Covid-19. Maicon Garcia vive em Portugal e caracterizou a postura em Montenegro como displicente
O montenegrino Maicon Garcia retornou de Portugal no último sábado, 21, para ficar uma semana com família e rever amigos. Sua chegada causou certa agitação diante do temor que pudesse trazer o novo coronavírus. Mas o caminhoneiro de 35 anos garante que isso é praticamente impossível diante dos cuidados adotados naquele país. Por enquanto, é portador de informações e comparações entre as duas realidades que vive, sendo que alerta para a displicência da maioria em Montenegro.
Há pouco mais de quatro anos, Garcia partiu para Portugal pensando mais segurança e qualidade de vida. Começou como chef sushiman, e hoje dirige caminhão por praticamente todos os países da União Europeia. Uma pandemia não é o melhor momento para cruzar o mundo; mas ele argumenta que já havia comprado as passagens – sem reembolso ou troca de dia – há quatro meses. E defende que em Portugal está quase impossível alguém infectado embarcar.
Em Lisboa, as pessoas são obrigadas a esperar do lado de fora do aeroporto, onde passam pela primeira triagem com verificação de temperatura corpórea através de termômetro laser, sem contato. Uma vez dentro, são submetidas à segunda etapa, com avaliação se o voo está confirmado naquele que agora é o único terminal internacional aberto em Portugal. “No resto do país nenhum mais tem voos”, revela. A terceira triagem é novamente de saúde, com sinais vitais e questionário sobre sintomas e histórico.
Em uma destas filas Garcia presenciou um fato que resume a situação no ‘velho continente’. Uma pessoa deu um expiro, que poderia ser renite em virtude dos dias secos da transição entre Inverno e Primavera na Europa, e foi imediatamente retirada do local e mandada para casa pela polícia. “Aconteceu um estado de sítio, igual está agora aqui no Brasil, onde as pessoas perderam seus direitos”, assinalou. A determinação é seguir sem questionar ordens e médicos e autoridades.
O sacrifício dos idosos
Todo este cuidado é de um país fronteiriço a Espanha e Itália, onde as mortes somam milhares. Portugal tem sido o mais baixo índice de casos (mais de 2 mil confirmados e cerca de oito mortos até o dia 23), ainda assim Maicon acredita que demorou para fechar as fronteiras. Ele descreve o cenário no continente como “horrível”, com clima de muito medo. Ao menos o primeiro momento; de pânico e correria aos mercados e farmácias, passou. “O que acontece hoje no Brasil aconteceu há um mês na Europa”.
Na Espanha, o fato das placas serem de outra cidade tem justificado abordagens e detenções pela polícia. Ele precisou viajar de Porto a Lisboa, trajeto no qual viu somente outros quatro veículos da estrada e foi abordado para averiguar onde e porque estava indo. O agente chegou a ligar no aeroporto para confirmar que os voos estavam saindo para o Brasil. Caso contrário, certamente, seria escoltado de volta para casa.
Segundo o montenegrino, o agravante na Europa é a média de idade elevada entre a população. Um cálculo aponta que metade dos europeus tem 50 anos ou mais. Ao comentar a mortandade nesta faixa etária, usa como exemplo a Itália, onde todo o histórico de saúde do cidadão é armazenado no sistema do Ministério. Isso tem permitido a “escolha de Sophia”, levando em conta quem tem mais chance, ou não, de resistir ao Covid. “Então, basicamente, as pessoas velhas que têm problema de saúde, pelas quais não adianta lutar para ficarem vivas, são medicadas para a dor e mandadas para casa”, descreve.
Sem averiguação na chegada em Porto Alegre
Na sua chegada em território brasileiro, Maicon teve o primeiro contato com cuidados durante escala em Recife, onde uma equipe embarcou para averiguar as condições de saúde de todos. O mesmo se repetiu na escala para desembarque em São Paulo. “Mas em Porto Alegre, nada. Nem sequer se preocuparam pelo voo ter vindo de São Paulo, que é onde tem o maior foco no País”, surpreendeu-se.
Esta preocupação se acentuou ao chegar em Montenegro e perceber pessoas nas ruas sem máscara, e acesso livre aos estabelecimentos, especialmente após sofrer ameaças pela Internet por estar retornando. Sua ideia era encontrar a cidade em “cativeiro”, assim como ocorre em Portugal. Lá, o acesso aos mercados, por exemplo, inicia em fila externa com espaços de 1 metro demarcados no chão; e ingresso limitado a 20 pessoas por vez e uma pessoa por família.
Ele mesmo antecipou suas férias para dia 9 de março, período a partir do qual teria se confinado em casa, saindo apenas para compras essenciais. E nestas saídas, desinfetava partes do carro com detergente e usava calçado específico que deixava fora de casa. “Na Internet é todo mundo perfeito e moralista. Mas no mundo real, a maior parte não faz absolutamente nada”, declarou. Também aqui, Garcia garante que limitou as saídas à rua, porém não deixou de visitar amigos. Ele retorna no próximo domingo, 29.