Escrever um texto apaixonado. Enviar. E ficar aguardando a resposta, com as mãos suando de nervoso, coração batendo acelerado e muita ansiedade. Isso é algo que ocorre desde que o mundo é mundo e nele habitam pessoas que consideram ter encontrado sua alma gêmea. Alguns dirão que isso é coisa do passado e que os relacionamentos, como tudo na vida, evoluíram. Estão cobertos de razão. Ao menos em parte.
Afinal, em tempos tecnológicos, ficar perto da pessoa amada ficou mais fácil. Porém, na essência, será que mudou mesmo? Os textos escritos estão mais curtos, trazem algumas abreviações e muitos emojis. Isso não os faz menos românticos. O enviar não depende mais de selo nem envelope, basta um clicar. Mas a ansiedade pela resposta…essa segue exatamente a mesma. E nem pense em visualizar e não responder. Isso é de partir qualquer coração.
A internet pôs fim a fronteiras também no que diz respeito ao amor. E ajudou aquelas pessoas mais tímidas a entrar no jogo da conquista. Se chegar na garota num barzinho qualquer é difícil para um rapaz. Pode ser que um cadastro num site de relacionamento o ajude a encontrar (e atrair a atenção) de uma mulher legal e, depois de um papo bacana eles resolvam se conhecer.
E daí já não há aquela pressão da conquista. É nesse nicho que os sites de relacionamento encontraram um de seus grandes públicos. Há também aquelas pessoas que estão retomando a vida de solteira após longos relacionamentos e não querem compromisso, apenas conhecer alguém legal. Ou, ainda, quem simplesmente está “pra jogo” ou “pegando geral”.
Esses “casamenteiros virtuais” têm ganho espaço na vida social dos solteiros. Sites de relacionamento como o Be2 e o Par Perfeito ou aplicativos como o Tinder têm cada vez mais adeptos. Tudo para tentar unir os corações dos mais de 80 milhões de solteiros que, estima-se, o Brasil tem. Só o Tinder, que já gerou mais de 1 bilhão de encontros pelo mundo todo, tem mais de 10 milhões de usuários apenas no Brasil.
Mas nem só agora, com a popularização desses sites, a internet ajudou a formar e manter relacionamentos. Quem viveu a época da internet discada ainda lembra-se de como era esperar a meia noite chegar para ficar no MSN por horas com o paquera, às vezes descoberto através de uma sala de bate -papo e que seria adicionados ao Orkut. Velhos tempos em que não existiam Facebook nem WhatsApp. E há casais que resistiram ao tempo e hoje recordam dessa época.
A amizade de internet virou casamento
Assim ocorreu com o Paulo Eduardo Zange a Daniele Knackfuss Guimarães, hoje ambos com 39 anos. O relacionamento começou no ano de 2000, numa sala de bate-papo do site Terra. Ela morava em Santa Maria e ele em Montenegro e durante mais de um ano foi a internet que os manteve conectados. “Nos considerávamos amigos! Sabíamos tudo da rotina do outro. Durante um ano e dois meses nunca vimos uma foto ou escutamos a voz um do outro”, recorda Daniele. Até que em janeiro de 2002 eles enfim se conheceram, em Porto Alegre. Porém, em um encontro de apenas duas horas e que terminou numa despedida entre bons amigos.
Mas ali ficou claro que apenas uma amizade já não bastava para a Daniele e o Paulo. “Nos declaramos, virtualmente, e o namoro começou quase dois meses depois”, ela conta. As visitas ocorriam de 15 em 15 dias, nos finais de semana, sendo a saudade a maior dificuldade. Em janeiro de 2004 veio o noivado e um ano depois Daniele mudou-se definitivamente para Montenegro. Em abril de 2005 eles trocaram alianças na cidade da noiva e em 2007 tiveram o Eduardo, filho único do casal.
“Este ano completamos 12 anos de casamento, muito felizes, enfrentando as dificuldades do dia a dia, mas acreditando que temos um amor especial, de pessoas que passaram a se amar pelas palavras, pelo carinho e atenção demonstrados através das letras do computador, sem a imagem e as impressões que as aparências nos passam”, conta. Um amor que só nasceu graças a tecnologia. “Ela permitiu que casualmente nossos caminhos se cruzassem. Isso nunca teria acontecido de outra forma”, finaliza.
