Sírio Richter tornou-se conhecido por sua atuação no ramo da construção civil e como entusiasta da cidade
O empresário Sírio Richter, de 68 anos, faleceu por volta da 1h da madrugada desse domingo, 16, após sofrer um infarto fulminante. Sírio começou a passar mal, em casa, e foi levado ao Hospital Unimed Vale do Caí, mas acabou não resistindo. O corpo do empresário foi velado na Capela São João da Funerária Vargas, em Montenegro, de onde saiu às 15h30min para o Crematório Cristo Rei, em São Leopoldo. Amigos e familiares de Sírio lamentam a perda. O empresário tornou-se conhecido no setor de imóveis e como entusiasta de Montenegro, local que há 50 anos escolheu para morar. Um grande número de pessoas passou pelo velório e prestou solidariedade à família. A emoção era visível por todos os lados. Sírio deixou a esposa Tânia Regina Richter, dois filhos, Juliana e Cristiano Richter e três netos.
Com os olhos vermelhos e úmidos, Egídio Müller foi um dos amigos a lamentar a morte de Sírio. Ambos se conheciam há 47 anos. “Nossa amizade começou quando eu comprei o Café Comercial. O Sírio fazia parte da Associação Comercial e todos os dias ia lá. A gente se tornou muito amigo. Quando eu vendi o Café ele estava na Mecauto e trabalhamos quase dois anos juntos”, conta o aposentado. “Era uma excelente pessoa. Eu aprendi muito com ele, era dinâmico, sério, um baita profissional que deixa um grande legado em Montenegro”, afirma.
O corretor de imóveis Lindomar Cunha trabalhou com Sírio durante 40 anos. Para ele, é difícil encontrar palavras para definir o que representa a perda do colega de trabalho e amigo. “O Sírio era um ser humano nota 10. Ele estendia a mão para todos que precisavam dele”, conta . Lindomar enfatiza a importância de Sírio como empresário. “Ele tentou fazer muitas coisas pela cidade, o maior Natal de Montenegro foi organizado por ele”, lembra o amigo. “É difícil falar de um ser humano cheio de qualidades como o Sírio”, conclui.
O prefeito Carlos Eduardo Müller, o “Kadu”, destaca o legado deixado pelo empresário que, ao longo de sua carreira, construiu mais de 50 edifícios na cidade. “Foi um empreendedor, uma pessoa que inovou em muitas coisas. Se olharmos a história dele, veremos que lançou muitos empreendimentos de quem é um visionário”. O prefeito relata ainda que possuía uma relação de amizade com o empresário. A ligação começou quando Sírio atuou como instrutor de vôos no Aeroclube de Montenegro. “Toda vez que a gente sentava para conversar não deixava de ter uma história de avião. Eu não tinha ele só como um empreendedor, mas como um amigo que vai deixar saudade. Montenegro perde um grande cidadão”, diz Kadu.
Reconhecimento através do título de Cidadão Montenegrino
Em junho de 2015, Sírio Richter recebeu da Câmara Municipal de Vereadores o título de Cidadão Montenegrino. A distinção é reservada a pessoas que não nasceram na cidade, mas contribuíram de forma decisiva para o seu desenvolvimento. Richter era natural de Estrela, no Vale do Taquari, mas chegou a Montenegro em 1968. A homenagem foi proposta pelo, na época, vereador Roberto Braatz (PDT).
O projeto de decreto legislativo concedendo a honraria foi aprovado por unanimidade no plenário. Roberto Braatz destacou que Richter é um dos maiores empreendedores da história local. Através de suas empresas, construiu 50 edifícios, a maioria em Montenegro, e inúmeras casas, somando em torno de 6 mil escrituras registradas. Além disso, teve forte atuação comunitária, por exemplo, na manutenção do comando regional da Brigada Militar em Montenegro, nos anos 80, e na reforma do Cine Tanópolis, na década de 90. Também foi presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços.
