O militar que trabalha para devolver a paz à África

Missão militar. Único policial da Brigada em Guiné-Bissau, capitão tem relação com o Vale do Caí

Uma realidade completamente diferente à encontrada no Rio Grande do Sul, mesmo em momentos de graves crises na segurança pública. O cenário hostil é apresentado por todos os lados. Até mesmo a estrutura de defesa da ordem institucional precisa ser colocada em prática. Este é o tamanho do desafio do capitão Wagner Wasenkeski, ou simplesmente capitão Wasenkeski, que há quase um ano e seis meses deixou o Estado para trabalhar em Guiné-Bissau.

Único policial militar gaúcho da atual Missão de Paz, o capitão — que passou parte da infância em Montenegro e é irmão da inspetora Veronica Wasenkeski, da Delegacia Regional do Vale do Caí — tem a companhia de outros três brasileiros membros do Escritório Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na África.

O seu tempo de serviço por lá foi acrescido de mais seis meses, depois de ter completado seis meses em fevereiro e ser agraciado com uma medalha.

Feliz pela oportunidade recebida, afinal diz realizar um antigo desejo pessoal, depois de atuar em trabalhos semelhantes, o capitão explica que o objetivo é colaborar para a reforma do setor de segurança, com planejamento e estabelecimento de estratégias de enfrentamento ao terror.

“É uma mudança de paradigmas da guerra em que a polícia atua para guarnecer as fronteiras e a ordem pública”, reforça o policial, filho de Estanislau Wasenkeski, comandante do 5° BPM na década de 80.

Entre as dificuldades encontradas está, por exemplo, a falta de uma academia para a formação de policiais. O resultado disso é a multiplicação de casos de corrupção. Para superar esta adversidade, o investimento do trabalho dos militares estrangeiros no país está em oferecer treinamento, formação, verificação de denúncias e riscos envolvidos, além, é claro, do policiamento comunitário.

Para o policial militar, esta parte da atividade guarda semelhança com o Programa de Enfrentamento e Redução do Uso de Drogas (Proerd), no Estado, em que o foco está nas crianças e adolescentes.

Com uma média de taxa de analfabetismo de 60% e expectativa de vida que mal chega aos 50 anos, a Guiné-Bissau convive com uma tensão política grande juntamente com saneamento básico precário, controle de doenças ineficiente e falta de higiene.

Para piorar ainda mais a situação, o povo daquele país lida com um iminente golpe de Estado. Com os militares fardados, e de prontidão, o perigo de todo o ministério do presidente em vigor é mais que uma simples ameaça e um fator para acirrar a tensão em um lugar onde quase tudo falta depois que o país conseguiu a independência de Portugal.

As dificuldades enfrentadas em um pequeno território
Na capital, Bissau, o militar permaneceu nove meses até ser transferido para uma pequena ilha, chamada de Bubaque, onde apenas 1.200 pessoas moram por lá, pertencente ao arquipélago de Bijagós. No local, ele se depara com o mais real sentido da palavra simplicidade, já que tudo é muito humilde. Banho de chuveiro, nem pensar. Uma canequinha é que garante a limpeza do corpo. Comida, apenas o que tiver para matar a fome.
A comunicação foi outra barreira a ser enfrentada. Como o idioma predominante é o crioulo, a língua portuguesa precisou ser deixada de lado para evitar o isolamento. Em Bissau, chegou a contrair malária, sendo curado depois de tratamento.

Na ilha, a missão do capitão Wasenkeski é o combate à corrupção, tráfico naval, drogas, refugiados, abuso infantil, afora reuniões e relatórios para as forças de segurança, como, por exemplo, a Capitania dos Portos. “É um trabalho amplo, feito por apenas por mim e um policial da Espanha”, revela.

Militar estabeleceu amizade com moradores de ilha

Eles são fãs de novelas, futebol… e Neymar
Apesar das dificuldades encontradas na capital e na pequena ilha, o policial militar diz que é a realização de um sonho acalentado desde pequeno. Isso que precisou trabalhar os três primeiros meses com a ameaça terrorista vinda de Mali e Sudão do Sul.

Nos momentos de folga, o capitão informa que busca exercer a humildade, especialmente ao ser obrigado a se afastar do que mais amava até então. A cultura local passou a ser desbravada, o carinho do povo local começou a servir de estímulo para vencer a distância, sem contar o interesse de desfrutar dos mesmos passatempos dos nativos. “Jogava futebol em um campo de pedra com eles, de chinelos, com um pedaço de bola”, ressalta.
Extrovertido, Wasenkeski procurou aprender o idioma do país para conversar com os moradores. O notebook era outro recurso importante para driblar a distância quilométrica.
Aliás, o equipamento é um grande chamariz de despertar a curiosidade, com muitos se reunindo na volta do militar.

