Moradores buscam retomar vida após dia de destruição

Um mês depois. Aos poucos, cidade vai se reconstruindo e retornando à normalidade, após vendaval deixar rastro de perdas

A segunda-feira é uma grande data para Ida Lucena Rhoden. O dia 10 de julho deste ano marcará os 80 anos de seu nascimento. Porém, a moradora de Linha Progresso, no interior de São José do Sul, não poderá fazer uma festa em sua casa para os amigos, como havia planejado, porque sua casa não existe mais. A residência onde a idosa e seu filho moravam foi completamente destruída pelo forte vendaval que atingiu a região no dia 8 do mês passado. Enquanto vê a solidariedade ajudá-la a reconstruir a moradia, Ida mora com sua filha e o genro. A residência, localizada a poucos metros de onde ficava a da idosa, teve seu telhado arrancado, mas já foi consertada.

O genro de Ida, Heitor Schallenberger, 52 anos, destaca que a maior parte do material para a reconstrução da casa da sogra já foi conquistada através de doações ou aquisição com o dinheiro da família. “Mas vai faltar dinheiro para a mão de obra”, lamenta. Nos cálculos de Heitor, o trabalho de construção deverá ficar em torno de R$ 20 mil. Quem tiver interesse em ajudar pode entrar em contato pelo telefone 3614-8069.

Enquanto sonha com uma nova casa de dois quartos, não muito grande e com uma pequena área na frente, Ida se mantém ativa cuidando da terra. Próximo da sua antiga residência, a idosa passou a cultivar uma pequena horta. “Não posso ficar parada”, garante. Lembrando dos momentos tensos após a destruição de sua residência e das muitas lágrimas que já escorreram pelo seu rosto, a aposentada se diz muito feliz por toda a ajuda que vem recebendo. “Eu, sozinha, não posso fazer (uma casa nova)”, destaca.

Não muito distante da propriedade de Ida, a destruição também foi grande. Aos 74 anos, Rudi Alfredo Schüster viu 10 folhas de zinco do telhado da sua casa voarem com a força do vento na madrugada do dia 8 de junho. “Acordei com o barulho, que parecia granizo. Aí deu um estalo e já começou a cair água dentro de casa”, recorda. Além disso, duas estufas suas ficaram danificadas e outra foi completamente destruída. Os reparos na residência foram garantidos pelo seguro. Já o prejuízo de R$ 35 mil das estufas, não.

A reconstrução dos espaços onde Rudi produz morangos orgânicos foi feita com a ajuda de amigos, que trabalharam 14 dias diretos para reerguer as duas estufas parcialmente danificadas. O espaço totalmente destruído era usado para a plantação de tomates e hoje é utilizado para o plantio de algumas hortaliças. “Essa vamos recuperar só ano que vem e transformar em uma estufa de morango”, projeta. Também produtor de laranjas, ele agradece o fato de o vendaval não ter atingido seu pomar. “Se pegasse, já era”, resume.

De acordo com a Defesa Civil do município, o vendaval atingiu 65 residências na cidade, deixando duas completamente destruídas e 63 danificadas. Um prédio ocupado por duas empresas também sofreu destelhamento. Na agricultura, estima-se que 4.860 m² de acácia e eucalipto tenham sido perdidos. Além disso, quatro galpões e três estufas sofreram estragos. A estimativa é de que os prejuízos no setor público totalizem R$ 1.462.000,00.

No setor privado, os danos são avaliados em R$ 811.780,00. Segundo a coordenadora da Defesa Civil em São José do Sul, Magali Regina Lottermann, só os reparos necessários na Creche Laranjinha comam R$ 250 mil. “Estamos buscando auxílio federal para a reconstrução da creche e das estradas”, garante. Inclusive, ontem os integrantes do órgão no município estiveram num treinamento para aprender a encaminhar Planos de Resposta ao governo federal com a maior agilidade.

