O desejo por culturas, lugares e histórias diferentes

Viajar 13.615,05 quilômetros, equivalentes à distância entre Porto Alegre e o Alasca, não é fácil e, a pé, acompanhado de uma mochila de 60 litros, é só pra quem tem coragem. Júlia da Motta, de 25 anos, bacharel em Políticas Públicas, e Rafaela Ely, 26 anos, jornalista, estão, neste momento, fazendo um “mochilão” pela América do Sul. Cada uma com seus objetivos, mas uma vontade em comum: aventurar-se.

As meninas embarcaram no ônibus da Planalto, em Porto Alegre, que as levou ao Chuí, no dia 4 de maio. A viagem até o primeiro destino demorou cerca de 8 horas. Não há um roteiro obrigatório, mas claro que tudo foi planejado há bastante tempo – três anos, no caso da jornalista. Ela vai seguir do Uruguai para a Argentina, Chile, Peru, passando por todos os países da América Central Continental e permanecer no Alasca. Júlia vai deixar a amiga seguir viagem sozinha a partir do Peru. A intenção é, ainda, conhecer alguns pontos da Bolívia.

“Conhecer pessoas, culturas, lugares. Depender de carona, hospedar-se na casa de estranhos e pedir informações são meios de acreditar que ainda há pessoas gentis no mundo”, opina Rafaela. “A ideia surgiu quando me dei por conta de que, se eu fosse visitar meus amigos em todas as férias que terei, 30 dias por ano, não conseguiria”, diz. “Em 2005, durante as viagens que fiz pelo México, Estados Unidos, entre outros países, criei amizades por todos estes lugares. De fato, seria difícil visitar cada um em tempos diferentes. Então resolvi juntar tudo numa viagem só”, acrescenta a moça.

Para Júlia, a intenção já é um pouco diferente: autoconhecimento. “Os últimos dois anos foram bem corridos e difíceis, e acabei me afastando de mim mesma. No último ano de faculdade, trabalhei em três lugares ao mesmo tempo, fiz 10 cadeiras, estágios e TCC”, afirma. “Quero sair por aí e me encontrar novamente. Quem sabe, também, poder aplicar isso no meu trabalho quando retornar ao Brasil”, explica.

Para não passarem necessidade, as meninas gastam pouco e vêm guardando dinheiro, economizando onde dá. Afinal, nunca se sabe! Pães e enlatados têm sido o cardápio desde que chegaram ao Chuí. “Alguns dias ficamos no Parque Nacional de Santa Teresa e comemos tudo frio. No terceiro e último dia, encontramos dois brasileiros que estavam de Kombi e eles esquentaram água pra gente ferver couple noodles”, recorda. “Estamos cuidando para comer frutas e alimentos que nos deixem com energia para encarar o dia”, explica Júlia.

No terceiro dia do acampamento, elas conseguiram água quente para comida

A bacharel pretende, ao longo do caminho, trabalhar para ficar mais tranquila quanto ao dinheiro. “Eles têm um site em que tu te cadastra para trocar trabalho por hospedagem. Pretendo fazer isso para conseguir me manter”, conta. Rafaela tem um blog e quer usar essa ferramenta para ter cama e comida quente. “Aprendi a fazer miçanga também, vou vender na praia pra arrumar grana”, acrescenta.

Embora estejam fazendo a maioria do percurso a pé, as garotas têm pego muitas caronas e isso é o que tem sido mais fundamental para ambas. “É impressionante ver o quanto as pessoas se dispõem a te ajudar e querer que você fique bem. Algumas até dirigiram um pouco mais para descermos no destino que precisávamos”, enfatiza Júlia. O caminho ainda é longo, mas não maior que a vontade delas de alcançarem seus objetivos e voltarem para casa cheias de histórias.

 

Rafaela Ely e Júlia da Motta em Fuerte San Miguel, no Uruguai

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