Memórias e origens em casa e para todos verem

Cultura. Memorial do Imigrante Alemão dá forma e cor à história da região

Entre as riquezas culturais que Montenegro oferece, existe uma ainda pouco explorada pela comunidade, incluisve acadêmica. O Memorial ao Imigrante Alemão surgiu da nostalgia e da avidez por conhecimento, sendo idealizado pela família Francisco/Kauer para se tornar referência sobre a colonização do Vale do Caí.

O diretor do instituto, professor Eduardo Kauer, recorda que o terreno foi comprado pelo avô Waldemar José Francisco em 1943, sendo propriedade da família Vargas. Na época ainda não existia a Via II, para qual faz frente, nem o bairro Senai. O lote surgiu do desmembramento da fazenda dos Bittencourt, que inclusive teriam deixado morando sobre as terras um casal de escravizados. Já destes, pouco se sabe sobre sua história, a não ser sobre a tragédia com o filho Benedito, que morreu afogado no açude atrás do galpão que deu lugar ao Memorial. Parte do imóvel usado pelos cativos ainda está no lugar, com algumas modificações, ao lado da casa dos Kauer.

Essas e outras histórias recepcionaram os visitantes no último sábado, dia 9, durante a Feira de Livros Usados. O acervo da instituição tem hoje 1.630 volumes, na sua maioria, doações. Como alguns estão repetidos ou não têm relação com o tema do museu, estão à disposição de aficionados por história, sobretudo de guerras e armas.

Certidão de casamento celerado em 1911, em Campo do Meio, tem fotos dos noivos

Antes de o deleite de folear e ler, o grupo foi apresentado ao acervo de peças, utensílios e quadros. Kauer explica que muitos itens foram recolhidos pelo avô Francisco, no simples intuito de preservar ferramentas de trabalho e do lar que fizeram parte de sua vida e estavam deixando de existir. “Quando eu era adolescente, ele me mostrava essas peças”, recorda.

Em determinado momento, o jovem Kauer começou a anotar as referências que o idoso lhe passava, como características, utilidade e dono original; dando início ao Memorial. Mesmo nunca tendo dedicado tempo exclusivo à busca de relíquias e relatos orais, reuniu acervo capaz de ilustrar a memória sobre os imigrantes, e não apenas dos Alemães.

Benção da Casa era colocado no cômodo principal para ser lida

Conhecimento nas paredes e nas páginas
O visitante conhece ainda um pouco da economia de Montenegro, que antes dos citros era grande produtora nacional de farinha de mandioca. No período havia 233 atafonas espalhadas pela cidade e no interior. Uma em cada quatro casas era usada como moinho e 25% da população se ocupava desta atividade. Os alemães precisaram se adaptaram, e passaram a cultivar a raiz de origem Indígena e produzir o “biju”.

Através de diversos quadros de famílias são apresentados os sobrenomes tradicionais da comunidade. Há fotos de casamentos e uma certidão de 1911 que é uma obra de arte. Nas paredes pode ser ler ainda cartazes de eventos sociais e escolares; e uma oração em alemão chamada Benção da Casa, datada de 1845. A publicação mais antiga também remete à religiosidade germânica. Impresso em 1781, o livro de leitura sagrada é um tipo de Bíblia para leigos não ordenados, a fim de manter as celebrações em rincões que não tinham paróquia.

Espaço oficial
O Memorial ao Imigrante Alemão é um museu privado, pertencente à família Berg/ Kauer/Pereira. Em 2013 foi legalizado com inscrição no Sistema Estadual de Museus (SEM/RS), pertencendo à 2ª Região Museológica do RS. No País, é oficializado com inscrição no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O espaço não recebe recursos públicos

Visitações
O Memorial é aberto para visitação e pesquisa, individual, grupos e escolas, sem cobrança de ingresso (apenas contribuição espontânea). Mas somente através de agendamento pelo celular (51) 998-558-232 com Eduardo Kauer

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