Retomada da rotina vai ocorrendo aos poucos
O padeiro Jair Frühauf, 35 anos, recorda que, na madrugada do dia 8 de junho, carregou o seu veículo na padaria, localizada às margens de BR-470, e foi até a sua casa para buscar a filha pequena, que desejava ir junto com o pai fazer as entregas do dia. Porém, ela acabou desistindo e Jair seguiu sozinho. Quando chegou ao pórtico da cidade, teve que parar o carro em razão do forte vento e da chuva. Assim que a tormenta passou, dirigiu-se novamente ao prédio onde ficava sua padaria e o encontrou destruído. Sem ter o que fazer, ele avisou a mulher sobre os danos e foi fazer as entregas.

Em razão dos estragos, Jair e outras duas pessoas que trabalham com ele ficaram 12 dias sem fabricar cucas, pães e bolachas. O prejuízo calculado causado pelos danos é de até R$ 35 mil. “O maquinário não perdi, esperei secar e um eletricista viu que dava para usar. Perdi mais matéria prima, como embalagens, farinha e açúcar”, conta. Tendo como carro chefe a tradicional cuca, o padeiro disse que seus clientes foram compreensivos com a falta de entrega durante alguns dias. “Até teve quem ofereceu ajuda”, destaca.

Jair recorda que, nos dias seguintes ao acontecido, ajudou trabalhando na residência de um vizinho da padaria que teve sua casa atingida e depois passou a ajudar a reconstruir o prédio onde seu empreendimento fica. “Bati até massa para pedreiro”, lembra. Sobre a retomada, ele afirma estar sendo tranquila. “Às vezes falta algo que perdemos, mas aí vamos atrás”, diz.

Dividindo o prédio com a empresa de Jair, o empresário Jânio Pavão, 56 anos, calcula que sua fábrica de calçados teve um prejuízo de R$ 100 mil. Ele lista que houve perda de mercadoria pronta, caixas e tecidos. “É bem complicado, mas não tem outro jeito. Não perdemos clientes, então podemos dar a volta por cima”, comenta.

Ao lado da esposa e outras três funcionárias, Jânio retomou as atividades da empresa apenas nesta segunda-feira. O proprietário da fábrica de calçados reforça que não perdeu clientes e recebeu um prazo extra para fazer as entregas dos pedidos já realizados.

Secretário espera recuperar creche até setembro

Um dos principais focos da Administração Municipal agora é a reconstrução da Creche Laranjinha. O prédio teve o telhado, esquadria e vidros danificados. De acordo com o secretário de Educação, Cultura, Desporto e Turismo, Sidnei Gustavo Schommer, a expectativa é de que a escola volte a receber seus 56 alunos no fim de setembro. Enquanto isso, o atendimento é realizado na casa alugada pra Prefeitura onde funcionava o Telecentro.

Sidnei aponta que o local foi adaptado para receber os pequenos estudantes, com aquecedores sendo instalados nos ambientes e também com o chão sendo forrado com tatame de EVA. “Também fizemos a limpeza da caixa d’água e montamos uma cozinha”, salienta.

Segundo o titular da pasta da Educação, a ideia é de aproveitar que o prédio da escola está interditado para também fazer melhorias que já se mostravam necessárias, como na tubulação de esgoto e a instalação de piso laminado. “Talvez atrase em alguns dias a entrega, mas vamos devolver uma creche melhor”, afirma.

O prefeito de São José do Sul, Sílvio Kremer, ressalta que, após o primeiro atendimento aos atingidos pelo vendaval e o levantamento dos estragos para a homologação estadual e federal do decreto de Situação de Emergência, o empenho do Executivo agora é na reconstrução da creche e também na limpeza das ruas e conserto de estradas. “Vários abrigos de ônibus e bueiros também foram danificados”, acrescenta. Para Sílvio, aos poucos a cidade está voltando à normalidade, com a maioria das casas, prédios e galpões danificados já recuperados dos danos.

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