Tocar um instrumento não é nada fácil. Um violão então… Eu mesmo já tentei e não consegui. Saber a nota certa, não perder o ritmo, tudo isso interfere na qualidade do som. Adalberto Teixeira da Silva Filho, 65, superou todos os obstáculos, que com o decorrer do tempo surgiram em sua vida, e continuou tocando seu violão pelas ruas da Cidade das Artes, mesmo após perder completamente a visão. Saudosista e com bons ouvidos, ele não esquece as antigas letras e sabe identificar as músicas pelo som dos acordes. Leandro e Leonardo e João Paulo e Daniel estão entre os artistas preferidos. Mas a dupla de sertanejo gospel Daniel & Samuel também ganhou o apreço do cantor e instrumentista.
O montenegrino Adalberto, bem como muitas outras pessoas, é a prova de que sempre há um novo jeito, uma readaptação. Mesmo cego, o filho do falecido sargento Adalberto Teixeira continuou a espalhar sua música por Montenegro e por outras cidades, como Caxias do Sul e Lajeado. Ele foi o único, entre os oito irmãos, que sempre admirou a música, em especial do gênero sertanejo.
A história desse artista começou bem perto de um dos nossos pontos turísticos, o Rio Caí. Mas a carreira musical iniciou no bairro em que habita atualmente, o Municipal. “Eu comecei a tocar com 17 anos, quando a gente já tinha se mudado. Daí me apaixonei pelo violão e não larguei mais”, conta. Na época, a única dificuldade visual que ele tinha era correspondente a uma doença ocular chamada Catarata. Mas ainda enxergava bem.
Pouco depois de começar as aulas de violão com seu tio avô, Horácio Costa, Adalberto acabou sofrendo um acidente, ao cair de uma ponte. Na queda, ele bateu em muitas pedras e foi justamente nos olhos que se machucou mais. “Fui perdendo a visão aos poucos por conta das batidas. Quando eu tinha 27 anos perdi por completo”, lembra. O que ele não perdeu foi a vontade de cantar e transmitir alegria para as pessoas.
Dos bares às calçadas
Adalberto não nega o gosto por estar em contato com seus ouvintes. Mesmo não enxergando, ele gosta de conversar com aqueles que dão uma paradinha no trajeto para apreciá-lo. Logo que se descobriu músico, começou a sair com amigos para tocar em vários lugares, mas hoje prefere as calçadas ou os bancos de rodoviárias. “Eu gostava de tocar nos bares, mas começou a ficar complicado. Nesses ambientes, de vez em quando, começam uma briga e tira todo o bom ambiente. Já nas ruas consigo conversar tranquilamente com quem passa”, afirma.
A vida de boemia também foi substituída por uma entrega maior a Deus. Frequentando uma Igreja Batista de Montenegro, Adalberto conta que sua filha adotiva o incentivou nessa nova caminhada. “A Raissa sofre com distúrbio mental, mas nunca perdeu a alegria de viver. Ela se sentia feliz frequentando a igreja e sempre trazia alguma mensagem da Bíblia pra mim. Hoje eu e minha esposa (Geneci Nunes da Silva, 55) também começamos a ir”, conta. Entretanto, Adalberto não pretende tocar na igreja. De acordo com ele, as pessoas que frequentam, já estão recebendo os conselhos de Deus. “Prefiro tocar os hinos aqui na rua, porque muitas pessoas ainda precisam conhecer o amor do Senhor”, diz.
Adalberto na política
Desafiando ainda mais a limitação que as circunstâncias lhe impuseram, Adalberto esteve na Câmara de Vereadores do município entre 1988 e 1992. Ele afirma que na época foi um dos idealizadores do projeto que dava direito ao estudante pagar metade do valor pela passagem no transporte público. O músico garante que nunca deixou de acompanhar o cenário político e pretende concorrer em 2018. “Quero me candidatar a deputado estadual. Já estou conversando com um partido e a candidatura está se encaminhando.