Pilcha, roupa tradicional do gaúcho, já passou por diversas modificações durante os anos
No Dia do Gaúcho, 20 de setembro, prendas e peões Vestem suas pilchas para andar orgulhosamente com as roupas que identificam o Rio Grande do Sul. Na última matéria da Semana Farroupilha iremos abordar a vestimenta típica dos gaúchos, uma das expressões culturais do Estado. O seu legado e a tradição atravessaran gerações, se adaptando conforme as necessidades do povo, e hoje são motivo de orgulho.
A origem da indumentária gaúcha tem a sua origem da época da colonização dos Pampas e é resultado da união de influências históricas, sociais e culturais adaptadas à realidade, ocupação e trabalho campeiro. O primeiro caudilho riograndense tinha mais dinheiro e se vestia melhor. Patrão das Vacarias e Estancieira Gaúcha são datados de 1730 à 1820, e o homem vestia-se basicamente à européia, com a braga e as ceroulas de crivo.
O estancieiro passou a usar também a bota de garrão de potro, invenção gauchesca típica. O cinturão-guaiaca, o lenço de pescoço, o pala indígena, a tira de pano prendendo os cabelos e o chapéu de pança de burro também faziam parte da pilcha. Já a mulher usava botinhas fechadas, meias brancas ou de cor, longos vestidos de seda ou veludo, mantilha, chale ou sobrepeliz, grande travessa prendendo os cabelos enrolados e o inseparável leque. Com o tempo, as vestimentas foram sofrendo mudanças e adequações para cada modo de vida, até chegar às pilchas de hoje. Mas, uma certeza fica: o gaúcho é facilmente identificado.
Um guarda-roupa cheio de vestidos e histórias
Há quem compre uma roupa e a descarte depois de um ou dois anos de uso, mas há também quem guarda por mais de 20 anos. A montenegrina Arlete Oliveira de Souza é, com certeza, a segunda opção. A aposentada de 67 anos participa do tradicionalismo desde 1964. Com o tempo, ela foi acumulando vestidos, saias e blusas que se orgulha em mostrar através de fotos e histórias.
Por falta de espaço, Arlete teve que se separar de algumas peças, mas se lembra de cada uma e de cada pessoa que o recebeu. “Os meus vestidos e saias eu dei ou emprestei para amigas. Não me arrependo”, diz. Segundo ela, foram tantas saias e vestidos que até perdeu a conta, e 90% deles foram desenhados e feitos por ela mesma.
Arlete segue o regulamento do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), mas as suas ideias eram sempre próprias. “Eu tinha até um modelinho de uma boneca desenhada e dali eu criava o modelo em cima, e depois costurava”, conta.
A montenegrina sempre preferiu modelos práticos e mais em conta para, assim, poder ter mais. “Eu gostava de sempre estar mudando os modelos, depois de um tempo eu comecei a usar só saia e blusa. Os meus vestidos não custavam mais de 50 reais. Eu comprava os tecidos e fazia”, explica ela.
Desde que entrou no movimento tradicionalista, Arlete não saiu mais, já foi instrutora de invernada, diretora de eventos da região, diretora cultural e diretora artística, além de jurada em diversos concursos como o de Prenda do Estado, em Porto Alegre. Como estava sempre envolvida, foi fazendo vestidos e muitos têm valor sentimental para ela.
Duas das peças amadas por ela, estão hoje na coleção do Museu Histórico de Montenegro Nice Antonieta Schüler. “O vestido de mala de garupa eu fiz em 1998. Na época, eu dava aula de dança ainda, e sempre ia nos rodeios com ele. Ele era mais usual. Já o veludo era de estancieira. Esse foi outra costureira que fez em 1997, que foi quando eu fui avaliar o concurso de prenda em Porto Alegre. Depois, eu usava só em ocasiões especiais, como fandangos e sarais. Usei pouquíssimas vezes, porque era um vestido muito chique”, relembra Arlete. Para ela, o vestido sempre foi a pilcha favorita, e se alegra que as roupas que não lhe servem mais, agora estão sendo usadas e vistas por mais gente.