Moradores do Faxinal lutam para ter água potável

Sem opções viáveis de abastecimento, comunidade aguarda instalação de poço comunitário no Morro dos Barretos

A localidade de Morro dos Barretos, no Bairro Faxinal, vive há anos uma situação delicada. Ali, as mais de cem famílias não têm água potável para beber. Sem o atendimento da Corsan, que não chega até lá, a comunidade se obriga a optar por poços. Quem tem poucas condições, faz os chamados “poços cavados” que, em épocas de seca, ficam completamente vazios. Quem pode um pouco mais, perfura um poço artesiano para o abastecimento e, do lençol freático, acaba recebendo uma água amarelada pela contaminação do solo.

Mais de cem famílias enfrentam, hoje, o dilema da água

A dona de casa Cristiane Vianna está neste último grupo. Do poço artesiano que tem, ela conta, a água parece sair limpinha. Mas é só deixá-la parada por alguns minutos que o líquido acaba amarelado. Com quatro crianças e um idoso em casa, a alternativa é gastar na compra de água mineral para o consumo. Nem a roupa se pode lavar com o conteúdo que vem do poço. “Aqui todo mundo sofre com isso”, lamenta.

Vizinha de Cristiane, Adélia Machado tentou, em cinco pontos da propriedade, escavar um poço artesiano, o que não saiu barato. Em todos eles, a água saia contaminada, parecendo uma ferrugem. Acabou que ali se optou pelo “poço cavado” que, não buscando água no lençol freático, traz um conteúdo mais limpo. O problema é que ele seca. Nos tempos de estiagem, a casa de Adélia fica sem água, levando-a a recorrer à vinda de caminhões-pipa da Prefeitura ou à solidariedade de vizinhos.

Gemarcel e Everton mostram o local onde foi perfurado o poço. Falta o reservatório e a instalação das tubulações

O instalador de alarmes Gemarcel Martins dos Santos passa pelo mesmo dilema. Nos meses de janeiro, fevereiro e março, dificilmente ele tem água em seu poço. “Eu vejo pela minha grama. Quando ela começa a secar, pode saber que vai faltar água”, relata. É um vizinho, dono de um poço industrial, que cede o abastecimento para a residência neste período. Para isso, ele usa uma mangueira, que atravessa a cerca e vai até a caixa d’água dos Santos.

Morador da localidade há 12 anos, Gemarcel conta que, por um tempo, seu poço próprio foi suficiente para abastecer o lar. Com as mudanças climáticas, no entanto, a dificuldade começou. “A água é a sobrevivência do cara e a pior coisa é tu não ter o básico. Pensa! Um pai não ter água potável para a sua família”, desabafa. O instalador vive, ali, com a esposa e o filho pequeno.

A conquista de um posto comunitário
Não foi fácil, mas a comunidade conseguiu se mobilizar para a instalação de um poço artesiano comunitário, do tipo industrial. Em uma área mais alta do morro, ele capta a água de um ponto sem contaminação e deve buscar um volume de sete mil litros de água por hora, atendendo a todas as famílias. A Associação de Moradores garante que não há risco de ele secar.

O “poço cavado” foi a opção na casa de Adélia Machado. Desafio é mantê-lo cheio em épocas de seca

Pedido desde 2010 e feito só em 2017, no entanto, o atendimento do poço ainda não está chegando na casa de ninguém. Cercado de burocracia, um primeiro abaixo-assinado foi feito em 2010. Acredita-se que ele tenha sido perdido e, em 2013, protocolou-se um segundo. Eram 136 assinaturas, que serviram para iniciar os trâmites. Everton César Baum, secretário da Associação, guarda até hoje um documento, de 2014, que autorizou a verba de R$ 250 mil para a perfuração.

O morador Gemarcel conta que, com isso, em 2015, a empresa que faria este serviço foi até o local para realizá-lo. Ao chegar lá, não encontrou o material necessário que deveria ter sido deixado ali pela Prefeitura. A instalação, então, foi jogada para a última atividade da lista de demandas da prestadora. Segundo Gemarcel, o material solicitado foi chegar só em fevereiro de 2016. E ali ficou, a céu aberto, até outubro de 2017, quando a obra foi realizada.

O poço está lá desde esta data. O próximo passo, agora, é a instalação do reservatório e das tubulações que levarão a água até as residências. O dinheiro para isso sairá do Fundo de Gestão Compartilhado entre a Prefeitura e a Corsan – que é um valor depositado pela empresa para que o município realize ações que envolvam saneamento. De acordo com o chefe da unidade local da Corsan, Lutero Fracasso, o único papel da instituição é autorizar a retirada deste fundo. Isso ocorreu há cerca de um mês e meio.

“O poço, que foi o mais difícil, a gente conseguiu. A nossa maior riqueza está aqui em cima, mas está abandonada”, lamenta Gemarcel, diante do poço inativo. Também é necessário que a RGE Sul leve energia elétrica trifásica até o local. Para isso, um protocolo foi aberto em novembro e há um prazo de 120 dias para elaboração do projeto e 180 para a execução. Contatada, a RGE informou que o pedido está pendente, aguardando manifestação da Prefeitura.

Esta, por sua vez, afirmou que o encaminhamento do poço comunitário ainda está em fase de orçamento e não deu prazos. Quando instalado – à exemplo das localidades de Muda Boi e Santos Reis – o poço será de responsabilidade da Associação de Moradores. Serão eles que recolherão as taxas de manutenção e farão a cobrança do consumo dos moradores. A comunidade tem pressa.

Uma comunidade e muitas queixas
O sentimento de indignação dos moradores do Morro dos Barretos com o atendimento que recebem do poder público é grande. Na última semana, Gemarcel Martins dos Santos usou as redes sociais para um desabafo. “É uma inversão de valores. O Faxinal é o bairro que mais arrecada ICMS para a cidade, com os citros, a JBS, a Comexi […] A Prefeitura abandonou nosso bairro. Talvez caiba até o Ministério Público investigar o que está acontecendo”, escreveu.

Além da situação da água, ali o esgoto das residências corre a céu aberto, morro abaixo. Há meses que ninguém passa para arrumar as estradas, que estão em um estado crítico. A falta de uma lixeira comunitária e do atendimento da coleta seletiva no morro é outro problema. Muitos moradores, com isso, para não amontoarem os resíduos em seus pátios, estão queimando o lixo em suas propriedades, trazendo riscos e danos ao meio ambiente.

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