Ainda não há previsão de novo investimento em ciclovia. Decreto de contenção de gastos seria principal entrave
Muitas pessoas utilizam a bicicleta como meio de transporte. Outras tantas para passeios e atividade física. E a maioria delas lamenta o fato de ter que dividir espaço com os carros, entre apertos e passagens perigosas, ao transitar pelas ruas de Montenegro. Apesar do transporte cicloviário ser assegurado, com direitos, no Código Brasileiro de Trânsito (CTB), faltam espaços adequados para o deslocamento das “magrelas” na cidade.
A ciclofaixa irregular, que em 2015 causou o Impeachment do ex-prefeito Paulo Azeredo, interrompeu a proposta de dotar a cidade de uma estrutura adequada aos ciclistas.
Idealizado inicialmente em 2009, o projeto contemplaria trechos em ciclovia – espaço físico para tráfego de bicicletas – e em ciclofaixa – sinalização com pintura para bicicletas, passando pelas ruas Hans Varelmann, Júlio Renner, Ernesto Popp, Bruno de Andrade, Avenida Ivan Jacob Zimmer, Fernando Ferrari, Capitão Cruz, Santos Dumont e Buarque de Macedo até a BR 470.
De acordo com Alex Sandro da Silva, diretor de Trânsito do Município, a ciclovia segue sempre o plano de mobilidade urbana. O projeto montenegrino, no papel, visa ligar o bairro Germano Henke à BR 470, na altura da JBS, no bairro Imigração. Porém, a retomada depende principalmente de verbas. “Com o decreto municipal de contenção de gastos, não há uma previsão de obras”, afirma.
Apesar dessa barreira, o diretor defende que mais ciclovias trariam inúmeros benefícios à comunidade montenegrina, principalmente por incentivar um meio de transporte saudável e não poluente.
Diariamente na estrada
O pedreiro Paulo da Silva Pilger, 50 anos, utiliza a bicicleta para trabalhar diariamente. Para cima e para baixo, ela é sua fiel companheira. Porém, para andar com segurança pelas vias montenegrinas, Paulo destaca que é muito importante investir em novas ciclovias. “Na Ramiro Barcelos, é quase impossível transitar pedalando. Tem que cuidar para não ser atropelado”, afirma.
A prática de movimentar-se por esse meio, de acordo com ele, traz muitos benefícios e reflete também na saúde. “Não há transporte melhor. Andando de carro, a pessoa engorda e, de ônibus, é muito caro”, conclui.
Vera Lúcia da Silva, 54 anos, cuidadora de pessoas idosas e doentes, também faz uso da bike em seus deslocamentos cotidianos. Ao andar pelas ruas da cidade, identifica em muitas a urgência na criação de ciclovias, para que o público ciclista ande com menos preocupações. “Alguns condutores de carros não respeitam o espaço, no trânsito, que também é das bicicletas. São poucos e em poucas ocasiões, mas já oferecem riscos. Certamente é muito mais seguro transitar de bicicleta por um local reservado para elas”, explica.
Atualmente, há ciclovias/ciclofaixas apenas em alguns trechos da cidade, como na rua Bruno de Andrade, ao longo da avenida Ivan Jacob Zimmer, Fernando Ferrari, BR-470 e José Luís.
Continuidade do projeto é o desejo dos usuários
Jader Alves, 33 anos, analista de sistemas, anda de bike aproximadamente 180 km por semana, divididos em três dias de pedaladas. Ele afirma que, apesar da cidade ter algumas ciclovias em suas ruas, elas cobrem apenas trechos bem pequenos, não se interligam e nem constroem um caminho constante. “Então, consequentemente, eu ando a maior parte do tempo por locais que não têm esse espaço. Uso as nossas ciclovias basicamente para me locomover do Centro até a Timbaúva e vice-versa”, explica.
Alguns pontos de Montenegro em que o analista sugere a implantação de ciclovias são a beira do Rio e o trajeto até o Parque Centenário. “É onde vejo mais gente de bicicleta”, conclui.
A diretora de comunicação social da Associação Ciclística de Montenegro (Aciclomonte), Márcia Brand, também defende a necessidade urgente de construção de vias específicas, tanto ciclovias como ciclofaixas. “Principalmente pelo aumento do fluxo e número de veículos. Mas elas devem ser pensadas como as ruas, com continuidade e não interrompidas no meio”, defende. Márcia declara que, por questões de segurança, a Aciclomonte é a favor de faixas exclusivas para esse público.
Transporte do futuro
Projetos de mobilidade urbana têm sido cada vez mais debatidos no Brasil, com propostas para facilitar transportes públicos e individuais e com o objetivo de desafogar congestionamentos. Para o empresário Dairon Nicolau, 38 anos, a bicicleta é o transporte do futuro. Ele, que é proprietário de uma loja de bikes, explica que as pessoas procuram bastante o estabelecimento tanto para compras quanto para consertos do veículo.
No contexto social atual, em que questões ambientais são trazidas cada vez mais para debate, a afirmativa de Dairon encaixa-se perfeitamente, chamando a atenção para a necessidade de mais espaço e respeito aos direitos dos ciclistas.