“Esta homenagem da Câmara de Vereadores, para mim, é motivo de profunda emoção, ao mesmo tempo em que consolida a minha relação, da esposa e dos filhos, com a cidade que tão bem me acolheu”, disse o empresário naquela ocasião. Sobre todas as obras que fez, por meio da BRM Engenharia e da Terra Engenharia, Richter disse que se sente realizado. “É recompensador saber que o nosso trabalho realizou o grande sonho da casa própria para tanta gente”, definiu ele, na época em qeu recebeu o título.
O menino que pediu uma chance de estudar ao governador
Sírio era comparado, fisicamente, ao ex-técnico da Seleção Brasileira, Luís Felipe Scolari. E quem não o conhece mais de perto certamente não sabe as dificuldades que teve de vencer em sua trajetória. De praticamente qualquer ponto da cidade, basta olhar ao redor para encontrar alguma obra que tenha a mão de Sírio Richter, erguida pelas construtoras BRM e Terra, que ajudou a fundar.
Sírio nasceu em Estrela, em 2 de outubro de 1949, filho de pai alfaiate e mãe costureira, o segundo e último do casal. Começou a trabalhar muito cedo e, com apenas sete anos, já ganhava alguns trocados fazendo brita para túmulos, com remuneração paga a cada balde entregue. Mas foi aos 11 que surgiu seu primeiro grande desafio.
Na época, o Colégio Agrícola, que Richter pretendia frequentar, só aceitava meninos com idade mínima de 13 anos. Porém, o garoto não se intimidou diante daquele “não” e, com a ajuda de um vereador local, foi ao Palácio Piratini falar pessoalmente com o então governador do Estado, Leonel Brizola, para relatar a sua situação. Diante do pedido de uma criança que reivindicava o direito de estudar, o “velho caudilho” não hesitou em quebrar a regra e dar a permissão solicitada. Aos 16 anos, o curso estava concluído, ao lado de colegas com idades entre os 25 e os 35.
Ainda na época da Escola Agrícola, Richter trabalhou em uma fábrica de sabão e na revenda da Ford, onde se tornou especialista em serviços, com amplo conhecimento em mecânica. Foi aí que Montenegro entrou na sua história.
Na época, o diretor da concessionária Ford de Montenegro, Mário Florian, enfrentava um problema constante na área de serviços da unidade local. Ele recebeu a indicação de que, em Estrela, havia um jovem que teria plenas condições de resolvê-lo. Florian foi pessoalmente tratar da contratação e Sírio chegou ao Vale do Caí em 1968.
Residindo mais próximo de São Leopoldo, o empresário começou a cursar Economia e passou a dar aulas de Matemática na Escola São João Batista, paralelamente ao trabalho na Ford. Piloto de aviões, o jovem inquieto ainda resolveu ensinar voo no Aeroclube. Para isso, conseguiu o empréstimo de um a aeronave na cidade em que nasceu.
Ainda no começo da década de 70, Sírio decidiu abrir o primeiro negócio próprio, montando uma loja da Imcosul na rua Ramiro Barcelos. Na rede, atuou até a década de 80. Neste período, mudou de cidade (foi para Porto Alegre), tendo ocupado diversos cargos no grupo, como o de diretor de compras. Nessa função, viajou pelo Rio Grande do Sul de ponta a ponta.
No início dos anos 80, Richter retornou a Montenegro, ajudando a montar a primeira revenda de tratores da cidade, também ligada à Ford. Em 1982, juntou-se a dois engenheiros, formando uma construtora, a BRM.
A empresa foi a responsável por muitos prédios que hoje vemos no município. Os números exatos nem ele sabia, mas assegurava que foram cerca de 35 edifícios erguidos na cidade, somando mais de 120 mil metros quadrados de área construída. “Com certeza, mais de mil famílias montenegrinas moram em apartamentos e casas construídos pela BRM”, estimava Sírio. Em 2002, o empresário fundou também a Terra Engenharia. Após construir alguns empreendimentos em Canela, a empresa atuou com destaque em Montenegro, tendo realizado obras como os residenciais Panul, Bella Vitta e Ivy Marae, entre outros projetos. Em 2017, a empresa passou por novas mudanças e virou a Nova Terra Engenharia.