Lucas passou 11 meses em Botsuana, em busca de aperfeiçoamento profissional. Ele é o primeiro e único brasileiro a pilotar nesse país
Em busca de experiência profissional e de maior fluência em Língua Inglesa, o piloto Lucas Barbian, 24 anos, foi trabalhar em Botsuana no ano passado. Com uma barraca e boa dose de espírito aventureiro, ele viajou para o continente africano e, após 11 meses, retornou ao Brasil recentemente. Além de quase dobrar seu número de horas de voo e de praticar o idioma, Lucas trouxe na bagagem experiência de vida proporcionada pelo longo período de residência em um país diferente do seu, longe da família e de amigos.
Lucas formou-se no Aeroclube de Montenegro, onde também trabalhou como instrutor de voo por dois anos. Com 800 horas de voo e conhecimentos de Inglês ainda insuficientes para ter fluência, ele decidiu buscar aperfeiçoamento profissional no exterior. Enviou currículo
para várias empresas da Ásia e da África, onde acreditava que sua experiência era suficiente para conseguir trabalho.
O montenegrino recebeu resposta e foi fazer entrevista em Maun, cidade de Botsuana. Durante o primeiro mês, Lucas morou na barraca que levou na sua bagagem, no camping de um hotel. Era uma forma de reduzir gastos com moradia enquanto aguardava o resultado da entrevista de emprego. Ele afirma que é comum os pilotos saírem em busca de experiência fora. Alguns optam por ir sem uma oportunidade em vista. Lucas preferiu enviar os currículos primeiro e viajar já com uma chance prevista.
Ele conseguiu trabalho, mas, nos primeiros cinco meses, em atividade administrativa, enquanto aguardava a tramitação burocrática para que seu curso de piloto fosse equiparado ao daquele país. Além disso, Lucas aguardou que seu visto de trabalho ficasse pronto, pois havia ingressado no país com um de turista.
Com as questões burocráticas resolvidas e 30 dias de treinamento na empresa, ele foi autorizado a pilotar um avião com lugar para sete passageiros. “Sou o primeiro e único brasileiro a voar naquele país”, acrescenta. O serviço era de transporte de pessoas e de mercadorias para hotéis localizados dentro de safáris, nos quais o acesso era por aviões. Lucas retornou ao Brasil com 1.500 horas de voo no seu currículo e inglês fluente. Seus planos agora são conseguir trabalho no Brasil. “O mercado (para pilotos) aqui no Brasil está começando a dar pequenos sinais de melhora”, analisa.
Barracas de luxo para turistas
Na forma de camping, os quartos dos hotéis nos safáris, para onde Lucas Barbian levava passageiros e mercadorias, eram em amplas barracas ao custo da diária de 1.500 dólares por pessoa, o equivalente a cerca de R$ 4,5 mil. O valor fazia do lugar um espaço para turistas com alto poder aquisitivo, condição que exclui os africanos. Em Maun, as principais atividade econômica eram o turismo e a exploração de jazidas de diamantes.
Embora a África seja associada a cenas de miséria, Lucas afirma que não viu situações de pobreza extrema, mas não tem dúvidas de que as condições financeiras dos africanos são bem mais difíceis do que as dos brasileiros. O acesso à água é difícil. “Vi algumas pessoas carregando água em
vasilhas colocadas na cabeça”, acrescenta. Há creches e escolas até o equivalente ao Ensino Médio, com transporte coletivo gratuito aos estudantes. “Para fazer universidade, é fácil conseguir financiamento e só precisa pagar se conseguir emprego depois de formado”, acrescenta. Mesmo assim, não é comum fazer curso superior em Botsuana.
Aprendizado com a convivência
Ao morar longe de casa, da família e dos amigos, Lucas Barbian afirma que aprendeu também com a convivência e os costumes dos africanos. “Sozinho em um país onde ninguém fala sua língua, não há parente nem amigos para auxiliar, se aprende muito”, observa. Para quem pensa em seguir esse caminho, ele afirma que é preciso gostar muito de voar.
Com pele, cabelo e olhos claros, Lucas é de uma raça em minoria no continente africano e sentiu racismo em algumas situações. Ele cita, como exemplo, a de uma pessoa que furou a fila no restaurante alegando que podia passar na sua frente e de um colega por ser negro. De modo geral, porém, o piloto afirma que o povo de Botsuana é receptivo e tranquilo.
Entre as diferenças percebidas, observa a alimentação. Lucas sentiu falta principalmente do feijão, pois, embora houvesse em Botsuana, o gosto não era o mesmo do prato tradicional da mesa dos brasileiros. “O arroz é semelhante ao nosso, mas o feijão era diferente”, compara.
Lucas encontrou produtos brasileiros e até fotografou alguns, como pacotes de pão de queijo e lasanha congelados, mas raramente comprava devido ao preço. O valor era alto por ser artigo importado.
Ser piloto, um sonho de infância realizado
O montenegrino ainda era uma criança quando decidiu a profissão que seguiria. Lucas Barbian tinha cinco anos quando foi levado por seu tio-avô, que não era piloto, mas trabalhava na extinta Varig, para um evento na empresa e conheceu o interior de um avião, um MD-11. “Fiquei hipnotizado, naquele momento escolhi a profissão.” Para isso, ele fez curso de piloto no Aeroclube de Montenegro durante três anos, onde também trabalhou como instrutor de voo.
Botsuana
Maun é uma cidade de aproximadamente 60 mil habitantes, localizada em Botsuana (ou Botswana), país africano que fica na divisa com a África do Sul, com aproximadamente 2 milhões de habitantes.
Nesse país, o idioma nacional é Setsuana, mas predomina o Inglês, influência das suas origens, uma vez que foi colonizado por ingleses e conquistou a independência há cerca de 50 anos.
Conforme dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2010, o Indíce de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,633, considerado médio.
A expectativa de vida ao nascer é baixa – ficando em 55,5 anos – influenciada diretamente pelo expressivo número de portadores do vírus HIV, que chega a cerca de 40% dos adultos.
A moeda é o Pula, cada uma corresponde a aproximadamente R$ 0,30.