O País com que Heitor Müller sonhava não aconteceu

Fiergs. Montenegrino deixa o cargo hoje sem ver as principais transformações que esperava do Brasil ao assumir

Era 18 de julho de 2014. Cinco dias antes, o Brasil havia presenciado a Alemanha sagrar-se tetracampeã da Copa do Mundo, em pleno Maracanã. Heitor Müller tomava posse como presidente do Sistema Fiergs/Ciergs pela segunda vez consecutiva, no Teatro do Sesi, em Porto Alegre. Entre os dois mil convidados, a presidente Dilma Rousseff, o governador Tarso Genro e o prefeito da capital José Fortunati — líderes que não estão mais no poder (a primeira sofreu Impeachment, o segundo perdeu a eleição e o terceiro não pode concorrer por já ser reeleito).

Müller e seus pares da diretoria da Fiergs, na ocasião, tinham um mesmo sonho. “O Brasil que imaginamos é uma nação competitiva, livre das amarras da burocracia. Liberta de tantas cargas que se acumulam sobre os cidadãos e as empresas. Um país com infraestrutura moderna no seu sentido mais amplo. Um Brasil em que a previsibilidade seja a regra e que as intenções dos governantes se transfiram efetivamente para a prática”, dissera o montenegrino em seu discurso de posse três anos atrás.

O tempo passou e, na noite de hoje, o líder industrial passa o bastão ao sucessor, Gilberto Porcello Petry, 69 anos. Não se sabe o tom do discurso de despedida do montenegrino, mas a situação em que o País se encontra não deixa margem para muitas comemorações — exceto a recente aprovação da Reforma Trabalhista, que, na opinião dele, “moderniza e desburocratiza as relações do trabalho”.

Em suas manifestações públicas, o presidente da Fiergs defende veementemente a indústria e deixa claro que aposta no trabalho, até mesmo pelas suas raízes, como meio para o ser humano não apenas subsistir, mas principalmente progredir na vida. “Se deixamos de produzir, todos sabemos que o caminho natural da humanidade — sem produção — é a pobreza. Sonhamos com um país próspero, onde os cidadãos livres tenham poder de escolha para evoluir. Uma nação onde as opções de carreira profissional para os jovens não se limitem aos concursos públicos. Uma nação onde possam escolher entre boas propostas de emprego e excelentes programas de estímulo à criação de empresas”, declarou Müller, na posse em 2014.

De forma indireta, ele afirmou que a transformação do País não vai ocorrer mediante políticas sociais que dão o peixe em vez de ensinar a pescar, como o Bolsa Família. “Para nós, o melhor programa de evolução social que o Brasil pode dispor é o de alavancar um novo processo de industrialização do País. Onde há indústria, há crescimento, há futuro. Onde há indústria, há geração de renda e de oportunidades de evolução social.”

Outro ponto que ficou estagnado de lá para cá são as perspectivas para o País, que ainda não conseguiu superar a crise, ao contrário das previsões daquele momento, que esperavam bem mais de 2017. “Queremos que o Brasil e o Rio Grande do Sul deixem para trás as dificuldades e se transformem em territórios de oportunidades”, disse o montenegrino naquele 18 de julho. Por enquanto, nada disso aconteceu.

Saio feliz por ter conseguido mexer na educação do Sistema”
Apesar de nos últimos três anos o País não ter passado pela transformação desejada por Heitor Müller, ele deve deixar o cargo de presidente do Sistema Fiergs hoje com o sentimento de dever cumprido ao menos em relação àquelas questões que estavam ao seu alcance, ou seja, no âmbito da Federação e do Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul. No Sesi e no Senai, instituições que também dirigiu, as mudanças foram substanciais.

“Saio feliz por ter conseguido mexer com a educação do Sistema. Mostramos que é possível fazer coisas diferentes e conseguimos. Saio com o dever cumprido e grato”, destacou, na última semana, em evento dos conselhos regionais do Sesi e do Senai — ocasião em que foi homenageado.

Montenegro entende bem o que ele quis dizer, porque inaugurou aqui, em fevereiro deste ano, a moderna Escola de Ensino Médio do Sesi, na rua Campos Neto. Mesmo projeto foi executado em outros três municípios: Pelotas, Sapucaia do Sul e Gravataí. O montenegrino está por trás dessa mudança do foco da instituição, que se voltou para uma educação que prioriza a formação para o mundo do trabalho.

Escola do Sesi em Montenegro e em outras três cidades é resultado de uma transformação proposta pela gestão Heitor Müller à frente da Federação foto: Arquivo/Jornal Ibiá

O novo presidente
A partir hoje, o Sistema Fiergs/Ciergs passa a ser presidido pelo industrial Gilberto Porcello Petry. A posse para a gestão 2017/2020 acontece a partir das 20h, mas antes, às 15h, o novo dirigente concede coletiva de imprensa. Diretor presidente da Weco Indústria de Equipamentos Termo-Mecânicos, de Porto Alegre, Petry também participa como dirigente ou conselheiro de mais quatro empresas no Rio Grande do Sul. É formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Ciências Econômicas e Administração de Empresas.

Em 1990, passou a integrar as diretorias da Fiergs e, desde 2005, é vice-presidente da entidade. Coordenou, a partir de 1993, cinco conselhos temáticos nas áreas técnicas de Relações do Trabalho e Assuntos Legislativos. É também delegado representante da Fiergs junto à Confederação Nacional da Indústria (CNI). Desde 2001, preside o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico e Eletrônico do Estado do Rio Grande do Sul (Sinmetal).

O Número
Heitor Müller presidiu o Sistema Fiergs por seis anos. A primeira gestão foi de 2011 a 2014 e, depois, de 2014 a 2017. A posse do sucessor dele, Gilberto Petry, ocorre hoje, dia 18, às 20h, no Teatro do Sesi. Mais cedo, às 15h, o novo presidente concede entrevista coletiva à imprensa.

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