Após atropelamento que vitimou professora, preocupação é que outras
sejam mortas na movimentada via pública dos bairros Senai e São Paulo
A morte da professora Aline Fabiana da Rosa Silva de Sá, de 39 anos, vítima de um atropelamento na rua Campos Neto, bairros São Paulo e Senai, trouxe novamente um debate à tona: a instalação de quebra-molas na via.
A mobilização dos moradores começou em 2016, com uma petição para a colocação de lombadas na rua. Na época, mais de 200 assinaturas foram coletadas. A preocupação dos residentes é com o excesso de velocidade dos veículos que transitam ali.
No inicio do ano passado, o jornal Ibiá chegou a conversar com habitantes da rua e do entorno que, cansados de esperar pelo poder público e preocupados com a própria integridade física e dos familiares, subscreveram o abaixo-assinado. Para eles, a área mais crítica compreende o trecho que vai da Secretaria Municipal de Saúde até a altura da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Pedro Steigleder.
A Campos Neto é uma rua bastante movimentada. Em período letivo, muitas crianças e jovens transitam pela via, oriundas de pelo menos três instituições de ensino das proximidades. A rua sedia ainda a Justiça do Trabalho, a Secretaria Municipal de Saúde, a escola de Ensino Médio do Sesi, o Centro de Atividades do Sesi, a escola Municipal de Ensino Fundamental José Pedro Steigleder e o Residencial Erico Verissimo – onde residem aproximadamente 140 famílias.
Nolar Antônio Lenz, 56 anos, há aproximadamente um ano reside na via. A esposa, Ornidia Rejane da Motta Lenz, 44 anos, há mais tempo: 14 anos. “Aqui eu presencio de tudo, desde motoristas que respeitam o trânsito aos que não têm cuidado algum. Acredito que um quebra-mola já ajudará muito a minimizar as imprudências. Dois, na verdade, um em frente ao Bar do Japa, onde há a curva, e outro próximo à escola Sesi. Depois dessa morte, espero que o poder público se proponha a colocar”, destaca.
De acordo com Teolina Fraga, 75 anos, moradora há 30 anos da Campos Neto, o horário mais crítico de trânsito é a partir das 11h30min e às 17h – intervalo de tempo em que muitos alunos passam por ali. “De uns 10 anos para cá, quando aumentou a população, houve também o aumento no fluxo de veículos e pessoas que transitam por aqui. Até então, eu só havia presenciado colisões mais leves, nada tão grave quanto o acidente do último dia 4”, relembra.
Para Teolina, se forem instaladas, as lombadas precisam ser mais altas do que quebra-molas comuns. “Senão pouco adiantará. Assim, os condutores serão obrigados a reduzir a marcha”, pontua.
Clotilde dos Santos de Almeida concorda com Teolina e ainda completa. “Tem que ter faixa amarela em alguns trechos, proibindo o estacionamento. Principalmente porque alguns caminhões ficam estacionados próximo ao residencial e acabam bloqueando a visão dos motoristas”, observa, na expectativa de que, agora, os apelos da comunidade sejam ouvidos.
Antigamente existia lombada
Moradora há 14 anos da rua, Ornidia Rejane afirma que, antes de ser asfaltada, há alguns anos, a Campos Neto possuía lombadas no trecho mais movimentado. E desde que reside ali, afirma que briga pela causa.
“Acredito que, na entrada da rua, na esquina da Secretaria de Saúde, e aqui na curva são locais complicados. E é nas curvas que as pessoas morrem e foi onde o motorista se perdeu. Espero que agora seja resolvida a situação. Triste saber que uma pessoa morreu e nada foi resolvido. Se alguém disser que não tem como, eu te digo que pode, sim”, conclui, visivelmente irritada.
O diretor do Departamento Municipal de Trânsito, Airton Oliveira de Vargas afirma que, desde sua posse no cargo, em 22 de agosto de 2017, não teve conhecimento do abaixo-assinado no setor. Questionado sobre a possibilidade de instalação de quebra-molas na Campos Neto, afirmou que depende do trecho da via. As variáveis, de acordo com ele, são definidas pela Resolução 600/2016 do Conselho Nacional de Trânsito. “Infelizmente ações imprudentes e arriscadas são observadas rotineiramente em nosso trânsito. O tema é extremamente complexo. Ações educativas também seriam positivas.
Quanto à fiscalização, temos de reconhecer essencial a utilização de equipamento medidor de velocidade para formal constatação e punição. Referente à sinalização viária, entendo como suficiente àquelas existentes no momento, como, por exemplo, pinturas de faixas de pedestres, demarcação de eixo de pista, placas de área escolar. Também não está descartada a implantação de tachões no eixo da pista de rolamento “, conclui o diretor, sobre medidas para coibir os excessos.
IMPORTANTE
Semana passada, da tribuna da Câmara, alguns vereadores fizeram eco ao apelo dos moradores pela instalação de redutores de velocidade na rua Campos Neto. Cristiano Braatz (MDB) formalizou requerimento propondo agendamento de reunião para tratar sobre o trânsito de veículos e a sinalização na via, não apenas no local em que ocorreu o acidente fatal, mas em toda a sua extensão. A proposta deve ser analisada pelo plenário na sessão de hoje, a partir das 19h, e a realização se dará nos próximos dias.
Alertas sobre riscos de acidentes graves são antigos
A maioria dos moradores entrevistados pela reportagem presenciou ou ouviu o atropelamento de Aline. Um dos primeiros a chegar no local para prestar socorro foi o empresário José Carlos da Silva, 47 anos. Proprietário de uma estética automotiva na rua, ele destaca o transtorno que é a entrada e saída de veículos no seu estabelecimento, principalmente em horário de pico. Cuidado dobrado, segundo José. “Um dos principais problemas é o excesso de velocidade com que os veículos passam aqui. O pessoal não respeita mesmo. É importante a colocação de dois quebra-molas; um em frente ao Bar do Japa e outro próximo ao Sesi. Nem faixa de segurança tem em frente à escola”, salienta.
O empresário lamenta a gravidade no caso do dia 4 e informa que os acidentes são frequentes na Campos Neto. “E onde não é possível ter velocidade, mais chance de frear, a pessoa se defende, evitando um acidente”, conclui.
A briga pelas lombadas é antiga. Em entrevista anterior ao Ibiá, em janeiro de 2017, o comerciante Marcio da Rocha Fraga, criado “a vida toda” na rua, questionou: “o que eles estão esperando para instalarem os quebra-molas? Uma vítima fatal ou com sequelas? Tem que acontecer uma tragédia?”.
Agora, ele defende que o poder público precisa trabalhar a fim de evitar uma segunda fatalidade. “São muitos acidentes que acontecem na rua. A instalação de lombadas não seria a salvação para tudo, mas evitaria muita coisa. E fica aquela velha pergunta: quantas pessoas ainda precisam morrer para que seja feito algo? O motorista que matou a moça conhecia a via. Se existisse quebra-molas, talvez não estivesse na velocidade em que estava”, argumenta.