A relação de Maique Kochenborger com o caminhão vem desde criança. Quando o agricultor nasceu, em 1983, o Mercedes 1113 já estava na família. “Dirijo o caminhão desde os 11 anos. Eu cresci dentro desse 1113, por isso ele não tem preço” conta.
Ainda criança, Maique ia junto com os pais fazer a vendas das frutas produzidas na propriedade da família, localizada em Lajeadinho, interior de Montenegro. “Eles faziam feira sábado e domingo, mas nós já íamos na sexta de noite. Então eu dormia dentro do caminhão na sexta e no sábado, e domingo vínhamos pra casa. Mas na terça-feira tinha feira de novo e lá íamos nós. Então eu tenho um período bastante significativo dentro do caminhão”, relata o agricultor.
Junto com a paixão pelo caminhão, surgiu a vontade de seguir trabalhando na agricultura. Maique conta que os pais queriam que ele estudasse e seguisse outra profissão, mas a vontade de continuar trabalhando no interior foi maior. “Desde os 12, 13 anos eu estou trabalhando na agricultura e não posso reclamar. A gente trabalha bastante, mas trabalha no que gosta e isso dá uma satisfação”, afirma.
A rotina não é fácil, são cerca de 14 horas diárias de trabalho. Além de trabalhar no cultivo de citros, a família de Maique também faz a comercialização do produto. “Eu e o meu irmão fazemos as entregas. Na cooperativa Ecocitrus quem faz as entregas de frutas é o meu irmão. Eu trabalho com feira livre, a gente faz feira em Caxias do Sul”, conta o agricultor.
Todas as quintas e sábados Maique sai ainda de madrugada com destino a Caxias do Sul, onde comercializa as frutas produzidas na propriedade da família Kocherborguer. “A gente faz isso por uma opção nossa, optamos por fazer um investimento maior na propriedade, então quando tu faz um investimento maior tem um compromisso maior também”, afirma o agricultor.
Mas apesar da rotina de trabalho intensa, Maique garante que quando se está fazendo o que gosta, tudo fica mais fácil. “Eu gosto do campo. A cidade tem as suas facilidades, mas o que eu tenho aqui eu não tenho na cidade: a qualidade de vida”, relata.
Para o agricultor, umas das vantagens de se morar no interior é a qualidade da alimentação, que sai em grande parte direto da propriedade. “Quando quero comer um aipim, vou alia arranco e como, quando quero comer um ovo, vou ali no galinheiro e pego. Isso tudo gera um trabalho que tu tem que fazer durante o teu dia-a-dia, mas tem a recompensa do outro lado: tu consegue uma alimentação mais saudável”, relata Maique.
Valorização do produtor
Ao longo dos anos trabalhando como agricultor, Maique viu a propriedade evoluir e o trabalho ser cada vez mais valorizado. Hoje, o agricultor acredita que o os produtores rurais são vistos de outra forma.
“O agricultor hoje está sendo visto com outros olhos. Antigamente ele era visto como um cara simplório e era uma pessoa mais esquecida”, aponta. Para ele, isso aconteceu devido à melhora da qualidade de vida do agricultor, e também da melhora financeira. “Hoje o agricultor consegue ter também uma vida social, porque ele consegue ter o seu carro, ir até a cidade, ao cinema ou em uma lancheria”, aponta.
Para Maique, a melhora da qualidade de vida do agricultor está ligada à qualificação da gestão das propriedades rurais. “Se o agricultor que não fizer uma gestão do seu negócio, com os cálculos de custo de toda a sua propriedade, incluindo mão de obra, tu tem problemas. Então hoje qualquer propriedade rural é uma empresa rural”, afirma o agricultor.
Na propriedade da família Kochenborguer, atualmente, são 60 hectares de área de produção de citros, mas a ideia é ampliar ainda mais. “Nossa meta é trabalhar para chegar em 80 hectares de área produtiva. Aí entra a gestão, com o estudo de variedades pra ter o período de colheita correto”, relata o agricultor.
Profissão passada de pai para filho
Leandro Zweibruk, 36 anos, nasceu na localidade de Linha Catarina, interior de Montenegro. Desde pequeno ajudando o pai nas tarefas da propriedade, seguir como agricultor foi um caminho natural.
“A gente, a vida inteira, se criou no interior. Nasci aqui na Linha Catarina e aprendi a escrever meu sobrenome no corte de mato com o pai e minha mãe”, conta o agricultor. No início, a família trabalhava em uma área arrendada com o corte de acácia, mas posteriormente o pai de Leandro, Celso Zweibruk, adquiriu a propriedade e implantou a produção de citros.
A decisão de ficar na propriedade e seguir o caminho do pai veio logo na adolescência. “Eu me lembro um dia que estava cavoucando para fazer uns drenos com o pai. Ele me perguntou se era isso que queria da minha vida. Na época nunca pensei em sair e deixar eles sozinhos”, conta Leandro.
A rotina no agricultor começa logo cedo. Além da produção de citros, a família Zweibruk trabalha com a criação de frango em modelo integrado. “Trabalho nos aviários logo cedo, depois tem os serviços nos arvoredos de citros. A gente pulveriza, poda, aduba e faz o manejo das frutas” conta o agricultor.
Apesar de gostar do que faz, Leandro considera que falta valorização para o setor. Ele relata que não há nenhum acompanhamento técnico na propriedade por parte do município. “Montenegro é a cidade do citros e não tem nenhum técnico que vem aqui na nossa produção, pelo menos nós pequenos produtores”, afirma o agricultor.
A única orientação que recebe é da equipe de vendas de adubos que vai até a propriedade. “Mas não é uma orientação técnica, é um vendedor te vendendo o produto dele. Talvez o que ele tem no dia para vender, não é o ideal para tu usar na tua área”, destaca Leandro.
O produtor acredita que a valorização do produtor deveria ser maior, principalmente por parte do município. Mas, apesar das dificuldades enfrentadas pelos agricultores, Leandro acredita que as coisas possam melhorar no futuro.
“Hoje em dia a valorização por parte da sociedade para o agricultor é maior do que já foi. Então acho que o interior ainda vai melhorar em termos de lucratividade para o produtor. Aqui tu faz o teu ganho, tu vai correr atrás do teu, então o interior é um pouco de sacrifício, mas no fim também tem suas vantagens”, finaliza.