Consumidor tem questionado porque os reajustes nas refinarias demoram a chegar na cidade
A crise causada pela pandemia da Covid-19 limitou a circulação e, por tabela, o consumo de combustível em todo o mundo. A queda na demanda derrubou o preço do petróleo e, nas refinarias, a Petrobras promoveu sequências de reajustes nos valores de saída da gasolina e do diesel, que já acumulam um recuo de mais de 30%. Mas estas reduções têm demorado a chegar nos postos de combustíveis.
O assunto é tema de discussões nas redes sociais. É que, nos últimos dias, muita gente viu o preço reduzido em municípios como Novo Hamburgo e São Leopoldo; e também às margens da ERS-240, em Capela de Santana. Em alguns, a gasolina comum já beirava a casa dos R$ 3,00, enquanto, em Montenegro, o valor demorava a receber o reajuste.
Isso tem mudado. Ontem, o preço médio do produto nos estabelecimentos montenegrinos era de R$ R$ 4,20, mas no posto mais barato, o combustível já chegava a R$ 4,07. O que explica essa diferença?
Gerente de posto da cidade, Vitor Lopes cita a questão da gasolina já comprada que ainda está estocada no posto. “Quando tu tem muito estoque, só vai baixar (o preço) na hora em que a gasolina chegar”, coloca. Essa é a primeira resposta, também, de muitos economistas que acompanham a precificação do combustível. Com as medidas de isolamento social, as pessoas, no geral, estão abastecendo menos, então há uma demora maior na queima dos estoques até que seja feita a nova compra com o valor atualizado.
À frente de estabelecimento na Avenida Júlio Renner, em Montenegro, Lopes relata que, em alguns dias, a procura pela gasolina tem sido 50% abaixo do que o normal.
“Questão de fluxo”
Dono de posto na localidade de Costa da Serra, no interior de Montenegro, Fernando Reidel lembra de outro fator: a diferença de fluxo de veículos entre a sua localização e os municípios onde a redução chegou mais rápido. “Onde for uma rodovia de mais fluxo e com mais habitantes, eles vão conseguir vender mais e vão poder trabalhar com uma margem mais baixa”, coloca.
Em sua percepção, é injusto comparar a venda de um posto de Novo Hamburgo, com cerca de 245 mil habitantes, quando, em todo o Vale do Caí, onde Montenegro está inserido, a população não chega a 230 mil. “Não existe milagre”, coloca. “Na semana passada, eu paguei R$ 4,40 para a distribuidora e já tinha posto vendendo à R$ 4,19. Eu botei 10, 15 centavos, mas aí tu não paga funcionário, não paga as contas”. Como o posto de grande movimento vende mais quantidade, ele tem mais liberdade para não colocar tanto valor em cima do preço que pagou à distribuidora.
Reidel conta que, ao questionar o vendedor do seu combustível do porque o valor já não é mais baixo, também recebe a justificativa da dificuldade para a queima de estoque. “Eu tenho print das conversas. Todo dia, eu mando mensagem perguntando do preço”, lamenta.
O fator “fluxo” acaba pesando não apenas de um Município para o outro, mas de região para região, dentro de Montenegro mesmo. A gasolina às margens da RSC-287 custa, em média, R$ 4,099; na Buarque de Macedo, dentro da cidade, R$ 4,129; e na Avenida Júlio Renner, na Timbaúva, R$ 4,199.
“Questão de custo”
Em Montenegro, pelo menos três postos de combustíveis são de bandeira branca. Isso quer dizer que eles podem comprar de qualquer distribuidora, sem ficarem fixos ao Ipiranga, ao Shell e à BR, por exemplo. “E quem compra de todo mundo, pode comprar melhor”, analisa o gerente Vitor Lopes, que comanda um estabelecimento que tem bandeira fixa, assim como a grande maioria dos que operam na cidade. Ele salienta que cabe ao cliente analisar o custo-benefício da compra do produto “com marca”.
Um quarto fator é o balancear da precificação. Da mesma forma que um supermercado faz uma promoção no arroz, mas sobe um pouco o preço do feijão para compensar o custo, os postos de combustíveis com restaurante, loja de conveniência e venda de outros produtos podem compensar eventuais perdas com a gasolina em outras frentes.
Mas nem todos têm demanda ou capital para trabalhar com essas opções. “Cada posto, é uma situação”, pontua o empresário Fernando Reidel.