Espaços de leitura na Modulada trazem oportunidade ressocializadora, além de preparar apenados para o Enem
Quem nunca ouviu que só a Educação é capaz de mudar o futuro? Seguindo essa linha de pensamento, desde 2013, a Penitenciária Modulada Estadual de Montenegro trabalha com o incentivo e o fomento à leitura dentro da instituição.
De acordo com a assistente social Ana Caroline Ferreira, as ações são direcionadas aos apenados, seus familiares e servidores da prisão. Através de uma parceria firmada entre a Penitenciária e o Banco de Livros de Porto Alegre, criou-se um espaço com títulos variados, tanto para os homens como para as mulheres que cumprem pena.
No começo, a seleção, organização e distribuição dos livros era realizada por um técnico do Serviço Social ou da Psicologia. “Porém, a partir de 2015, houve a escolha de facilitadores de leitura, entre os próprios detentos, que desempenham essa função na sala de livros”, explica Ana Caroline. O sistema dá chance a todos os interessados, que fazem este papel durante um mês e depois dão a oportunidade a outro apenado.
O trabalho de controle, catálogo de títulos, digitação em planilhas, inclusão de obras e organização é realizado por um preso selecionado pela equipe técnica, tanto entre homens quanto entre mulheres.
Além daquele que cuida da biblioteca, cada uma das 12 galerias dos módulos masculinos possui um preso que é facilitador de leitura na própria galeria. A cada 30 dias, são entregues 49 livros para esse apenado e ele é responsável pelo controle e distribuição, assim como pelo incentivo à leitura entre os apenados do seu convívio. Após um mês, ele fica encarregado por recolher as obras e devolvê-las, recebendo nova caixa com lista. “No módulo feminino, não existe a função de facilitadora de galeria, somente a facilitadora geral que controla e distribui os livros”, destaca Ana Caroline.
Títulos, inclusive infantis, ficam disponíveis na sala de visitação para que parentes dos presos possam levá-los para suas casas. Para os servidores da Modulada, as obras também são disponibilizadas para empréstimo.
Páginas Viradas, da Liberdade e doações
Segundo Ana Caroline, são em torno de 900 títulos para a ala masculina e 100 na feminina, em dois locais chamados de espaço de livros. De acordo com uma normativa do Conselho de Biblioteconomia, para ter uma biblioteca, é necessário um funcionário bibliotecário. Por isso, intitulamos os locais de ‘espaço’. A que atende ao público masculino fica no módulo I e chama-se Páginas Viradas, enquanto a segunda sala, no anexo feminino, é chamada da Página de Liberdade”, enfatiza a assistente social.
Doações são bem vindas, mas é preciso atentar para os conteúdos. Isso porque, para o acervo, há restrições de títulos, não sendo aceitas temáticas de cunho sexual e de extrema violência.
“No momento, estamos admitindo doações de obras de ficção e literatura geral, além de livros infantis e com temas religiosos. Porém, todo o material que vier será muito bem recebido. Ganhamos livros didáticos das escolas de Montenegro no início do ano. Isso aumentou nosso acervo e acrescentou na proposta de preparo para o Enem, que também ocorre no sistema penitenciário, mas em datas diferentes” informa Ana.
Em 2016, 228 presos inscritos no Enem
A Modulada também tem um projeto que prepara os presos para o Enem, além de concursos de poesias em datas temáticas, como Dia das Mães e dos Pais. No ano de 2016, foram 228 presos inscritos, onde cinco passaram em todas as disciplinas, completando o Ensino Médio e tendo oportunidade de, no futuro, iniciar o Ensino Superior. Mais de 100 presos passaram de forma parcial, eliminando apenas algumas disciplinas, por isso eles solicitam o acesso aos livros didáticos para iniciarem o preparo dos estudos.
A partir dessas solicitações, no mês de junho, os livros didáticos já começarão a ser entregues para que os apenados possam iniciar os seus estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio.
Eles também participam de uma seleção para o livro que a Susepe está prestes a lançar, chamado ‘Vozes de um Tempo’, que reúne poesias e textos de presos de diversos estabelecimentos penais do Estado.
Horta proporciona redução nas penas
Outro excelente projeto foi iniciado em agosto de 2016 dentro da instituição prisional. A iniciativa da direção, em parceria com o setor técnico e de segurança está oportunizando trabalho e remição – redução de pena por dias trabalhados – para as reeducandas do Anexo Feminino, através de uma horta.
Todos os alimentos, conforme Ana Caroline, são saudáveis, produzidos sem uso de agrotóxicos e com técnicas de agricultura Biodinâmica. “A ideia é poder complementar a demanda do estabelecimento prisional, familiares, além de instituições assistenciais do município de Montenegro. Nós, inclusive, já realizamos doações para a Apae e para o Recanto das Vovós”, diz
O plantio de 100 árvores frutíferas também foi contemplado com o projeto, além de verduras e hortaliças.
“O setor técnico e a direção têm investido em ações que incorporem a solidariedade, sustentabilidade e reaproveitamento como viés do tratamento penal, oportunizando o preparo de um terreno mais fértil para o futuro egresso”, conclui a assistente social.