Ex-secretário de Saúde teve discussão com outros membros do alto escalão do governo
A saída de Rodrigo Streb da secretaria municipal de Saúde de Montenegro, anunciada na última semana, deixou diversas questões no ar. Em entrevista ao Estúdio Ibiá, o agora ex-secretário deu suas razões para o pedido de demissão. Segundo ele, a principal causa foi uma discussão com outros membros do alto escalão do governo, que o teriam acusado de assinar um documento que retiraria do Hospital Montenegro 100% SUS (HM) uma referência.
Conforme Streb, acusação surgiu após reunião no HM, no dia 4 deste mês, da qual participaram o procurador-geral do Município, Alexandre Muniz de Moura; o secretário Geral de Governo, Vlademir Ramos Gonzaga; e o diretor de Contratos e Convênios, Sílvio Kael. No dia seguinte, 5, ao se encontrar com o prefeito Gustavo Zanatta para tratar de outro tema, o ex-secretário foi questionado sobre a assinatura no suposto documento no qual se abriria mão do HM como referência em traumato-ortopedia.
“Eu disse: ‘olha, prefeito, tem um equívoco. Eu nunca assinei documento nenhum’”, afirmou o ex-secretário na entrevista. Após, Streb e Zanatta se encontraram com os outros três membros do alto escalão do governo que participaram da reunião no dia 4. “Começou uma discussão, eles duvidando de mim”, relatou Rodrigo. Os três citados negaram terem falado em assinatura em documento. Assim, para se defender, o ex-titular da pasta de Saúde acionou a coordenadora da 1ª Coordenadoria Regional de Saúde, Ane Beatriz Nantal.
Através dela, foi afirmado que não havia documento assinado e que também não cabia ao gestor municipal pactuar e contratar com o hospital sobre referências. “Isso é entre o prestador (HM) e o Estado”, reforçou Rodrigo. “Botamos o telefone no viva-voz e foi provado que eu não tinha assinado documento algum”, enfatizou. “Eu quero saber: quando eu assinei um documento que foi tirada uma referência que nunca existiu dentro do hospital?”, questionou o ex-secretário.
Conforme Ane, o Hospital Montenegro nunca foi referência para traumatologia. “Eles tinham consultas especializadas no contrato, mas não tem mais a pedido do próprio HM”, relatou a coordenadora. “Segundo a equipe técnica do HM me relatou, eles atendiam o paciente na porta e depois davam seguimento ao tratamento, o que não está previsto em contrato e já possuía referência definida”, acrescentou.
Vale ressaltar que no Estado ocorre a regionalização e reorganização das redes assistenciais – o que impacta as referências de atenção especializada. Tal reorganização está sendo feita pela Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e foi estabelecida pela resolução 50/2022 do órgão, tendo sua atualização mais recente na resolução 328/2022. Conforme o documento, o HM é referência em atenção materno-infantil para maternidade de risco habitual, ginecologia, cirurgia geral, gastroenterologia, infectologia e pediatria clínica e cirúrgica.
A referência de Montenegro para traumato-ortopedia são o Hospital São Camilo, em Esteio, e a Fundação Municipal Getúlio Vargas, de Sapucaia do Sul, para casos de média complexidade e o Hospital Universitário de Canoas e o Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, para casos de alta complexidade.
Problemas gerados por questionamentos ao HM, diz Streb
Segundo Rodrigo, ele só enfrentou resistência na sua gestão em frente à secretaria municipal da Saúde quando passou a questionar ações do Hospital Montenegro. “Eu perdi no braço de guerra para o HM”, diz. Ele ressaltou que o assessor jurídico da pasta, Marcelo Trindade, também pediu demissão por não concordar com a situação enfrentada. “O prefeito Zanatta sempre me deu carta branca. Vários projetos estavam sendo executados”, ressaltou Streb.
Rodrigo reforçou, ainda, que não era o seu desejo deixar a Administração Municipal, mas que optou por fazê-lo diante do ocorrido relatado. “Eu saio chateado porque eu saí contra a minha vontade, mas eu também tenho um nome a zelar”, afirmou e ressaltou que se prepara para voltar a atuar como advogado.
Sobre sua substituta, Andréia Coitinho da Costa, Rodrigo garantiu que a Saúde de Montenegro está em boas mãos. Andréia foi anunciada quinta-feira, 6. Ela é servidora pública e ocupava o cargo de chefe do serviço de supervisão das ESFs. A secretária é enfermeira e possui especialização em saúde pública, gestão em saúde e auditoria em saúde.
O que diz o Hospital Montenegro
O HM foi questionado sobre a realização da reunião do dia 4 de outubro e seu teor, bem como quais são as especialidades nas quais é referência. Através de sua comunicação social, confirmou que, de fato, participou de uma reunião com o Poder Executivo de Montenegro. “Convocação feita pelo Conselho Municipal de Saúde para tratarmos da Saúde Pública”, diz o texto.
A nota explica ainda que o HM 100% SUS é referência nas seguintes áreas: Ambulatório, com cirurgia geral; buco facial; Ginecologia; Gastro; Neurologia (AVC) e Fonoaudióloga. No Pronto Socorro atende casos de AVC para 14 municípios, incluindo prestando serviço ao Hospital Unimed (HUVC).
O que diz a Prefeitura
Segundo o Executivo, a reunião a que o secretário se referiu na entrevista à Rádio Ibiá Web foi agendada pelo Conselho Municipal de Saúde com o objetivo de debater problemas de atendimento no HM e busca de alternativas. “O prefeito Gustavo convidou o secretário Rodrigo, mas este achou melhor não ir e encorajou que outras pessoas da Administração fossem”, diz resposta a questionamento enviado pelo Ibiá à Prefeitura.
