Mc Pedrão: “Estou nessa luta para mostrar que a periferia também tem o seu lugar”

Candidato à deputado promete dar voz e vez à periferia no parlamento gaúcho

Pedro José da Silva, o MC Pedrão, é candidato a deputado estadual pelo PSOL. Com 55 anos de idade, ele concorre pela primeira vez a cargo público. É natural de São Leopoldo, mas vive desde 2000 em Montenegro, com trajetória ligada ao movimento hip-hop e a periferia. Há décadas, ele se dedica à Arte e ao seu papel transformador. Em entrevista ao Estúdio Ibiá, da Rádio Ibiá Web, destacou que, em 22 anos pondo em prática projetos sociais, tirou mais de mil jovens do caminho do crime. Quinto candidato da rodada de entrevistas com os nomes da cidade que concorrem neste ano, ele apontou que, se eleito, quer incentivar iniciativas como a dele pelo Estado; sendo a voz da periferia no Legislativo gaúcho.

Ibiá: O que lhe motivou a entrar na política?
Mc Pedrão: Foi aquela coisa de a gente nunca se ver. Isso, a gente fala bastante dentro do próprio movimento do hip hop; sobre ter alguém que represente a gente lá. A gente nunca teve alguém diretamente envolvido com a cultura hip hop e também diretamente envolvido com projetos dentro da periferia. Eu não me recordo, ao menos aqui, no Vale do Caí, de ninguém que seja desse eixo. Estou nessa luta para mostrar que a periferia também tem o seu lugar. Mostrar que a gente pode, nós mesmos, falar por nós mesmos; porque só quem passa pelo sofrimento de falta de emprego, falta de opção, por preconceito, pode falar sobre isso. Eu acredito que todos os que entram para a política, entram com o intuito de fazer o melhor; mas para falar de algumas coisas, tem que ser tu mesmo. Por isso, a gente tá nessa luta agora.

Ibiá: Como tem sido o diálogo junto à periferia durante a campanha?
Mc Pedrão: Tem sido muito bom. E o que me chama à atenção é que não é só a periferia. Todos estão vendo a importância de ter essa representatividade. Me dá ainda mais estímulo, principalmente dentro da periferia, do pessoal olhar e ver que pode chegar lá, que pode ser um vereador; que pode não só criticar as coisas, mas apresentar uma solução. O pessoal se vê em mim.

Ibiá: Qual deve ser a sua linha de atuação, se eleito?
Mc Pedrão: A primeira coisa é cuidar sempre o que for para o lado do trabalhador. Se for algum projeto que vá prejudicar o trabalhador, a gente vai ser contra, totalmente. Muita gente acha que a gente vai pra lá só para fazer festival de rap, como eu sou do hip hop. Lógico que a gente vai trabalhar bastante a nossa cultura. Eu acho que a nossa cultura salva muita gente – a gente já salvou muitas pessoas através da nossa cultura – mas não é só a nossa cultura. Tem outras culturas que a gente vai trabalhar, seja ela gauchesca, carnaval, teatro. Artes cênicas também terão uma ênfase grande. E fiscalizar, com certeza! Tudo o que for contra professores, também, a gente vai sentar, conversar. A nossa bancada é forte nesse sentido.

Eu sei que muitos estão desacreditados com a política dentro da comunidade. A única hora que a gente é lembrado, que dão força pra nós na periferia, é quando vão pedir nosso voto lá, de quatro em quatro anos. Essa é uma tecla que a gente bate, também, do porquê tem que levar tanto tempo para se falar em política pública, para se falar em projetos, para se falar em esgoto a céu aberto, em saúde e educação, só agora na campanha. A gente tem que falar e fazer todos os dias isso. É isso que eu faço. É o que eu fiz a minha vida inteira. Muita gente dentro da comunidade me fala: cara, ‘tu, sem grana, já fez mais que muita gente aí’.