O encontro de um novo amor
Faz quatro anos que a história de amor da Aline de Oliveira Silva, de 35 anos, e do Rogerio G. da Silva, de 31 anos, teve início. Tudo começou pelo Badoo, algumas mensagens de WhatsApp e de ele ir na casa dela fazer um reparo. A Aline já havia sido casada por 10 anos, mas, ao final desse relacionamento, resolveu investir nas redes sociais para encontrar um novo amor. Fez o cadastro no Badoo afirmando buscar por um namorado. O Rogerio já tinha cadastro por lá e a adicionou. Disso, até trocarem os números de telefone, foi rápido.
Nessa época, ele trabalhava em uma madeireira no bairro Santo Antônio. Ela então comprou uma caixa de descarga de banheiro e lhe pediu para entregar e instalar. Ele aceitou. Mas era tudo uma estratégia. “Nem instalar ele sabia”, recorda ela, contando que a instalação deu problemas depois. Mas valeu! Porque depois disso eles passaram a trocar mensagens direto e ele não tardou a chamá-la para sair. Duas semanas depois – UAU!!!! – eles estavam morando juntos. “Hoje em dia, às vezes comentamos de como tudo começou. Nem nos conhecíamos direito, não sabíamos das manias um do outro. Mas ao mesmo tempo parecia que estávamos há anos juntos”, comenta ela.
Eles se casaram civil em 3 março de 2016. Uma história com os perrengues que todo o relacionamento passa, mas de muito amor, companheirismo, amizade e união. E, claro, oportunizada pela internet. “Sem ela, provavelmente não teríamos criado nossos perfis no site Baddo e muito menos nos conhecido”, questiona-se Aline. Agora o grande desejo é tocar a vida com os filhos que já tinham de outros relacionamentos – ele tem uma menina de nove anos e ela um menino de sete – e seguir felizes. “Sabendo que temos um ao outro e que nossos filhos estão bem, com saúde, é o que importa. Estando unidos”. O resto a gente corre atrás, vivendo um dia de cada vez porque o futuro a Deus pertence”, finaliza ela lembrando que casar no religioso e encomendar um bebê está nos planos ao futuro.
Do interior de São Pedro da Serra à França
Foi num bar de rock que o Bruno Blaas Quevedo, de 24 anos e a Bruna Karoline Zwirtes, de 22 anos, se conheceram em dezembro de 2014. Tudo bem presencial, nada virtual. Só que sete meses depois a Bruna embarcou para França, onde passou um ano durante seu intercâmbio. É o Bruno quem conta como a tecnologia os ajudou. “A distância foi diminuída pelas noites falando pelo Skype, pelas mensagens trocadas no WhatsApp, Facebook, Twitter e até o chat do Instagram usávamos às vezes”, conta. Correio? Eles usaram sim. No Dia dos Namorados e no aniversário de namoro. “Enviamos cartas com cartões e algum presentinho pequeno dentro. Tudo, claro, planejado com muita antecedência, já que uma correspondência demorava de 45 a 60 dias para chegar lá”, recorda Bruno.
Uma ligação tradicional internacional custa muito caro. Também por isso, a comemoração do primeiro ano de namoro foi pelo Skype. E, quando ele deixava o casal na mão, eles usavam as vídeo-chamadas do Facebook ou ligações por voz do Whatsapp, que à época não disponibilizava vídeo-chamadas. A Bruna já retornou da França, mas nesse meio tempo o Bruno também já fez um intercâmbio de menor duração na Argentina e, por conta do Mestrado, realizado no Uruguai, ainda precisa se ausentar por algumas semanas durante o ano. “São sempre momentos difíceis por não termos a companhia presencial um do outro, mas amenizados pelas redes sociais”, diz ele. Ele reside no interior de São Pedro da Serra e ela no interior de Carlos Barbosa, então, mesmo quando não estão viajando, a internet os ajuda bastante. E assim seguirá, enquanto eles ainda constroem a vida que tanto querem juntos e mesmo depois, os computadores e telefones vão ajudando a estarem sempre próximos, mesmo quando longe fisicamente.
