Disciplinas recém incluídas na grade curricular representam a maior demanda
O ano letivo iniciou com uma série de novidades no ensino das escolas estaduais. Além de novos horários, novas disciplinas, como Projeto de Vida e Produções Interativas, foram adicionadas. Nos anos iniciais, as aulas de Educação Física passaram a ser obrigatoriamente lecionados por professores licenciados na área. O ensino em Espanhol e em Inglês também foi adicionado.
Só que estão faltando educadores que possam suprir a nova demanda. Se em anos anteriores, a falta de pessoal já se fazia se sentir nas instituições de ensino, agora, com as novidades, o problema é ainda maior. Todas as escolas estaduais de Montenegro sofrem, hoje, com falta de professores. São mais de 2.800 alunos que já iniciaram o ano letivo e ainda não estão tendo todas as disciplinas que deveriam ter.
“As direções de escola solicitaram ao final de 2019 os professores e funcionários necessários para completar o quadro de suas escolas e ainda não foram atendidas”, expõe a diretora geral do 5º Núcleo do Cpers (o sindicato dos professores), Juliana Kussler. “O governo estadual, de forma autoritária e sem respeitar as instâncias normativas como o Conselho Estadual de Educação, impôs uma nova matriz curricular com disciplinas para as quais ainda não contratou professores. É uma falta de respeito com a educação e com os gaúchos.”
A secretaria estadual de Educação (Seduc) garante que está trabalhando nas devidas contratações para suprir a demanda, mas não responde às críticas em relação às mudanças na grade curricular. Em nota enviada à reportagem, colocou que o governo autorizou a renovação de 19.980 contratos temporários de professores em 2020; e que foram abertas mais de cinco mil vagas para educadores e demais servidores da educação que serão chamados diante das necessidades apresentadas na rede.
“A Seduc reitera que algumas situações específicas, dentro do município de Montenegro, serão atendidas por novas contratações, ampliações de carga horária e reorganização do quadro de recursos humanos dentro da própria instituição de ensino”, escreveu a secretaria. Mas pais, alunos e equipes diretivas têm pressa na resolução dos problemas. Muitos no meio da terceira semana de aula, ainda estão na espera.
Situação é complicada de escola em escola
Na Adão Martini, na localidade de Vendinha, os alunos ficam no pátio durante o que seria seu período de Inglês. Também está faltando uma professora de currículo para o 3º ano. Ali, a vice-diretora e a responsável pela biblioteca se dividem com a turma. A situação afeta cerca de 185 estudantes.
Não tem professor para a nova disciplina de Produção Interativa da Escola Aurélio Porto. A diretora, Andréia Kerber Oliveira, conta que a equipe realiza alguma atividade no período para não liberar os quase 100 alunos. Por lá, o novo professor de Educação Física só iniciou na última segunda-feira, três semanas após o início do ano letivo.
Mas ainda falta alguém para Educação Física na Dr. Jorge Guilherme Moojen. Por lá, também há demanda pelo professor de Espanhol, afetando 200 alunos. A equipe existente está trabalhando com atividades de substituição para não deixar os alunos sem atividades.
A vice-diretora do Yara Ferraz Gaya, Débora Rohr, conta que o pessoal está se virando para atender uma turma do 4º ano que está sem professora de currículo. Para as duas turmas que estão sem Educação Física e Produções Interativas, no entanto, os períodos estão sendo livres. São 310 alunos afetados.
Alternativa parecida é a da Escola Manoel de Souza Moraes, no bairro São João. 45 alunos do 6º e do 7º ano do Ensino Fundamental estão tendo aulas de segunda à quarta-feira, apenas. Os pais foram avisados da limitação ainda na primeira semana de aula, em fevereiro, devido a demanda de educadores nas disciplinas de Português e Matemática. Também faltam quatro horas de Educação Física, mas ainda não há quem lecione.
40 alunos estão sem Espanhol na Escola Osvaldo Brochier, em Santos Reis. E cerca de 300 estão com períodos livres na Dr. Paulo Ribeiro Campos (o Polivalente) sem educadores nas disciplinas de Química e Biologia do Ensino Médio.
