Avó de Alfama ensina que ‘Família’ é o maior significado desta data festiva
Tinha um cheiro bom vindo da cozinha do galpão. Em volta do forno, as crianças esperavam ansiosas por aquele biscoito que traz um aroma singular, e que jamais esquecerão. E para o resto de suas vidas, sempre que o Natal se aproximar, esta recordação voltará trazendo cheiros e sabores que dirão: “é hora de voltar para casa”.
A agricultora Bernadete Kranz da Motta, 62 anos, e sua irmã Maria Clarete Kranz Francisco, 60, sabem que este sentimento fraterno não surge por uma fictícia ‘magia de Natal’. Elas mesmas trazem no coração uma herança da mãe e da avó sobre família reunida ser o verdadeiro espírito do 25 de dezembro. Não faria sentido ser cada um em uma casa.
Montar junto o pinheirinho, fazer comida boa, trocar afetos e risadas, dar presentes acompanhados de sinceridade. Este é o clima que perpetua na propriedade rural em Alfama, que, na verdade, é o ponto de encontro em cada feriado e data especial ao longo do ano. Não foi por acaso que o genro Luis Carlos Bohlke, com as próprias mãos, transformou o rústico em aconchego.
E no domingo, dia 14, se repetiu a rotina do galpão crioulo lotado de parentes e amigos. Mas o festejo começa sempre um dia antes, com o ‘evento’ do corte do pinheiro. Também é tradição pegar a árvore na casa de uma vizinha Edy Lory Ritter. É uma missão na qual é convocado quem estiver em casa, saindo todos de Kombi.
Então chega a hora da decoração, transformando a manhã do domingo, 15, em festa embalada por alegria e lembranças. Uma das mais fortes é da avó das irmãs, dona Lídia Schallemberg, cuja história já explica muito. Ela ficou famosa em Montenegro por cultivar e vender pinheirinhos naturais em sua casa na rua Santo Antônio, Centro.
Uma memória que alcançou muitos montenegrinos na semana passada, quando, justamente no Natal, a velha casa foi demolida. Inclusive, um tempo depois essa função de vender a árvore símbolo foi assumida pela “tia Lurdes”, como lembrou uma das filhas de Bernadete, Márcia Graziela da Motta.
Sentada no chão, separava os enfeites ao lado das filhas Luisa, 10, e Lívia, 6; em um ato simples, mas de profunda carga emocional. E certamente foi isso que lhe fez falar da sua avó, Síbila Maria Kranz. “Quando criança, a gente montava o pinheiro na casa da vó”, explicou, vendo em sua volta a memória sendo concretizada pela nova geração.
Tem espaço no coração
Bernadete tem quatro filhos e sete netos. Destes, apenas a família do segundo mais velho, Magnus José da Motta, não pode ir, pois ele estava trabalhando. Já Alexsandra da Motta Guterra e o esposo Gerson vieram de Estrela. Sua filha Mariana, 17, é a neta mais velha de Bernadete, portanto única que participou dos festejos na bisavó Síbila. Em seguida chegou Germano Ernesto, com a esposa Jordana e a sogra Lucia Winter.
Mas o grupo ficou completo quando Claudinei e Daiane Capelin chegaram com os filhos. “É uma família que adotamos”, explica Bernadete. Eles vieram de Santa Catarina há dois anos, e não souberam o que é solidão depois de fazer amizade com os Motta. “Todo o domingo é um evento”, resumiu bem Daiane, 34. E para agitar ainda mais os pequenos, um vizinho chegou em sua versão gaudéria do Papai Noel.
E enquanto todos estavam irmanados em torno do pinheiro, na cozinha algo afetuoso e perpétuo acontecia. Bernadete e Clarete chamaram as crianças para ajudar na confecção das Bolachas de Natal. Foi assim o domingo naquele galpão, que de tão simples lembrava onde Cristo nasceu. Todos os bons sentimentos estavam lá, fazendo assim justa reverência à memória do ancestrais.