Reservado, fã de música gospel, responsável e campeão nato. Este é Márcio Rodrigues, atleta de 34 anos que atua pela Academia JA Jiu Jitsu. Ele encerra 2017 com uma inédita lesão muscular na coxa, mas cheio de medalhas no peito e lembranças da temporada mais vencedora de sua carreira. O lutador realmente teve um ano especial, com mais títulos conquistados do que campeonatos disputados.
A paixão pelas artes marciais surgiu no ensino fundamental. Único da família neste meio, ele tinha o costume de prestar atenção nas aulas de capoeira da sua escola. No entanto, só ingressou no esporte mais tarde, aos 12 anos. Sem condições financeiras, o começo da trajetória de Márcio nas artes marciais não foi nada fácil. Fã das lutas, ele praticou capoeira por oito temporadas. Depois, fez dois anos de muay thai e teve que parar para se dedicar ao trabalho e também para cuidar de seus filhos.
Foram três anos longe dos tatames. A ausência da prática esportiva, porém, deixou Márcio incomodado. “Sempre gostei e estive envolvido com as artes marciais. Parei por uns três anos, mas sentia cansaço para subir uma escada e vi que precisava voltar a praticar esporte. Como futebol não é minha área, analisei, escolhi o jiu jitsu e me apaixonei”, conta.
O lutador foi pai pela primeira vez aos 16 anos de idade. Hoje, tem três filhos e um enteado. Para ele, o fato da responsabilidade ter batido em sua porta cedo fez bem para seu crescimento como pessoa e atleta. “Tive que começar a trabalhar cedo e ter a responsabilidade para criar meu primeiro filho. O amadurecimento foi fundamental. Hoje em dia, a vida leva as crianças e os adolescentes para outros lados. O esporte salva essa gurizada, dá outra mentalidade para você”, ressalta.
Há cinco anos na JA Jiu Jitsu, o lutador de 34 anos tem crescido cada vez mais na modalidade, mesmo tendo que conciliar o jiu jitsu com o trabalho e com os filhos. “Gosto dessa responsabilidade de treinar. Resumo essa temporada como abençoada. Foi meu ano de mais conquistas, com certeza foi especial, mas tem muita coisa para melhorar”, diz.
Os números obtidos por Márcio na temporada impressionam. Em 2017, o atleta peso pesado participou de 11 competições e subiu no lugar mais alto do pódio 13 vezes. Além disso, foram quatro vice-campeonatos e um terceiro lugar. O título mais importante foi o Mundial, conquistado no mês de julho, em São Paulo. Assim como no ano passado, o lutador trouxe a medalha de ouro da capital paulista, dessa vez na faixa azul. Em 2016, Márcio foi campeão pela faixa branca.
Além do bicampeonato mundial, o atleta conquistou o título do Sul-Brasileiro, do Desafio Samurai e do Aberto Regional por peso. No absoluto, ficou em segundo no Sul-Brasileiro e em terceiro no Aberto Regional. Uma competição que Márcio tem dominado é o Circuito Estadual de Jiu Jitsu. Nas duas etapas realizadas no início do ano, válidas pela edição 2016/17, o montenegrino foi campeão por peso e vice no absoluto.
Na edição 2017/18 do Circuito Estadual, foi campeão por peso e absoluto nas primeiras três etapas. Na quarta e última etapa realizada neste ano, foi vice por peso e campeão no absoluto. O torneio dá uma vaga no Mundial de Las Vegas, que será disputado no próximo ano. Por enquanto, Márcio lidera o ranking. “No Mundial de São Paulo, a adrenalina já foi lá em cima. Las Vegas, então, seria demais. Porém, estou focado na última etapa do Circuito, que vai ser em janeiro”, salienta.
De olho na passagem para Las Vegas, ele corre contra o tempo para se recuperar de uma lesão muscular na coxa, que o afastou dos treinamentos neste final de ano. Essa foi a primeira contusão que deixa Márcio impossibilitado de treinar. “A lesão te tira o ritmo de luta, faz tu ficar sem treinar”, lamenta o lutador, que sofreu a contusão no primeiro combate da 4ª etapa do Circuito Estadual. Mesmo depois de sofrer a lesão, Márcio ainda lutou mais três vezes e obteve resultados expressivos.
Ritual pré-luta e elogios do treinador
Com apenas sete derrotas em todo o ano, Márcio Rodrigues é conhecido na JA Jiu Jitsu por ser um atleta extremamente competitivo. Os números e o desempenho no tatame comprovam isso. Apesar da competitividade, o atleta mostra-se muito tranquilo nos treinamentos e nas lutas. Antes dos combates, concentra-se escutando música. “Gosto de escutar música antes das lutas, prefiro o estilo gospel. Penso no combate, em não me machucar e não machucar meu oponente”, revela.
Perseverante e focado, o lutador procura descansar quando está em casa, mas sobre o tatame, quer sempre evoluir. “Moro com meus pais, estou sempre perto dos meus filhos. Quando estou em casa, gosto de ficar mais na minha, às vezes leio. Sempre acredito que tenho condições, independente do desafio. Para mim, o jiu jitsu é saúde, é vida, é motivação e entretenimento”, acrescenta.
Professor de Márcio na JA, o também lutador Luciano Pinto se diz deslumbrado com as conquistas e com a humildade do seu atleta. “Ele é um talento. Os resultados dele são impressionantes. Ganhar por peso e no absoluto em quase todos os campeonatos é muito raro. Ele está no seu auge, é muito competitivo e um espetáculo de pessoa. Muito humilde. Tem vezes que ele luta no domingo e está aqui treinando na segunda-feira, não folga”, enaltece.
Entretanto, nem tudo é motivo para comemorar. A falta de incentivo da Administração Municipal é lamentada por Luciano. “É uma pena não ter recursos suficientes para disputar mais campeonatos, competir fora do país. Trabalhar duro durante o dia e chegar para treinar à noite como ele faz, não é para qualquer um”, completa o treinador.