Essa semana, separei 138 fotos para “revelar”. Não, feliz ou infelizmente, “revelar” não é a palavra certa. Não envolve rolos com filmes fotográficos, uma sala escura e cheia de bacias com produtos químicos nem o medo de algumas imagens queimarem. O processo agora é mais frio e prático, um simples imprimir em papel fotográfico. Ainda assim, é um processo delicioso. Escolher. Selecionar. Lembrar.
Não sou velha. Longe disso, na verdade. Sou um clássico, apenas. Com 30 anos, sou integrante da última geração que experimentou um mundo analógico, no qual lembranças são guardadas na mente e em álbuns, não na memória dos celulares. Que mania desnecessária essa conectada geração mais jovem tem de armazenar tudo nesses aparelhos. É que ali estão eternizados, dizem. Balela. Telefones, tablets e computadores estão por aí, aos montes, uma pilha de lixo eletrônico sendo descartada a cada dia e, nos seus arquivos, está o rastro da vida de alguém.
O detalhe é que essas recordações não têm backup nem mesmo na memória dos donos dos aparelhos. É que estes estão tão preocupados em fazer a mais efêmera das eternizações que não as guardaram no arquivo mais seguro de todos. O Brasil todo assistiu a um exemplo disso semanas atrás. Copa América 2019. Arena do Grêmio. Brasil e Paraguai pelas quartas de final. Termina em 0 a 0 e vai para os pênaltis. A disputa vai começar e a câmera está às costas do paraguaio, de frente para Alisson e a torcida posicionada atrás do gol. Na hora que o goleiro pega a primeiro chute e coloca o Brasil na frente, quase ninguém ali vê. Apesar de estarem no melhor local do estádio, não viram gols nem defesas. Filmaram tudo, é verdade.
Arquivos que provavelmente já pesaram nas memórias dos aparelhos e foram apagados sem nunca terem sido apreciados. Talvez tenham sido enviados no grupo da família ou do trabalho. Só pra “mostrar que foi”, claro. E tudo bem. Eles foram ignorados por todos mesmo. Quem folheia as páginas de um álbum, porém, jamais o ignora. Porque você não abre o álbum da sua família, da sua vida, pra qualquer um, só pra quem merece, só pra quem se importa. Essa é a diferença.
A maior parte daquelas 138 fotos não foi pro Facebook, a grande maioria não será apreciada por mais do que alguns pares de olhos. Porque o que tem valor mesmo, de verdade, a gente reserva, não expõe. A gente guarda no HD mais eficiente e, quando fecha os olhos, revê na tela com melhor qualidade de imagem existente no mundo.