Do jogo online nasceu um amor
Foi num jogo online, em 2015, que Pâmela Schons Gehling, com 21 anos, e Rafael Vieira dos Santos, também de 21 anos, se conheceram. Era uma diversão para ambos e, lá no início, com um morando em São Paulo e o outro em Montenegro, não havia crença alguma de que o relacionamento iria longe. Mas enquanto jogavam uma amizade foi nascendo e, quando foi testada, mostrou-se forte. “Em um momento difícil da minha vida ele se mostrou ser bem mais que apenas um jogador online, ele queria me ajudar, me confortar com suas palavras, sempre gentil comigo, nunca demonstrou nenhum interesse, apenas queria ser meu amigo. E então fui me encantando por cada detalhe dele, e sem saber que ele também estava por mim”, conta Pâmela.
Passaram-se ainda muitas noites em claro jogando Call of duty ghosts até que o Rafael confessou o que sentia. Mas como acreditavam que tudo seria muito difícil, ele preferiu se afastar. Falharam nessa tarefa. Em dezembro de 2015 ele a pediu em namoro. E no dia 15 de janeiro de 2017 ocorreu o primeiro encontro. “Lembro como se fosse hoje da ansiedade que tomava nossos corações. Matávamos a saudade por Skype, onde fomos conhecendo um ao outro” diz ela. Tudo devidamente registrado em vídeo e publicado no Youtube para incentivar outros casais.
Alguns encontros passaram a ocorrer. Tudo muito feliz, até chegar o instante da despedida. “Nos encontrávamos uma vez ao mês pelo custo da passagem e pelo tempo que tínhamos”, conta Pâmela. Ele vinha ao RS e ela também foi a São Paulo conhecer a família do namorado. Nessas idas e vindas algo mudou. “Na volta pro RS, fiquei muito abalada, sentia que o meu lugar já não era mais no Sul. Neste momento das nossas vidas eu trabalhava e estudava em Montenegro. Tranquei meu curso e pedi as contas e no dia 16 de abril de 2016 eu fui embora da minha cidade”, recorda. Deixar Montenegro significou se afastar fisicamente de sua mãe. Algo que não foi fácil para Pâmela. Porém, sua mãe pode contar com seu apoio e confiança sempre. Além das muitas visitas.
Há um ano Rafael e Pâmela moram em sua própria casa e, apesar das dificuldades, jamais se arrependeram de viver esse amor, que agora se concretiza em outros sonhos como casar, ter filhos e até mudar de país.
Um novo montenegrino
O romance do Lucas Concato, de 26, e da Patrícia Wentz de Moraes, de 22 anos, começou no final de 2015. Um descobriu o outro por um aplicativo de relacionamentos. O primeiro encontro ocorreu em um charmoso café de Porto Alegre. Nessa época a Patrícia já morava em Montenegro e o Lucas na Capital gaúcha. Ela foi até a cidade dele especialmente para conhecê-lo. Mesmo com algumas estradas a separá-los, um namoro teve início. E lá se foram algumas noites de conversas por Skype. “Para diminuir a distância e a saudade um do outro”, conta Patrícia. Alguns meses depois, porém, o Lucas desistiu da distância e se mudou para a Cidade das Artes.
Dessa época pra cá, só amor e muita felicidade em dupla. Eles estão cheios de planos. Querem ter a própria casa, oficializar o relacionamento e a cada dia crescer mais, sempre um ao lado do outro. “Vendo o quão bom somos juntos”, diz Patrícia. Feliz com o relacionamento iniciado no virtual, mas com sentimentos bem reais, ela agradece pelo Lucas ter entrado em sua vida. “E por toda força e apoio que ele me dá. Juntos somos muito melhores”, finaliza.
Se vai tentar encontrar um amor pela internet, tenha alguns cuidados
– Não acredite em tudo o que lê. A internet facilita mentiras;
– Tente conhecer o máximo possível o ou a pretendente antes de marcar um encontro físico. Existem golpistas também nesses sites. Informações e fotos falsas podem fazer você se decepcionar;
– Evite dar seu telefone ou endereço para pessoas que acabou de conhecer na rede;
– Se o relacionamento engrenar, permita-se um momento detetive e cheque coisas que foram ditas. Fique atento a contradições.
– Se a pressão por marcar um encontro for grande, desconfie. Ameaças devem ser levadas à polícia;
– Quando marcarem um encontro, que seja em ambiente público e movimentado. E ao ir, saiba como retornará. Ficar a mercê da carona de alguém que ainda não conhece é muito arriscado;
– Conte a alguém para onde está indo e com quem. De preferência, deixe também o telefone da pessoa com quem irá sair. É uma medida de segurança importante. Lembre-se que por mais íntimos que vocês pareçam, ainda pouco se conhecem.