Entregadores enfrentam dificuldades, mas por amor ou necessidade, honram a profissão
Em momento de pandemia, a vida de todo mundo mudou pelo menos em algum aspecto. Com todas as dificuldades que passamos, alguns profissionais são essenciais e às vezes, mesmo que nem se perceba. Os motoboys são exemplos disso. Com a cidade de Montenegro e também outros municípios da região em bandeira vermelha do sistema de Distanciamento Controlado do Estado, apenas estabelecimentos que vendem itens essenciais podem estar abertos, por tempo indeterminado. Assim sendo, apenas conseguimos aproveitar os fast foods, por exemplo, se recebermos diretamente em nossa casa.
Nesse contexto, a classe dos entregadores é uma das que não parou de trabalhar, muito pelo contrário, eles têm tido aumento na demanda. Mas nem sempre se sentem valorizados. Neste mês os motoboys de algumas capitais brasileiras fizeram protesto para reivindicar por melhores condições de trabalho e aumento no valor das corridas. Mesmo a ação não abrangendo Montenegro, cabe a reflexão sobre a importância dessa classe principalmente nos últimos meses.
“A crise nos obrigou a descobrir talentos”
O montenegrino Lucas de Oliveira, 26, é novo na profissão de motoboy. Antes da pandemia, todos os empregos em que esteve foram na área de eventos. Montador, barman e garçom são funções que já lhe deram sustento. Ao se deparar com o setor parado por completo, Lucas precisou se virar para seguir colocando alimento na própria mesa. Foi assim, que, há um mês, ele trabalha como motoboy, o que nunca tinha feito antes. “Comecei porque precisava de um trabalho. Foi o que surgiu no momento e eu preciso do dinheiro. A crise nos obrigou a descobrir novos talentos”, pontua.
Lucas trabalha em um único restaurante no horário do meio-dia, das 11h às 14h e conta que tem um acerto com o proprietário do local. “Eu trabalho só lá. Nós temos um combinado devido à pandemia. Ambos tivemos que achar meios que continuar a trabalhar”, afirma.
O motoboy realiza em média 15 entregas por dia. “Às vezes vou até a Timbaúva, volto para o Centro e tenho que voltar para a Timbaúva de novo. Mas é divertido, dá para curtir as voltas, principalmente para quem gosta de andar de moto”, aforma. “Só não nos dias de muito frio e chuva”, completa.
Ele ainda conta que alguns dias são bem corridos. “Dependendo do dia é bem avoado. Isso porque as pessoas têm um horário para almoçar, então nós nos esforçamos para manter o horário certo” conta. Questionado se já passou por alguma experiência negativa com clientes, Lucas nega. “O pessoal está bem compreensível até o momento. Mas se me trataram mal, eu nem reparei. Preciso focar nas entregas”, destaca.
Lucas tem futuro incerto, já que até segunda ordem, seu trabalho original estará paralisado e tem tendência a ser um dos últimos a voltar ao funcionamento. “Nós nunca sabemos o dia de amanhã. Eu tenho um plano de carreira para mim, mas nunca se sabe. Temos que sobreviver. Às vezes não dá para escolher. Creio que se fosse assim, todo mundo escolheria ganhar muito dinheiro e ainda em algo que goste de fazer”, finaliza. Por isso, Lucas não descarta a possibilidade de seguir como motoboy, nem considera largar o ramo dos eventos.
“Sem gostar de moto, não continua na profissão”
O montenegrino Lauri de Oliveira, 35, trabalha com entregas há oito anos. Oliveira conta que não foi ele quem escolheu a profissão, e sim, foi o escolhido. Tudo começou como um auxílio à família. “Há algum tempo a minha mãe começou a trabalhar com almoço, aí não valia a pena pagar um motoboy porque para muitas pessoas se tornava bem caro então eu mesmo comecei a entregar e não cobrava a tele”, pontua ele.
Ele explica que nunca deixou de fazer o serviço para a mãe e que com o tempo, os clientes foram se acostumando com seu trabalho. “O pessoal começa a criar uma confiança porque me viam sempre. Aí acabavam me chamando para fazer o serviço. Tem bastante pessoal de idade, aposentado que confia. Então por muito tempo eu segui fazendo assim”, afirma. Atualmente além de moto, Lauri também realiza entregas de carro no horário do almoço, das 10h às 14h30min, geralmente. Ele estima que, por dia, deve fazer cerca de 20 entregas.
Lauri conta que ao longo dos anos, nunca teve problemas com clientes. O que ele comenta é sobre os locais perigosos em que no início de sua jornada teve que passar. “Tinha uns becos que ia que davam medo, mas depois, com o tempo a gente acaba acostumando e fica mais tranquilo”, conta.
Ele ainda deixa claro: sem gostar de moto, não continua na profissão. “É complicado. Chega Inverno, chuva, frio que daí é só gostando mesmo para continuar”, salienta o motoboy. Para ele, a pior parte ainda não é essa, e sim o trânsito. “Muitos não respeitam porque às vezes a gente quer ser ágil para ganhar tempo. Principalmente os caminhoneiros, eles não respeitam motoqueiros, então tem que ir cuidando”.
Em compensação, também tem coisa boa. “Eu acabo conhecendo muita gente, muitos lugares e isso é um lado muito bom. Eu não me vejo mais não fazendo o que eu faço”, pontua. Diferentemente de Lucas, Lauri tem muito bem traçado seu futuro na profissão. “Enquanto eu tiver saúde, pretendo seguir porque é o que eu gosto de fazer”, finaliza