Montenegro teve seu primeiro dia útil de comércio reaberto neste sábado, 2 de maio. A autorização para o funcionamento veio via decreto, publicado na noite da última quinta-feira, ainda com uma série de regras para todas as atividades empresariais. Desde o fim de março, já é a quarta vez que as restrições passam por modificações no Município. Naturalmente, esse “reinício” foi marcado por adaptações e por algumas dúvidas.
Sem saber que não podia, por exemplo, o proprietário de loja de vestuário Amad Yusuf permitiu que sua clientela usasse os provadores e experimentasse roupas dentro de seu estabelecimento. Essa é uma das regras novas, que não estava em decretos anteriores do prefeito e que, atendendo a portaria do governo estadual, passou a ser exigida desde quinta-feira. Nem mesmo calçados ou acessórios podem ser experimentados para diminuir o risco de contaminação pelo coronavírus.
“Abala a estrutura um pouco”, admitiu Yusuf, que só soube da restrição através reportagem. “Talvez dê queda nas vendas, das pessoas não quererem comprar sem experimentar. Mas isso é tudo inédito. Se eles, que têm os estudos, analisaram que é perigoso, nós vamos respeitar.”
Com o início da pandemia, parte dos empresários montenegrinos formaram um grupo de WhatsApp, que conta com a participação de entidades e da Prefeitura, por onde essas informações vão sendo repassadas. Mas com decretos bastante extensos, com muitas páginas, nem sempre as determinações chegam como deviam chegar.
É o que se percebeu em outra loja de vestuário do centro. A gerente Janaína Araújo passou o dia controlando o fluxo de clientes para que a capacidade de lotação do estabelecimento não passasse dos 30%: um total de 35 pessoas, contando os funcionários. Só que ela ainda não sabia que, para sua atividade, o percentual tinha sido atualizado dos 30%, no decreto de 16 de abril, para 50% no decreto desta quinta-feira.
Os provadores isolados, no entanto, denunciavam que, por outro lado, a nova proibição ao experimentar das roupas já era conhecida. “A pessoa tem que levar pra casa e, se não servir, vir trocar”, colocou Janaína, sobre a única alternativa para seguir vendendo no ramo. “Essas restrições são importantes para manter a saúde dos nossos funcionários e dos nossos clientes”, reconheceu.
Um olho no movimento, outro nos cuidados
A tarde de sábado teve bastante movimento nas ruas do centro, mas pouco nas lojas, com exceções pontuais. Em especial, estabelecimentos que não haviam seguido a autorização de abertura do Município, quando ela não era autorizada pelo Estado, permanecendo fechados em 16 de abril, foram os que mais receberam clientes. É que, só agora abertos – com os decretos alinhados em ambas as instâncias – foram procurados por muita gente que precisava deixar contas em dia. Houve filas.
Nas demais, o movimento de vendas ainda foi relativamente tímido. “Não é um sábado que nem antigamente. A gente vê pessoas buscando roupa de inverno, porque está vindo um friozinho, mas é um sábado um pouco mais fraco”, relatou a gerente de loja Janaína Araújo.
Também de olho no frio para vender roupas, Amad Yusuf contou que a entrada de clientes estava dentro de suas expectativas, já adaptadas a realidade da pandemia. Ele quer seguir todas as regras à risca para não precisar fechar de novo. “Para nós, que lidamos com vestuário, é a época que dá mais retorno. Então, a gente espera fazer os sacrifícios agora para estar com a loja aberta. Eu sou otimista de que temos chance de nos recuperarmos”, declarou.
E para seguir com o comércio funcionando, os empresários contam com a colaboração de toda a comunidade. “É preciso que a população se conscientize e que se cuide para que a gente não precise parar novamente”, avaliou a gerente de loja de roupas infantis, Janice Vargas. “A gente fica decepcionado quando vê pessoas na rua que não estão se cuidando.”
O raciocínio, entre os empreendedores, é claro: cuidados em dia freiam a contaminação pela Covid-19 na região e, com isso, permitem que a economia possa se reaquecer. Para isso, há os cuidados, como a higienização de ambientes e a obrigatoriedade das máscaras nas ruas e empresas. No sábado, porém, ainda tinha pedestres sem usar o equipamento de proteção. “É uma situação que nos deixa bem assustados. Tu te preocupa porque precisa trabalhar; e também te preocupa com a tua saúde”, desabafa Janice.
Nova realidade é para todos
Algumas atividades empresariais acabam tendo tratamento diferenciado por serem mais delicadas no que se refere às possibilidades de contaminação. Um exemplo são as academias. Estas sim, só podem receber 30% da capacidade de lotação; e ainda não estão autorizadas a atender ninguém que for do grupo de risco da Covid-19. Só essa última regra já representa cerca de 80 alunos a menos no estabelecimento do empresário Endrigo Ribeiro.
Dono de academia, ele conta que, nos meses parados, sua equipe deu aulas e dicas de exercícios via redes sociais. Chegou até a emprestar materiais, como alteres e barras, para que o cliente pudesse treinar de casa. Agora, mais uma vez aberto, o espaço tem uma série de regras à seguir. “E a gente vai de acordo com a lei”, garante o dono.
Ribeiro também está no grupo de WhatsApp dos empresários locais e, assim que soube do decreto de quinta-feira, publicou da reabertura em suas redes sociais. “Porque a gente precisa avisar o aluno. Saiu o decreto e, na sexta-feira de tarde, o pessoal já veio”, relata. “Ainda assim, não voltou nem metade dos alunos que saíram depois do primeiro decreto. Tem quem ainda está meio com medo.”
Os clientes da academia são acompanhados pelos professores, que monitoram a lotação e o distanciamento uns dos outros. Nas esteiras, por exemplo, o uso é intercalado para que ninguém faça o exercício lado a lado. A cada uso, o aluno faz a higienização do equipamento e, a cada hora, todos param para uma higienização geral. “O pessoal que gosta de treinar está ligado em todas as recomendações. Todos de máscara e de acordo com o decreto”, frisa o proprietário.
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SOBRE O LIMITE DE LOTAÇÃO: Academias; restaurantes e afins; estabelecimentos que vendem medicamentos e itens de limpeza; e estabelecimentos que trabalham com animais vivos ficam com lotação restrita a 30% da capacidade registrada no PPCI. O comércio em geral fica restrito à 50%