Conforme a Administração, durante o encontro foi informado que o HM não será mais uma opção para procedimentos de maior complexidade em traumatologia. O Executivo diz que os três representantes ficaram surpresos e preocupados. “Mas foi-lhes dito que o secretário Rodrigo estava a par da decisão, assim como outros dirigentes de Saúde das cidades da região. “Questionado pelo prefeito, o secretário da Saúde manifestou que nunca foi a favor da medida. Ao contrário do que disse na entrevista, Rodrigo não foi acusado pelos colegas de ter concordado com a medida”, diz a nota. Segundo a Prefeitura, o pedido de demissão do ex-secretário ocorreu em seguida, através de um memorando no sistema interno da Prefeitura.
Segundo o prefeito Gustavo Zanatta, diante da situação, a preocupação do Executivo passou a ser o transporte dos pacientes para outras cidades.
O que dizem os citados
Alexandre Muniz de Moura, procurador-geral do Município
“Primeiro tenho que referir que, até o momento da demissão, tinha o Rodrigo como um excelente colega. Na semana passada recebi o comunicado que minha presença tinha sido solicitada em uma reunião no Hospital Montenegro. Nessa reunião estavam presentes a diretoria do HM, diretor administrativo clínico e financeiro, dois advogados, eu, o secretário Geral e o diretor de Contratos, todos do Município. Também estava presente o presidente do Conselho Municipal de Saúde.
Iniciou-se a reunião com pedido do presidente de que o HM e o Município dialogassem sobre demandas de saúde. Foi falado sobre alguns pedidos formulados ao Município e por parte do HM foi referida a alteração de uma CIB. Esta CIB, segundo eles, alterou algumas referências no atendimento. Foi referido que isso afetaria os atendimentos de traumatologia. Foi referido que a CIB envolve o estado e as secretarias municipais.
Ao final da reunião, nos dirigimos ao Palácio e foi reportado ao prefeito o teor do encontro. Em nenhum momento foi referido por mim que o Rodrigo teria assinado nada. Afirmo de forma tranquila isso, pois jamais afirmei isso. Lembro que se tentou uma agenda com o Estado para averiguar isso. E depois me retirei do gabinete, pois já passava do meio dia.
No outro dia cheguei a comentar com o Rodrigo que havia sido mencionada essa CIB e ele também afirmou que desconhecia a mesma e que não assinou nada. Na quarta-feira à tarde, o Rodrigo me indagou sobre uma afirmação de que os participantes da reunião teriam o acusado de assinar um documento que alteraria os atendimentos de traumatologia. Como nunca disse isso e percebi que ele estava irritado, disse que iria ao gabinete do prefeito para afirmar que eu nunca citei seu nome.
Logo em seguida o Rodrigo chegou junto com prefeito e se fez uma reunião na qual, na presença do Rodrigo, reafirmei que nunca o acusei ou referi que ele assinou nenhum documento. Não tive acesso ao documento e nunca falei que vi sua assinatura. Repito, nunca o acusei e nunca referi nada sobre o documento, apenas quanto às afirmações do hospital a respeito do atendimento.
A notícia do pedido de demissão do Rodrigo foi vista por mim no grupo dos secretários municipais no WhatsApp, local onde ele publicou o pedido de demissão.”
Vlademir Ramos Gonzaga, secretário Geral de Governo
“A saída do secretário Rodrigo foi uma decisão pessoal e respeitamos. Porém, acho que ele se equivocou, pois em nenhum momento o acusamos de ter assinando este documento. Nós fomos convidados pelo Conselho Municipal de Saúde a participar de uma reunião no HM. Foi eu, o Silvio Káel e o Dr. Alexandre. Fomos na qualidade de ouvintes.
Lá, junto com várias ponderações do HM e do Conselho Municipal de Saúde, buscando um entendimento sobre porque o HM não recebe alguns pacientes. Foi colocado que, a partir deste mês, o HM deixaria de ser referência pra algumas especialidades (traumatologia, por exemplo). Ficamos surpresos, pois ninguém sabia. O HM disse que todos os secretários de saúde da região assinaram concordando, uma nova surpresa. Inclusive colocamos em dúvida se o Rodrigo tinha assinado. Em nenhum momento concordamos com a afirmação do HM.
Depois, em reunião no gabinete, o Rodrigo confirmou que não havia assinado o documento, que isso é uma decisão do Estado e que quem pediu pra deixar de ser referência foi o HM. Que foi em uma reunião onde ele não estava que foi decidido isso. Por nós e pelo prefeito estava esclarecido, por isso ficamos surpresos com sua saída. De minha parte desejo boa sorte ao agora ex-colega.”
Sílvio Kael, diretor de Contratos e Convênios
“A reunião no gabinete contou com a participação do prefeito, chefe de gabinete, procurador, secretário Geral e o gerente de Contratos e Convênios. Em nenhum momento o secretário foi acusado por qualquer um dos integrantes de ter assinado qualquer documento. A preocupação na verdade é única: o atendimento ao cidadão, já que o Hospital não seria mais referência e qual a estrutura que estaria sendo montada com relação ao deslocamento destas pessoas para outras cidades, que passam a ser referência em vários serviços por decisão estratégica do Estado.
Na verdade, quanto ao pedido de exoneração do secretário, meu entendimento é que a vontade do mesmo precisa ser respeitada.”