Estamos em Setembro, o mês em que aflora o orgulho de ser Gaúcho. No dia 20, esse sentimento sai às ruas em forma de festas, bailes e desfile a cavalo que lembram as colunas de Bento Gonçalves e Antônio de Souza Neto.
Mas o tradicionalismo não está vivo apenas devido aos livros, danças e às pilchas que caracterizam o nosso povo. Está vivo graças a dedicação de mulheres e homens que fazem desta cultura, seu dia a dia. É impossível separá-los da tradição, pois são a personificação assumida do riograndense. São peões e prendas que vivem aquilo que os outros chamam de história.
Mas o que é o sentimento tradicionalista? Para quem está diariamente ligado aos DTGs e CTGs, o amor à tradição é inexplicável. “O sentimento de ser tradicionalista vai muito além de qualquer palavra”, garante o peão do CTG Estância de Montenegro, Paulo Augusto Petry. “Com certeza o tradicionalismo está presente na minha vida, independente da época do ano”, concorda a prenda do DTG Acácia Negra, Inês Regina Vicente.
“É sobre conhecer a nossa história”
A prenda Inês Regina Vicente, 18 anos, está há 11 anos no tradicionalismo. Integrante do DTG Acácia Negra, ela conheceu o movimento através de uma colega da escola, aos sete anos.
“Nesses 11 anos, o DTG está presente ativamente na minha vida, contribuindo na minha educação e princípios, me dando responsabilidades, me ensinando a trabalhar em equipe e entre outros valores que ajudam na minha formação pessoal e até mesmo profissional”, avalia a dançarina.
Após o ingresso dela no DTG, outras pessoas da família também conheceram a entidade e hoje também participam. “Me orgulho em saber que contribuí para estarmos nesse mundo do tradicionalista”, conta Inês. “Tenho um grande amor pela minha entidade e pela dança que andam lado a lado com a tradição gaúcha”.
Para ela, o tradicionalismo vai além dos costumes como a dança, o mate e o churrasco. “É sobre conhecer realmente a nossa história e fazer com que hábitos que deram início a nossa tradição, estejam presentes no nosso cotidiano”.
Tradicionalista de berço
Nascido em uma família tradicionalista, Paulo Augusto Petry, 19 anos, vive os costumes antigos em seu dia a dia. “Meus pais eram integrantes do grupo de dança Estância do Montenegro quando começaram a namorar. Eu e minhas irmãs nos criamos dentro dessa entidade”, conta.
Na invernada artística do Estância, Paulo Augusto ficou durante 15 nos. Ele dançou Chula durante seis anos e se interessou pela música após um problema nos joelhos. “Hoje eu concorro nas individuais com a música”, conta. Aos 13 anos, Paulo Augusto ganhou seu primeiro cavalo e começou a participar do departamento campeiro do CTG laçando e em cavalgadas.
Apesar de ter parado de chulear, Paulo Augusto continuou dançando pelo CTG. Durante 15 anos, ele subiu ao palco representando a entidade tradicionalista. A saída dele ocorreu esse ano. Mas nem por isso o peão deixou de participar da entidade. “Em 2015 eu concorri a peão do CTG e ingressei no departamento cultural”. Ele foi para o concurso da 15ª Região Tradicionalista e ficou em segundo lugar. “Pretendo concorrer novamente para a Região”, conta.
Além de participar de CTG, ele compõe e toca músicas nativistas em bares e restaurantes e escolheu, para si, uma profissão que o permite continuar cultivando as tradições: medicina veterinária. Seu objetivo é trabalhar com animais de grande porte. “Eu vou estar direto com produtores rurais, com famílias que moram afastadas dos grandes centros, são pessoas que trazem uma bagagem de costumes e hábitos muito antigos. O tradicionalismo também está nisso”.
O tradicionalismo, segundo o peão, se constrói no dia a dia. “Uma pessoa que se diz tradicionalista é uma pessoa que vive a tradição, vive o costume antigo do seu lugar”. E se engana quem pensa que a tradição tem a ver com negar a modernidade. “É um pensamento errôneo esse de que o tradicionalismo vai contra a modernidade”, garante Paulo Augusto. “Hoje, eu tenho a oportunidade de conversar com compositores argentinos, e de outras regiões do Rio Grande do Sul trocando letras de músicas nativistas por conta da modernidade. É uma das formas que a gente encontrou, dentro da globalização, de manter viva a cultura do Rio Grande do Sul”, exemplifica.