Após ficar desabrigado, Paulo decidiu ser voluntário no abrigo que o acolheu
Paulo Ricardo de Oliveira, de 60 anos, morador do bairro Ferroviário, viveu um dos momentos mais difíceis de sua vida no início do mês, quando a primeira enchente atingiu sua casa. Forçado a abandonar seu lar, ele encontrou abrigo no ginásio do Sesc, onde recebeu acolhimento imediato. No entanto, o que poderia ter sido um período de desespero e resignação, se transformou em um exemplo inspirador de resiliência e solidariedade.
Paulo, que nunca havia participado de trabalhos voluntários antes, decidiu retribuir a ajuda recebida, se tornando voluntário no próprio abrigo que o acolheu. “Eu fui muito bem acolhido, então pensei que tinha que ajudar também. Quem me ajuda, eu procuro ajudar”, disse. A decisão de Paulo veio no dia seguinte à sua chegada ao ginásio do Sesc, quando ele se prontificou a auxiliar na organização e distribuição das doações recebidas.
Nos 18 dias que se seguiram, Paulo desempenhou várias tarefas fundamentais, desde a recepção e triagem de doações até a descarga de caminhões e carros, garantindo que todos os necessitados recebessem a ajuda necessária. Sua dedicação foi uma fonte de conforto e inspiração para outros voluntários e vítimas da enchente. “Eu acho que foi muito importante esse trabalho de voluntariado, porque cada um fazia uma coisa. Então todos ajudavam ali dentro no que precisava, mostrando que com união a gente pode superar esse momento difícil”, destaca.
Paulo perdeu praticamente tudo o que possuía em sua casa, mas ao invés de se deixar abater, ele encontrou forças para ajudar os outros. “Eu me senti muito bem ajudando as outras pessoas, porque ficar chorando pelos cantos não iria resolver nada. Às vezes, o pouco que você faz é muito para quem recebe”, afirma.
Em busca da reconstrução
Com o apoio de amigos voluntários, o morador conseguiu temporariamente um quarto de hotel para descansar e se recuperar do cansaço acumulado. Ele destaca a importância da solidariedade que testemunhou no período em que esteve como voluntário no ginásio do Sesc. “A solidariedade é o princípio de tudo. Todos estavam prontos para ajudar”, diz.
A sua experiência no trabalho voluntário trouxe também novas perspectivas e aprendizado. Paulo menciona que viu pessoas em condições ainda piores que a sua, o que reforçou a vontade de ajudar. “A gente teve uma visão diferente do que aconteceu na vida de cada pessoa, são muitas histórias de perdas. Então, vendo o sofrimento das pessoas, ter conseguido ajudar de alguma forma trouxe um conforto”, pontua.
Passado o período mais difícil, agora Paulo pensa na reconstrução. Ele planeja se mudar da casa onde morava no bairro Ferroviário, com medo de perder tudo novamente. “Ainda não tive coragem de voltar na minha casa para ver como está a situação. Eu moro sozinho e já tinha poucas coisas, então perder o pouco que a gente tem é difícil”, afirma.
Apesar das perdas materiais, Paulo mantém um espírito positivo e acredita que, com saúde, tudo pode ser reconquistado. “A tendência é que as coisas melhorem daqui pra frente. A mensagem que fica com essa tragédia é que a solidariedade montenegrina, e de outras regiões, foi imensa. Carretas e mais carretas de doações chegaram, mostrando que ajudar ao próximo é fundamental”, conclui.