Ibiá: O papel de deputado pode ser um tanto limitado. Como o senhor entende que poderá atender as demandas da periferia?
Mc Pedrão: A gente quer fortalecer as associações comunitárias e os projetos sociais, independentemente de ser de hip hop ou não. Há vários trabalhos excelentes feitos, seja na área esportiva, seja na educação, e temos que fortalecer essas ONGs que fazem trabalhos maravilhosos dentro da comunidade, não só em Montenegro, mas na região e no Estado. Nós, do hip hop, temos 29 cidades com lei municipal do hip hop aprovada. Então, nessas cidades, quantos projetos sociais têm? Quantas ONGs têm? Quantas associações e voluntários que trabalham sem ter um recurso? A gente vai procurar emendas que possam ajudar essas instituições; não só do hip hop, mas as que tenham um trabalho social voltado ao resgate, para salvar as pessoas. Eu vejo que muita gente pensa que o trabalho social é ajudar quem já está lá na rua, quem já está doente, drogada; mas isso é uma redução de danos. Por que a gente não pode trabalhar o antes, quando as crianças ainda estão dentro da escola, para evitar delas chegarem nessa fase lá na rua? A gente quer fortalecer esses trabalhos e essas associações. Nós, como deputado, mesmo sendo limitados, temos maior visibilidade. Eu tenho como cobrar mais do governo; e não será só a minha voz. Não é o Mc Pedrão que vai estar lá, é um projeto. Vai estar lá a voz da classe A, B, C e D, de todos os que lutam contra todo e qualquer tipo de preconceito; e, lógico, principalmente a do povo da periferia, preto.

Candidato defendeu incentivo a diferentes culturas

Ibiá: O Estado vive uma situação crítica na Saúde, com milhares na fila por exames ou cirurgias. Como um deputado pode ajudar a sanar esse problema?
Mc Pedrão: Primeiro, a gente tem que ir; passar uma noite numa fila. É muito fácil olhar de longe, dizer que uma coisa está ruim; agora, tu ir para uma fila às duas horas da manhã de um dia, para ser atendido no outro, é muito mais difícil. Então, primeiro, os políticos devem ir lá, mesmo, para sentir na pele o quê que é. E eu acho que junto a gente consegue resolver. É sentar com o governador, independentemente de quem for eleito, e fazer algo conjunto. Tem que tirar essa coisa de ‘se aquilo é de outro partido, eu vou sempre votar não’. Todo mundo tem que sentar, baixar suas armas e botar a comunidade em primeiro lugar.

Ibiá: Tudo demanda recursos; e há uma previsão de queda na arrecadação do Estado em 2023. Nesse cenário, como que o deputado Mc Pedrão se posicionaria diante de um projeto de aumento de impostos?
Mc Pedrão: Aumento de impostos, a gente é contra; porque a primeira coisa que falam (quando falta recurso) é em aumento de impostos e a segunda é em cortar dinheiro dos professores, dos trabalhadores. Eu acho que tem outras formas de ver isso; de sentar com empresários, sentar com o governo do Estado, sentar todos os deputados eleitos e, juntos, buscar uma solução. Quantas vezes já aumentaram impostos; e as filas (da Saúde) diminuíram ou aumentaram? Não é a solução. Tem que sentar, conversar. Porque se a gente tem um pobre capitalizado, que tem o dinheiro pra comprar, todo mundo ganha. Se a gente, a periferia, tem um capital bom, a gente vai fazer o Brasil girar; e esse dinheiro nós podemos botar na Educação, na Cultura, na Saúde. É esse tipo de trabalho que tem que ser feito.

Ibiá: O que lhe diferencia dos outros candidatos?
Mc Pedrão: Eu não me considero melhor que ninguém, mas a bandeira que eu carrego é diferente. Eu prefiro o livro à arma. Pra mim, o bandido bom é o regenerado, não o morto. Eu estou sempre na periferia, independentemente do dia. A eleição termina dia 2. No dia 3, tu vai ver onde que eu estou. Vou estar fazendo os meus corres, como eu sempre fiz. Eu estou sempre voltado pros meus projetos sociais, com os quais eu sempre trabalhei. O sofrimento que eu passei, vários já passaram também. Não estou aqui pra mi-mi-mi, mas eu sei o que é passar dificuldade, o que é não ter o que dar pra tua família. Quando eu chego na comunidade e eu vejo aquela pessoa passando dificuldade, eu me vejo lá e ela se vê aqui. O diferencial que eu tenho é esse; de eles saberem o que eu sou, o que eu já fiz e de ser um espelho pra eles. É de a gente estar presente, de fazer o trabalho social mesmo, independentemente de época. Nós temos fome de Saúde, de Educação, coisas que não nos dão. Eu sei o que é isso. Sei, porque eu já passei por isso e fui salvo pelo rap e o hip hop.

Uma mensagem final?
Mc Pedrão: Eu quero, pra esses que estão desacreditados na Política, dizer que a gente pode acreditar ainda, sim. Eu estou aqui porque eu acredito que a Política pode ajudar a mudar a vida das pessoas. Eu peço encarecidamente a quem possa nos apoiar, independentemente de classe social, cor, religião, orientação sexual, que lute contra o preconceito, que venha junto na luta para trazermos a mudança que a gente precisa não só para Montenegro, mas para todo o RS.

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