“Melhor em Casa” leva a saúde até os pacientes

Programa do governo federal faz atendimentos domiciliares a pessoas que não têm condições de sair de suas casas

Dentro de sua casa, o jovem Wellington, de 18 anos, recebe atendimento gratuito de um médico, uma enfermeira e duas técnicas de enfermagem. Com paralisia cerebral e malformações ósseas, o menino depende de sonda e tanque de oxigênio, necessitando cuidados médicos constantes. Dificilmente sai da cama. São realidades como a dele que o programa “Melhor em Casa” ajuda a superar.

“Eles são os amigos que cuidam do meu bebê”, define a mãe do jovem, Iara Lopes, referindo-se à equipe que faz o atendimento. O Melhor em Casa funciona com financiamento do Governo Federal e foi criado em 2013. No início de 2015, começou a atuar em Montenegro, com a adesão do município. Wellington foi um dos primeiros pacientes a serem beneficiados pela iniciativa.

“Eu dou nota mil. Não preciso estar correndo para o hospital com ele. Eles já fazem o medicamento. É tudo de bom na nossa vida”, diz Iara. Na recente visita a sua casa, estava o médico Luiz Felipe Pinto de Andrade, a enfermeira Marlise Klaus e as técnicas de enfermagem Schirlei Odete Finger e Rosane Madalena Riffel. A relação de carinho e amizade com a mãe e o paciente eram visíveis. “Tu torce bastante pro Grêmio, viu!?”, brincava o médico com o menino, após sua consulta.

“É uma medicina social. Acaba que tu vai pegando uma amizade. A saúde, às vezes, é o de menos. O problema é a condição de vida”, opina Andrade. Na residência da família Lopes, os quatro verificaram o estado de saúde do menino Wellington, trocaram sua sonda e também seu tanque de oxigênio. Desde que entrou no programa, o paciente precisou ser hospitalizado apenas duas vezes. Em uma terça-feira, a equipe do Melhor em Casa deixava o lar com o compromisso de, já na sexta, voltar a entrar em contato para seguir o tratamento.

Situação dos pacientes define os beneficiários

Da esquerda para a direita, Schirlei, Rosane, Marlise, Luiz Felipe e o motorista Roberto da Rosa. Em 2016, foram 4.329 atendimentos realizados

O Ministério da Saúde estima que, com o projeto, obtém-se uma economia de até 80% nos custos de um paciente, quando comparado ao que seria gasto com ele internado em um hospital. De acordo com o órgão, é objetivo do Melhor em Casa proporcionar ao paciente um cuidado mais próximo da rotina da família, evitando hospitalizações desnecessárias e diminuindo o risco de infecções, além de estar no aconchego do lar.

De acordo com a enfermeira Marlise, é imprescindível que o paciente tenha um cuidador em casa para dar continuidade ao trabalho realizado pela equipe. Normalmente, familiares desempenham este papel. Uma vez por mês, de acordo com as disponibilidades, é feita uma reunião de cuidadores. “Nem é tanto para falar dos problemas de saúde, é mais para distrair”, indica. Nestes encontros, há o apoio de uma nutricionista e uma assistente social.

É levado em conta, para a participação no programa, além da condição médica do paciente, sua possibilidade de deslocamento até um local em que existam recursos. Ocorre de haver atendimento de pessoas que, por sua saúde, poderiam ir a um hospital, mas têm dificuldades de chegar até lá por outras razões. Regiões contempladas pela Estratégia Saúde da Família (ESF) não são atendidas pelo Melhor em Casa. “O programa é feito para facilitar o acesso para os que precisam consultar muito frequentemente. Se pode vir até o recurso, a gente não absorve”, explica Andrade.

Melhoria da qualidade de vida é o principal benefício
Com os fundos do programa, a equipe é contratada pelo município para o trabalho. Os profissionais atuam de segunda à sexta-feira, podendo ter, no máximo, 60 pacientes sob atenção simultaneamente. Atualmente, há 46 montenegrinos sendo acompanhados, mas existe uma lista de espera com casos para serem analisados. Além dos quatro membros que atuam no dia-a-dia, o grupo conta com mais uma técnica de enfermagem, que se encontra de licença, e uma equipe de apoio, com psicóloga, assistente social, nutricionista e uma fonoaudióloga, que é terceirizada.

“Normalmente, nossos pacientes vêm encaminhados do Hospital Montenegro ou de outros hospitais da região metropolitana, pelos serviços sociais. São principalmente os que precisam de acompanhamento pós-operatório ou usam sonda. E outros chegam pelo boca a boca”, explica a enfermeira da equipe, Marlise Klaus. “A gente não trabalha tanto com a prevenção. A gente ta lá na outra ponta do tratamento.”

Recebem o atendimento, por exemplo, pacientes oncológicos para tratamento paliativo, buscando o alívio da dor e o conforto da família. As idades variam. Atualmente há um bebê sendo atendido, que saiu do hospital com uma traqueostomia – orifício aberto no pescoço para a passagem de ar – e precisa de atenção constante. Também, muitos idosos vítimas de AVC; jovens com traumas de acidentes; e adolescentes, como o menino Wellington, que possuem alguma doença congênita.

A renda da família não é critério. “Temos pacientes bem humildes e alguns com boa condição financeira”, aponta a enfermeira.

Os atendimentos variam conforme a necessidade. Nem sempre é toda a equipe que se desloca às residências. Lá são feitas trocas de equipamentos, aplicação de medicamentos e até coleta para exames. A primeira visita leva cerca de uma hora, quando ocorre o diagnóstico completo. Após, a duração e a frequência se alteram. Podem ser mensais, quinzenais ou semanais. Não havendo a possibilidade de deslocamento, os contatos telefônicos também são opção.

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