O jogo da morte que coloca o mundo em alerta

Desafio da Baleia Azul induz jovens a se cortar, ver filmes de terror, brigar com pessoas próximas e até tirar a vida

“Eu já tenho recaídas psicológicas, me trato e tudo mais. Já tentei suicídio mais de 30 vezes, todas sem sucesso. O jogo seria uma forma de eu finalmente conseguir o suicídio.” Essa foi a explicação dada por uma jovem, de 18 anos, que tentou entrar no Desafio da Baleia Azul.
Ela, que terá sua identidade preservada, procurou o jogo sabendo da gravidade dos desafios e não apenas por curiosidade, como pode acontecer com muitos adolescentes. “Pelo que eu li, no final do jogo, ou tu morre por conta, ou eles te matam”, conta ela, que pesquisou bastante sobre as etapas do desafio. “Não precisa ter nenhum desequilíbrio mental pra entrar nesse jogo. Basta ser curioso e entrar por diversão. O tenso é tentar sair depois”, alerta.

O jogo da Baleia Azul propõe 50 desafios, que são repassados aos participantes sempre às 4h20min da madrugada. Entre as atividades a serem cumpridas estão ouvir músicas psicodélicas indicadas pelo “curador”, assistir filmes de terror, brigar com pessoas próximas, cortar a pele, desenhar baleias com uma gilete no antebraço, andar na beirada de um prédio, escrever nas redes sociais #i_am_whale (Eu sou uma Baleia) e, o último desafio, é tirar a própria vida.

Os participantes que entram no jogo são ameaçados caso tentem sair. Os desafios devem ser postados nas redes sociais ou enviados aos curadores para comprovar o cumprimento. O jogo surgiu na Rússia em 2015, mas se popularizou nos últimos meses.
A entrevistada, que está em tratamento contra a depressão, afirma que já tinha realizado muitas das ações propostas pelo desafio, como cortar-se. “Tinta coisas que eu já conhecia a dor, tipo, se cortar. Isso não me assustou. Mas tinha outras coisas que eu fiquei meio assim, como andar na beira de um prédio”, relata.

Após não conseguir entrar no desafio, ela conta que desistiu da ideia. Atualmente, está tomando três antidepressivos por dia e realizando terapia. “Sabe o que é difícil? Três antidepressivos por dia e uma família gritando na sua cabeça que te falta um emprego”, diz, referindo-se à forma como a depressão é, muitas vezes, subjugada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Baleia Rosa propõe um contraponto à situação
Se, por um lado a Baleia Azul vem preocupando os pais e adolescentes, a página Baleia Rosa surgiu nas redes como uma resposta aos desafios negativos. Criados pela psicóloga Tamara Moura Camargo, a pedido de dois amigos publicitários, os desafios propõem um olhar diferenciado sobre a vida.

Em cerca de 24h, a página já havia recebido mais de dois mil acessos, cerca de 20% de usuários com tendências suicidas. No direcionamento da página, foram marcadas características das pessoas que buscariam a Baleia Azul, o objetivo, segundo a psicóloga, é chegar até esse público e tentar ajudá-lo de alguma forma.

As propostas da Baleia Rosa vão desde escrever na pele de alguém o quanto a ama usando uma canetinha, até passar cinco minutos em frente ao espelho tecendo elogios a si mesmo. A ideia é que sejam lançados 50 desafios. Um a cada dia. Eles devem ser cumpridos e postados nas redes sociais, tal como ocorre no jogo da Baleia Azul.

Além de promover essas metas, a página da Baleia Rosa faz o acolhimento das pessoas que buscam o serviço e enviam o número do Centro de Valorização da Vida (CVV) para quem está buscando ajuda (http://www.cvv.org.br/index.php).

Depressão não é regra entre participantes
O psicólogo Márcio Hoffmeister afirma que, embora possam haver patologias anteriores à entrada do jovem em jogos como o desafio da Baleia Azul, essa não é uma regra. “Sempre há algum ‘jogo’ acontecendo. Seja ele roleta-russa, sufocamento, baleia azul, o que muda é o nome e a forma como se apresenta”, diz. Ele compara os jogos com uma desconexão frente à realidade, uma maneira de “fuga” dos participantes.

De acordo com o profissional, os pais precisam ficar atentos às atitudes dos filhos, que podem apresentar mudanças de comportamento e/ou humor. “É um jogo que, por exigir várias tarefas, não acontece de um instante para o outro. Em algum momento a família pode perceber que há algo de errado.”

Hoffmeister atenta para o estreitamento das relações familiares. “Creio que a própria participação no jogo já denuncia algo muito sério: estamos desconectados dos nossos adolescentes”, alerta. Na visão do psicólogo, uma relação aberta e de confiança pode ser a chave para evitar que o adolescente se deixe levar por jogos como esse.

Algumas brincadeiras relacionadas ao jogo têm surgido nas redes sociais, recentemente. O psicólogo trata como “lamentável” essa situação. “Precisamos entender que, socialmente, ajudamos a sustentar esta triste balança que está fortemente desequilibrada para nossos jovens. Não podemos exigir dos adolescentes: compromisso, entendimento, senso crítico ou seja lá o que for, enquanto nós continuarmos sendo adultos tão banais”, compara.

Mensagem aos jovens
Nossa entrevistada, que tentou entrar no desafio e acabou desistindo, deixou uma mensagem a todos que têm curiosidade sobre o jogo.
“Se eu disser: não pense num elefante rosa com bolinhas azuis, é exatamente isso que a pessoa vai pensar. Se eu disser ‘não procurem o jogo’, a curiosidade vai aumentar, e vocês vão procurar o jogo. Mas não procurem o jogo! É uma coisa que realmente não vale a pena, porque sua vida é preciosa. Não jogue-a fora por causa de meia dúzia de babacas infelizes que destroem a vida dos outros.”

Participantes que tentam sair do jogo recebem ameaças


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