Solução. Assinatura do convênio entre Prefeitura e EGR mobilizou lideranças políticas e comunitárias no Legislativo
O presidente da União Montenegrina de Associações Comunitárias (Umac) e interino da Associação de Moradores do Bairro Panorama, Antônio Airton Quadros, ainda está com um pé atrás. Quer ver para crer. Até porque são cerca de 40 anos de espera, enrolação, acidentes e mortes. Mas ontem à tarde ele deixou a Câmara Municipal de Montenegro bastante esperançado, porque acabara de ver o prefeito Carlos Eduardo Müller, o secretário estadual dos Transportes, Pedro Westphalen, e o presidente da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), Nelson Lidio Nunes, assinarem um convênio que é considerado o pontapé inicial para resolver a insegurança da travessia urbana da RSC-287.
A projeto para construção de rotatórias deve, sim, diminuir o risco que principalmente os pedestres enfrentam ao cruzar a estrada estadual. “Imagino que vai melhor o fluxo de veículos e vai organizar melhor a circulação, mas ainda estamos receosos, porque foram várias idas e vindas, promessas e nada até hoje aconteceu.” Há, segundo ele, um trauma coletivo nos bairros que margeiam a 287. Sempre que se ouve a sirene de uma ambulância, as famílias logo pensam se não é um acidente envolvendo alguém próximo. “Para o pedestre, o ideal ainda é uma passarela. Nosso trabalho vai continuar.”
O presidente da EGR explica que o projeto arquitetônico, que prevê não apenas as rotatórias, mas também vias laterais, sistema de drenagem, movimentações de terra e recapeamento asfáltico deve ser concluído em até 90 dias, porque está na etapa final. Vencido este estágio, a estatal abrirá licitação que deve levar até dois meses e, em seguida, os trabalhos têm início. “O projeto executivo será realizado por etapas, de acordo com nossa disponibilidade de caixa. Mas daqui a menos de seis meses teremos máquinas e homens na pista”, anunciou Nunes.
Ainda não se tem uma projeção quanto ao valor que será aplicado na rodovia. O único custo já calculado é o do projeto arquitetônico, que sairá por cerca de R$ 360 mil. Desse total, a Prefeitura entra com R$ 200 mil, e a EGR, com R$ 160 mil. “Se não fosse o Município entrar com esse recurso e se não fosse a Câmara de Vereadores ter puxado esse debate, não estaríamos aqui hoje”, ressaltou Westphalen. Outro fator decisivo, disse ele, foi o reajuste das tarifas de pedágio, em setembro deste ano, porque sem isso a companhia não teria como investir na 287. É que a fonte de recursos para a obra em Montenegro será a praça de Rincão do Cascalho, na interseção das ERS-240 e 122.
Neste mês, um decreto do governador José Ivo Sartori tirou os sete primeiros quilômetros da 287 dos domínios do Daer e os passou à EGR. O trecho sob nova gestão inicia junto ao quilômetro zero, no trevo com a BR-470 e rua Buarque de Macedo, e se estende até a interseção com a ERS-411, estrada que leva a Costa da Serra e ao município de Brochier. Com relação ao mau estado da estrada, o presidente da EGR comentou que nos próximos dias já serão realizados consertos emergenciais.
Kadu: ato histórico fecha ano turbulento
A postura pública do prefeito de Montenegro, Carlos Eduardo Müller, o Kadu, ainda exprime a turbulência que 2017 foi no campo político e, consequentemente, nas finanças municipais, na prestação de serviços ao cidadão e na realização de obras. A assinatura do convênio ontem à tarde, porém, aliviou o quadro e, segundo o chefe do Executivo, sinaliza para um 2018 melhor para toda a cidade. “Esta notícia alenta, que acalma, que nos dá perspectivas. É o melhor presente que a comunidade montenegrina poderia receber nos últimos anos. Foi um trabalho de várias mãos, de dedicação, persistência e união.”
Em seu discurso, o prefeito citou nominalmente o vereador Joel Kerber e a chefe de gabinete da direção-geral do Daer, Mareli Vogel, em função do empenho persistente de ambos para costurar entendimentos políticos e vencer barreiras burocráticas dentro das repartições do Estado desde a metade do ano passado em diante. “É um tempo recorde”, elogiou. Na visão dele, as melhorias da 287 impactarão inclusive no desenvolvimento econômico local, até porque quem cruza pela rodovia fica com má impressão do município.
Kadu ponderou, ainda, que esse assunto foi um dos primeiros a recair sobre sua mesa assim que tomou posse, em agosto deste ano. Advertiu que não possui conhecimento técnico acerca de obras rodoviárias, de modo que, ao participar das reuniões em que se cogitou não apenas rotatórias, mas também sinaleiras, quebra-molas, viadutos, não arriscou dar palpite quanto à medida mais adequada. “Não adiantava nós e a comunidade darmos sugestão. Deixamos isto com a engenharia do Daer ou da EGR. E aí está esse belo projeto”, afirma.
O prefeito também acha importante que o projeto não coloca um ponto final na situação, pois toda a estrutura a ser construída poderá, posteriormente, ser mantida na hipótese da rodovia ganhar elevadas. Para ele, a novela em que se transformou a travessia urbana prova que parcerias dão certo, sim. “As siglas partidárias são importantes em alguns momentos, mas são ainda mais importantes quando estão unidas, por daí nascem resultados positivos como o de hoje. Em nenhum momento se olhou quem era quem, quem estava à frente. É um projeto coletivo entre Legislativo, Executivo e governo do Estado, mas pensado para algo maior, que é a nossa comunidade.”
Joel: “Estamos vendo a luz no fim do túnel”
Presidente da comissão pela restauração da RSC-287 e principal articulador montenegrino junto ao governo estadual, o vereador Joel Kerber (PP) salientou o empenho de todos os colegas da Câmara, do prefeito, do secretário Pedro Westphalen, do presidente da EGR, de integrantes do Daer e de membros da comunidade para que se chegasse a um denominador comum depois de décadas de tratativas.
Em seu discurso, ele recordou dos percalços ao longo da caminhada, dos debates inclusive “tensos” e até dos momentos em que cogitou desistir — tamanha era a dificuldade. “Hoje é um momento histórico para Montenegro, porque estamos começando a ver a luz no fim do túnel, depois de tantos anos de espera diante deste problema crônico. Dentro de poucos meses, teremos as obras começando”, enalteceu.
Lino Fantuzzi, representante da empresa ZXF Engenheiros Consultores, contou que o plano funcional, requisito para o processo licitatório, já está bem avançado e prevê não apenas as rotatórias, mas também a construção de vias laterais para separar o fluxo rodoviário do trânsito local. “As rotatórias serão fechadas para que os carros cruzem meia pista de cada vez. Nossa solução técnica visa agregar o máximo possível de segurança viária. É um projeto enxuto, bem pé no chão, com impacto no ordenamento da via e maiores condições de segurança para quem faz a travessia”, pontuou.