Abril Azul chama a atenção ao debate sobre o transtorno
O “Abril Azul” é o mês da conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Michele Regina Machado, 41 anos, é mãe do jovem Elias Machado Bernardes, de 11 anos. Diagnosticado com autismo de grau severo com um ano e meio de idade, os pais começaram a notar que havia algo diferente com Elias durante o seu desenvolvimento. “Quando o Elias tinha um ano e três meses a gente começou a perceber que algumas coisas não estavam fechando de acordo com o marco do desenvolvimento dele. Por exemplo, ele não fazia contato visual conosco, quando a gente chamava pelo nome ele não nos olhava e também não falava nada ainda”, afirma a mãe.
Após passar por vários médicos, veio o diagnóstico de autismo severo. Michele diz que, de início, a falta de informação sobre o transtorno fez com que a família tivesse um choque. “Eu fui pesquisar e ver vídeos sobre o autismo. Depois de ler muito, a gente foi se adaptando a essa nova rotina. Mas desde o primeiro momento a gente aceitou essa condição do Elias e eu e o meu esposo, juntos, fomos buscar recurso pra ajudar no desenvolvimento dele”, destaca.
Para Michele, o diagnostico cedo foi fundamental para a busca de tratamentos para ajudar no desenvolvimento de Elias. A terapia ocupacional foi uma das principais aliadas no avanço do jovem. “Ele faz terapia desde um ano e cinco meses. É muito importante eles terem o diagnóstico cedo, porque com a intervenção precoce a gente pode ajudar muito no desenvolvimento deles”, aponta Michele.
Como resultado do tratamento precoce direcionado para o autismo veio a boa adaptação de Elias na escola de educação infantil. A recomendação para começar no ensino formal veio dos médicos, que indicaram que a socialização de Elias com outras crianças também poderia ajudar. Michele conta que o contato de Elias no maternal com outras crianças foi uma experiência boa. “A fase da educação infantil foi bem importante pro Elias, ele sempre gostou de estar com outras crianças. Conforme foi fazendo as terapias e foi crescendo, os sons e os barulhos deixaram de ser um problema pra ele. Hoje ele gosta de música alta, gosta de estar perto das pessoas”, conta a mãe.
Inclusão na Educação ainda é desafio
Nas escolas da rede municipal de ensino de Montenegro são 97 crianças com Transtorno do Espectro Autista, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec). Elias faz parte desse grupo, atualmente o jovem frequenta o 5º ano do ensino fundamental na EMEF do bairro São Paulo. Michele conta que a entrada do filho na escola regular foi um pouco mais difícil do que na educação infantil, por conta da alteração na rotina. Mas com o tempo o jovem foi se adaptando. “Ele sempre teve monitora, isso ajudou bastante. Mas a inclusão escolar ainda é bem complicada, faltam muitos profissionais qualificados, falta monitoria. A gente espera que melhore, que mais pessoas se especializem nessa área da educação especial, porque a gente está vendo que está surgindo mais casos de crianças com autismo”, destaca Michele.
Giane Campiol, coordenadora de Educação Inclusiva da Smec, afirma que o município hoje dispõe de uma estrutura com profissionais qualificados para atender as crianças com autismo que estudam na rede municipal de ensino. “No momento que alguma criança com autismo ingressa na escola, elas são acolhidas por toda a comunidade escolar e encaminhadas para o atendimento educacional especializado. Nas salas de atendimento educacional especializado os professores dão suporte também pra família e para os professores da sala de aula regular, onde a criança está frequentando”, afirma Giane.
A coordenadora explica que, quando é identificado que há a necessidade de um apoio de outros profissionais, a criança com autismo é encaminhada para o Núcleo Cultural de Educação Especializada, da Smec. O Núcleo possui psicopedagogas e psicólogas, que trabalham diversas atividades e oficinas educacionais com as crianças com TEA. Michele, mãe de Elias, conta que o filho frequenta as salas de recursos especializados desde que ingressou na escola, sendo esse um dos pontos positivos oferecidos pelo município. “Esse é um momento que ele tem pra ir lá fazer uma atividade diferente, uma atividade mais dirigida e adaptada pra ele”, diz Michele.
Conscientização é fundamental
O pequeno Enzo Lino Venâncio, de 5 anos, também teve o diagnóstico de autismo grau leve ainda muito cedo. A mãe de Enzo, Josiane Lourenço Lino, 35, conta que a suspeita veio após uma conversa com a professora da escolinha, que apontou algumas características diferentes. “Eu e o meu marido fomos na creche do Enzo e a professora nos falou que ele gostava muito de se olhar no espelho, andar na ponta dos pés e que não gostava muito de interagir com os coleguinhas. A partir daí a gente procurou uma neurologista, que investigou e disse que provavelmente ele era autista. A gente então levou o Enzo em outra neuro, em Porto Alegre, que deu o diagnóstico, isso com um ano e oito meses”, afirma Josiane.
A conscientização sobre o tema é um dos principais desafios apontados por Josiane. Para ela, o quanto antes o diagnóstico acontecer, mais chance a criança com autismo tem de se desenvolver melhor. “A gente conseguiu o diagnóstico do Enzo cedo, e hoje as terapias estão fazendo uma grande diferença na vida dele. Eu sempre estou pesquisando sobre o assunto e lendo bastante, pra entender um pouco melhor sobre o autismo. Por isso, é importante quando os pais descobrem o espectro, procurar ajuda e informações pra poder ajudar o seu filho”, destaca. A mãe de Enzo aponta que a conscientização sobre o TEA também é fundamental em toda a sociedade, pra que não aconteça o preconceito e que haja o respeito às diferenças. “O autismo é sobre ver o mundo com um olhar diferente. Então eles merecem muito respeito e, por isso, é importante que as pessoas entendam melhor sobre o assunto”, expõe.
Michele Regina Machado, mãe de Elias, afirma que a inclusão dos autistas na sociedade ainda está lenta, apesar de terem acontecido avanços importantes. Para ela, faltam atividades e recursos direcionados para as crianças com TEA. “Eu percebo que a gente precisava ter mais atividades pras crianças na cidade e que falta muito pra estarmos 100% plenos na conscientização. Mas hoje a gente já tem algumas coisas importantes aqui na cidade, como o projeto Universo Atípico, do Studio Bálance, e o Cinema Inclusivo”, aponta.
Outra iniciativa importante tem sido a atuação da Associação Ser Autista. Michele diz que as famílias têm feito um trabalho importante de conscientização na cidade. “Hoje existe esse grupo que trabalha conscientizando a sociedade e trazendo apoio pras famílias. Isso é importante, porque a sociedade precisa entender que existem essas crianças e que elas pensam diferente e que olham o mundo de forma diferente”, conclui.