Na Delfina Dias Ferraz também há demanda no Espanhol, além de Geografia. O problema afeta 100 alunos. Na José Garibaldi, em Porto Garibaldi, são 50 jovens sem Educação Física, Inglês e Matemática. No A.J. Renner, 400 sem Química e sem Espanhol o dia todo. Também não tem quem lecione Inglês no turno da noite.
Também afetados pelas novidades na grade, cerca de 250 alunos do Januário Corrêa não têm professor para Espanhol e Projeto de Vida. Falta Espanhol, ainda, para 113 estudantes do Núcleo Habitacional Promorar. Na Adelaide Sá Brito, a demanda é por professores, não só de Espanhol, mas também de Português e Educação Física, fora um supervisor, que é aguardado desde o ano passado. São 90 alunos prejudicados, segundo a direção da instituição.
Espanhol e Educação Física são necessidades também na Coronel Álvaro de Moraes para cerca de 400 alunos. “Se mudaram a grade no fim do ano passado, tinham que ter previsto o RH antes”, lamenta a diretora Daise de Moraes. Ela conta que, de acordo com os prazos legais, fez a solicitação dos professores ainda em janeiro.
PERDAS
O prazo para que a demanda da Escola Tanac seja resolvida é só 15 de abril. Foi o que recebeu a diretora, Jakciane Pasini, da Coordenadoria Regional de Educação. Por lá, falta professor de Educação Física, Espanhol, História e Matemática, afetando os 220 alunos. A equipe tem tentado suprir os horários com diferentes atividades, como recreação e dia de leitura, mas a diretora lamenta uma perda no aprendizado sem a aula conduzida por um especialista nas disciplinas.
É a preocupação do diretor Renato Kranz no Colégio Ivo Bühler (o Ciep). Além de estar sem uma professora de Inglês no noturno, há demanda no turno integral da instituição. Faltam dois professores de currículo para o 1º ano e uma para o quinto, afetando 75 alunos. Apesar do direito à aula integral, eles estão sendo liberados logo após o almoço. Ficam sem as habilidades em disciplinas do integral como Meio Ambiente, Expressão Artística e Leitura.
Após a recuperação da última greve e o período legal de férias, o São João inicia as aulas nessa sexta-feira, 13. É a última instituição de Montenegro a voltar às aulas. Há informação de falta de professores de Literatura, de Espanhol e para o curso de Eletrotécnica. Segundo a direção, a demanda vai atingir cerca de 500 alunos.
A Secretaria de Educação não esclareceu como os alunos vão recuperar as aulas perdidas.
Reflexos também nos municípios da Região
No Colégio Estadual Engenheiro Paulo Chaves, em Maratá, o quadro de professores e funcionários está completo. No entanto, há a possibilidade de saída de uma professora que dá as aulas de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio e de Língua Espanhola para o Ensino Médio e para os anos finais do Ensino Fundamental.
Em Brochier, a Escola Estadual de Ensino Médio Erni Oscar Fauth sofre com a falta de um professor de Educação Física que atenda os anos iniciais do Ensino Fundamental, afetando 76 alunos. Sem esse profissional, o docente do currículo normal mantém o atendimento. Isso afeta a efetivação das horas-atividade do professor.
Na EEEM São José do Maratá, em São José do Sul, 98 estudantes desde o 6º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio são afetados pela falta de professor de Língua Espanhola e de Língua Portuguesa. Com a falta desse profissional, em alguns períodos os alunos acabam sendo liberados. Além disso, também falta profissionais para a supervisão e orientação escolar.
Os cerca de 100 alunos da EEEM São Francisco de Assis, de Pareci Novo, sofrem com a falta de docentes de Língua Espanhola, Língua Inglesa e Matemática. Além disso, a escola está sem servidor para a limpeza. Para driblar a falta de professores, no turno da tarde outros professores assumem as turmas. Já no turno da noite, os alunos acabam sendo liberados mais cedo. A limpeza é feita com a ajuda dos professores, demais funcionários e alunos. (ARH)