O interesse deles está relacionado com as novelas brasileiras, e, é claro, o futebol. Neymar centraliza todas as atenções.

Apesar dos protocolos de segurança estabelecidos pela ONU, o oficial afirma que aprendeu a viver próximo deles, e na dor, no caso da malária, percebeu que independentemente de ser pobre ou não, se não tomar medicamento com o tratamento correto poderá ir a óbito.

Objetivo é formar estrutura de segurança, o que quase inexiste hoje

As dificuldades enfrentadas em um pequeno território
Na capital, Bissau, o militar permaneceu nove meses até ser transferido para uma pequena ilha, chamada de Bubaque, onde apenas 1.200 pessoas moram por lá, pertencente ao arquipélago de Bijagós. No local, ele se depara com o mais real sentido da palavra simplicidade, já que tudo é muito humilde. Banho de chuveiro, nem pensar. Uma canequinha é que garante a limpeza do corpo. Comida, apenas o que tiver para matar a fome.

A comunicação foi outra barreira a ser enfrentada. Como o idioma predominante é o crioulo, a língua portuguesa precisou ser deixada de lado para evitar o isolamento. Em Bissau, chegou a contrair malária, sendo curado depois de tratamento.

Na ilha, a missão do capitão Wasenkeski é o combate à corrupção, tráfico naval, drogas, refugiados, abuso infantil, afora reuniões e relatórios para as forças de segurança, como, por exemplo, a Capitania dos Portos. “É um trabalho amplo, feito por apenas por mim e um policial da Espanha”, revela.

Oficial contraiu malária durante estada na capital

O sentimento de dever cumprido
Atuar em uma Missão de Paz é a primeira oportunidade para o capitão Wasenkeski, mas está longe de ser algo inédito. Egresso do CLJ, o oficial nutria um desejo de fazer algo a mais ao próximo. Por isso, estreou neste tipo de função ao trabalhar em uma missão médica na Floresta Amazônica, em 2005. Em 2004, se alistou para colaborar na Indonésia, depois do país ter sido devastado pelo desastre provocado por um tsunami, em que 30 mil pessoas perderam a vida, mas não foi chamado. Além de fazer curso no Rio de Janeiro para aperfeiçoamento do inglês, tiro e direção policial, o capitão conversou com o tio, o militar Evaldo Vinicio Wasenkeski, que integrou o Batalhão de Infantaria no Rio de Janeiro, agraciado, inclusive, com o Nobel da Paz, em 1964, depois de prestar serviços no Canal de Suez.

Tamanha dedicação lhe rendeu o reconhecimento por parte dos superiores. Isso porque foi condecorado com uma medalha da Seção RS do Batalhão de Suez pelo bom trabalho prestado em serviços especiais para a ONU.

Terrorismo é uma preocupação constante
Como o país africano tem como vizinhos a Gâmbia e o Senegal, o capitão destaca que um dos grandes temores é com o terrorismo — daí a necessidade de se fazer um planejamento estratégico para evitar ações deste tipo.

Células da organização Al-Qaeda são acompanhados de forma permanente para que não se infiltrem no país, aproveitando a carência de toda a ordem no Guiné-Bissau.
“É um inimigo próximo, mas nossa missão é não deixar que eles se criem e expandam a atuação no país. O Guiné é um país muçulmano e o islamismo é a principal religião”, pontua.
A intenção princé monitorar e coibir qualquer atuação deste tipo de grupo.

Um lugar onde até o básico é difícil
Com a fronteira do país fechada, necessidades básicas viram drama. Água não chega, açúcar de fora não entra, comida significa peixe graças ao arquipélago de 88 ilhas em que está inserido Bubaque. Maior produtor de castanha de caju da costa oeste africana, a Guiné não consegue exportar seus dois principais itens. O peixe vem junto com a castanha. Arroz, manga e hortaliças são as demais culturas produzidas.

E isso que o país foi abençoado pela natureza. Lugares paradisíacos podem ser encontrados por lá, mas a organização governamental não aproveita, pontua o militar. Com pouco gado bovino, o PIB do país é baixo e se não fosse a ajuda de parceiros internacionais, a situação poderia estar ainda pior. “A corrupção é muito alta, tem extorsão, e tudo eles querem cobrar taxas.”

Com um cenário desses, fazer a reforma do setor de segurança não é nada fácil. Estruturas de cadeias, delegacias de polícia, viaturas policiais e fardamentos não existem.

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