compondo a imagem, um outdoor em apoio ao pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL-RJ) dividiu opiniões no último final de semana, em Montenegro.
A instalação do material, localizado na rodovia RSC-287, próximo à antiga Madeireira Montenegrina, chamou atenção da população, o que resultou em uma grande repercussão nas redes sociais, com diversos compartilhamentos e inúmeros comentários sobre o caso. Com a frase “Montenegro – Cidade das Artes – apoia Bolsonaro”, algumas pessoas saíram em defesa da ação, que segundo eles, foi vista como o exercício pleno do Estado Democrático de Direto. Por outro lado, uma parcela da comunidade declara que faltou bom senso e legitimidade na afirmação que o apoio ao candidato contempla a opinião de todo o município.
À frente do grupo pró-Bolsonaro em Montenegro está a enfermeira Camila Caroline de Oliveira, também responsável pela instalação do outdoor. Ela conta que ficou surpresa com a grande repercussão do caso e destacou o apoio fundamental de alguns empresários e da sociedade civil que contribuiu voluntariamente para a colocação do material.
“A ideia partiu de mim e de um colega, também apoiador do Bolsonaro. Fizemos um grupo de whatsapp e lá decidimos realizar um levantamento de fundos para o outdoor, buscando apoio do empresariado e de várias pessoas que se dispuseram a ajudar”, disse a enfermeira, acrescentando que a resposta foi tão positiva, que no caixa já há recursos para a instalação de mais dois outdoors a serem colocados na cidade de Pareci Novo e Triunfo.
Para o publicitário Gerson Kauer, houve excessos por parte do grupo que comprometeu a autenticidade da ação.
“Como profissional de comunicação, vejo que a mensagem usada no outdoor passa uma ideia que induz o entendimento de que toda cidade está apoiando esse candidato. Em tempos de fake news [notícias falsas] e manchetes que distorcem fatos, fazer uso de expressões que induzam a interpretações erradas é contribuir para que essa prática infame se perpetue”, declara Kauer. “Não tem nada a ver com o candidato, mas como a mensagem foi redigida”.
Sobre as reações contrárias à ação do grupo pró-Bolsonaro, a enfermeira agradece e destaca a importância da diversidade de opiniões que colaboraram com a divulgação da mensagem. Quando questionada sobre legitimidade das informações contidas no material, Camila disse se tratar de “uma frase de impacto para chamar atenção da população para o momento político”.
Na visão do estudante de artes e montenegrino Tiago Martinelli, faltou a participação da população para que fosse colocada tal afirmação em nome do município. “Eu sou morador de Montenegro e estudante da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e afirmo que não houve uma consulta para colocar esse outdoor falando em nome de toda a cidade”, lamenta Martinelli.
De acordo com o barbeiro Vladi Boeira, também apoiador do pré-candidato à presidência, as reações opostas já era algo esperado. “Todas as manifestações contrárias fazem parte do processo, mas às vezes é melhor ficar quieto e deixar as pessoas pensarem que você é um idiota do que abrir a boca e dar a certeza a elas”, comenta Boeira.
O que dizem as manifestações nas redes sociais
Nas redes sociais, um antagonismo tomou conta das publicações. De um lado, pessoas que se sentiram representadas pela iniciativa do grupo com a instalação do outdoor. De outro, críticas à ação, que foi compreendida como ilegítima, por não ter a participação da comunidade em geral.
Veja alguns comentários do grupo do Facebook Tribuna Livre Montenegrina, onde a discussão teve grande repercussão:
Propaganda eleitoral antecipada?
Um dos pontos mais discutidos diante da instalação do outdoor em apoio ao pré-candidato é sobre se tratar de uma possível propaganda eleitoral antecipada, o que se configura como crime. Para o chefe do Cartório Eleitoral de Montenegro, Diego Bonato Coitinho, há entendimentos diversos sobre o assunto, mas segundo ele, o que não pode, de forma alguma, é conter pedido de voto no material.
“Alguns juízes, em outras decisões, consideraram mesmo sem o pedido explícito de voto, como antecipação de campanha. Porém, cabe ao juiz responsável analisar o caso concreto e verificar se esse outdoor em questão tem ou não elementos que caracterizam propaganda eleitoral irregular”, explica Bonato. Até o meio-dia desta segunda-feira, nenhuma denúncia contra a propaganda havia sido protocolada no cartório local.
Caso a situação se configure como crime eleitoral, os responsáveis podem responder por propaganda eleitoral antecipada com multa que varia entre R$ 5.000, 00 à R$ 25.000,00. No caso do uso de outdoor para essa finalidade, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o valor fica entre R$ 5.000,00 a R$15. 000,00.