Tragédia ocorrida com o Museu Nacional do Rio de Janeiro deve servir de alerta para preservação de outras instituições
A tragédia ocorrida no Museu Nacional do Rio de Janeiro gerou um sentimento de luto no país. O incêndio na instituição bicentenária deixa prejuízos incalculáveis pela perda da maior parte do seu acervo, além do valor histórico do próprio prédio. “É uma perda irrecuperável para o Brasil e para o mundo”, analisa a historiadora Lisiane da Silva Lopes, agente administrativa auxiliar no Museu Histórico de Montenegro Nice Antonieta Schüler.
O incêndio começou no início da noite de domingo, 2, e somente foi controlado na madrugada de segunda-feira, 3. As causas ainda serão investigadas, mas as condições precárias do prédio já eram de conhecimento público. O ocorrido no Rio de Janeiro deve servir de alerta para outras instituições que guardam registros da história. E nesse contexto, surge a questão: quais as condições dos órgãos que guardam boa parte da história de Montenegro?
Lisiane antecipa que o prédio do Museu Histórico deve receber melhorias no próximo ano. Ela observa que o problema é de infiltração na parede da frente, em decorrência de danos na calha que precisa de reparos. A historiadora esclarece, porém, que essa situação não compromete o acervo, pois não há objetos próximos. Em relação a controle de roedores, insetos, limpeza de caixa d’água e disponibilidade de extintores de incêndio, ela afirma que está tudo em dia. Lisiane acrescenta que a descupinização em objetos de madeiras, que integram o acervo, é feita regularmente.
Ela salienta que o prédio do museu é patrimônio histórico, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), pois integra o complexo da Estação da Cultura. Desta forma, qualquer obra de melhoria deve ser bem planejada e executada sem comprometer as características históricas e arquitetônicas da edificação, que é de 1913 e abrigava a cooperativa dos ferroviários. Essa condição demanda maior cuidado no planejamento e mão de obra especializada na execução.
Ao lado do museu está o Arquivo Histórico e Geográfico Maria Eunice Müller Kautzmann, que guarda o acervo documental do município, e também integra o complexo da Estação. Lisiane observa que também há necessidades nesse imóvel, mas são menores. Ela esclarece que se trata da substituição de algumas telhas, mas garante que o problema não está comprometendo a preservação do acervo.
Embora o projeto de melhorias previstas limite-se ao Museu Histórico, Lisiane acredita que a troca de telhas no arquivo também irá ocorrer, mas ainda não há prazo. Na época em que os trens faziam parte do cotidiano de Montenegro, a farmácia dos ferroviários funcionava onde hoje é o arquivo histórico.
200 anos de história
O Museu Nacional do Rio de Janeiro é a mais antiga instituição histórica do país, pois foi fundada por dom João VI em 1818. É vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com perfil acadêmico e científico. O local reunia um acervo de mais de 20 milhões de itens dos mais variados temas, coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. O museu tinha a maior coleção de múmias egípcias das Américas.
Entre os destaques do acervo, estava “Luzia”, o mais antigo fóssil humano encontrado nas Américas, que remete a 12 mil anos, e representa uma jovem de 20 a 24 anos. No museu, havia ainda o esqueleto do Maxakalisaurus topai, maior dinossauro encontrado no Brasil.
A edificação foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O Museu Nacional do Rio oferece cursos de extensão e pós-graduação em várias áreas de conhecimento. Para esta semana, era esperado um debate sobre a independência do País. Para o próximo mês, estava previsto o IV Simpósio Brasileiro de Paleontoinvertebrados no local. (fonte: Agência Brasil)