Mercadinho está de portas abertas há mais de 100 anos

Há cinco gerações, Armazém faz parte da história do bairro

“Aqui é muito mais que um ponto comercial, é um lugar que se tornou referência dentro do bairro”, disse a aposentada Víriga Viegas, 75, cliente fiel do Armazém Primavera. O mercadinho atende a população do bairro Santo Antônio há décadas e, assim, passou a fazer parte da história dos moradores e da própria comunidade.

Mesmo com a expansão dos grandes supermercados, as mercearias permanecem de portas abertas ao longo dos anos. A longevidade desse tipo de comércio está amparada principalmente na fidelidade da clientela que, como dona Víriga, não abre mão de um atendimento cordial, além da possibilidade de encontrar a vizinha para colocar o papo em dia e tomar um bom chimarrão. “Eu venho aqui todos os dias, acho que fico mais no armazém do que em casa”, brinca a aposentada.

Em um prédio antigo, o armazém funciona desde meados da década de 1910, quando a comunidade era apenas um aglomerado das vilas Santo Antônio, Flor do Sul e Pinheiro, como conta o atual proprietário, Silvio Alexandre Volkweis. “Nessa época, existiam apenas umas oito casas, entre elas, esse prédio que já funcionava como quitanda”. Ele possui um acervo de documentos e registros fotográficos do bairro. “Esse foi o primeiro ponto comercial da comunidade, que só passou a ser chamada de bairro Santo Antônio em 1991”.

Com o apoio do filho Rafael Volkweis, 33, o comerciante faz parte da quinta geração a assumir a direção do mercadinho e, desde novembro 2016, estão dando continuidade ao negócio. “Como meu filho já tinha experiência com comércio, foi tranquilo tocar o armazém, ainda mais por ser um lugar histórico”, ressalta o comerciante. “Depois que assumimos, colocamos o nome de Armazém Primavera”.

Enquanto dava entrevista, o comerciante foi interrompido diversas vezes pelos clientes que entravam e saiam do mercadinho. “Tempo bom!”, disse um deles, enquanto selecionava algumas verduras. “O movimento é assim o dia todo porque as pessoas se sentem parte disso tudo, como eu também me sinto”, disse Volkweis, que faz questão de expressar o carinho pelos fregueses.

Cliente fiel do armazém, a aposentada Víriga Viegas mostra algumas das tantas cadernetas que já usou para fazer compras no estabelecimento

Compras no caderninho
Uma característica muito particular dos clássicos mercadinhos são as compras em cadernetas, uma prática construída a partir de uma importante relação de confiança entre clientes e comerciantes. No Armazém Primavera não é diferente, e o costume, assim como o modelo do estabelecimento, resiste ao tempo e às maquininhas de cartão.

Como uma forma de preservar as memórias, a cliente fiel do mercadinho, Víriga Viegas, guarda alguns dos tantos caderninhos e conta como funciona o sistema. “Geralmente as compras eram por mês, e para não ter problema, o proprietário do armazém anotava os itens no caderno dele e no nosso para que todo mundo tivesse controle dos gastos”, relembra a aposentada.

“Como naquele tempo as coisas eram mais difíceis, acontecia às vezes de a gente ir acertar a dívida e uma parte ficava para outro mês, já que o dinheiro era muito pouco e não dava para cobrir todas as despesas”, comenta Víriga, que ainda recorre à prática quando as coisas “apertam”.

Além dos produtos oferecidos no armazém centenário, os clientes também contam com uma exposição permanente de antiguidades pertencentes à família Volkweis

Mercadinho e museu
Para quem frequenta o Armazém Primavera, encontra muito mais que alimentos nas inúmeras prateleiras do mercadinho. No alto do estabelecimento, logo na entrada, uma fileira de artefatos antigos chama atenção de quem entra no lugar. Trata-se da coleção de antiguidades da família Volkweis, como chaves, ferro de passar à brasa, panelas, rádios, entre outros. “Tem muita coisa que as pessoas mais jovens nem sabem o que é”, revela Rafael Volkweis.

“Por ser um lugar histórico, o pai decidiu fazer uma espécie de exposição permanente. Algumas coisas eram de parentes nossos, outras conseguimos”, disse Volkweis. “Meu primeiro emprego de carteira assinada foi aqui no mercadinho, quando ele ainda pertencia aos antigos donos, em 2004”, completou, reafirmando a essência histórica do lugar.

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