Com 54 anos, casado e pai de duas filhas, Márcio Müller é um veterano da política local e concorre pela segunda vez ao parlamento gaúcho (pelo Solidariedade). Nas eleições de 2014, foi candidato pelo PTB e somou 1.995 votos. Advogado, em sua estreia nas urnas, em 1988, foi eleito o primeiro vereador do PT em Montenegro, mas logo depois migrou para o PFL, hoje Democratas, uma guinada ideológica que foi bastante criticada. Müller exerceu o cargo até 1992 e, embora tenha tentado outras vezes, retornou à Câmara de Vereadores só em 2013 para o segundo mandato. Hoje é suplente de vereador.
JI – Considerando seus dois mandatos na Câmara de Vereadores, qual foi o projeto que mais lhe deu orgulho?
Márcio Müller – Foram diversos projetos que a gente encaminhou e reivindicações da população. Em 1989, ocorreu a elaboração da Lei Orgânica do Município, que rege todas as leis municipais em vigor. O Plano de Carreira dos servidores foi realizado em 1990, assim como a lei do FAP (Fundo de Aposentadoria e Pensão) do funcionalismo. Nesse último mandato, o que mais me orgulha é o combate à corrupção, ao mau uso do dinheiro público com a cassação do prefeito (Paulo Azeredo, em 2015), eleito em 2012. Foi um trabalho desgastante, mas, ao mesmo tempo, gratificante. Nós conseguimos mostrar para o Brasil todo que os vereadores, quando querem fiscalizar e fazer alguma coisa, têm poder e condições de até cassar um prefeito. Isso dignificou muito o meu mandato e me traz satisfação e orgulho.
JI – O senhor presidiu a Câmara justamente neste momento, que foi um dos mais turbulentos da história recente da política local. A cassação resultou em algum ganho político para o senhor?
Márcio – Essa cassação eu não comandei por interesse de ganhar politicamente ou não. Um parlamentar, seja ele no âmbito municipal, estadual ou federal, deve fazer a fiscalização dos atos do Poder Executivo. Inclusive, é uma das minhas metas estando na Assembleia Legislativa. É fundamental que ocorra esse tipo de trabalho, além de levar as reivindicações da comunidade para dentro do Legislativo e chamando o Executivo para debater os problemas. Se trouxe ganho político para mim, eu não sei, mas eu sei que fiz o meu dever.
JI – Há alguns dias, o senhor foi criticado por declarar à Justiça Eleitoral um patrimônio de apenas R$ 215,62. Em sua trajetória como advogado e servidor público, o senhor não amealhou bens ou eles estão em nome de outras pessoas?
Márcio – Estou na política desde 1988 e ela traz muitos gastos. Inclusive, o patrimônio que eu recebi de herança foi tudo em política. Eu gosto da política e, quando tenho recursos, eu ponho na política, ajudo as pessoas. O sucesso de uma pessoa não se mede pelo patrimônio que ela tem. Se mede pelo bem que ela faz aos outros. O que ocorre na Justiça Eleitoral é que você tem que declarar os bens, o patrimônio ou os rendimentos que tem até dia 31 de dezembro de 2017. Naquele dia, eu tinha R$ 215,00 na conta. Na verdade, passa de R$ 10 mil o que eu e minha esposa ganhamos. Fui avalista, há um tempo atrás, de um amigo meu e levei um calote, que pago até hoje, mas são coisas da vida. Já paguei escola e faculdade particular para a minha filha. Então, eu invisto nos meus filhos, ajudo as pessoas e familiares. Nós temos uma casa que está no nome da mulher, pois ela quem comprou e, quando eu casei, ela já a tinha. Temos um carro – que compramos juntos – e está no nome dela.
JI – Montenegro e o Vale do Caí possuem sérios problemas de infraestrutura. Há estradas esburacadas, estreitas e sem acostamento. Caso eleito, como o senhor pretende ajudar as comunidades?
Márcio – Uma das coisas que me orgulha é que, em 1989, quando eu fui vereador, nós fizemos uma comissão intermunicipal para conseguir recursos para asfaltar a estrada de Montenegro até Maratá. Fomos recebidos, na época, pelo vice-governador Sinval Guazzelli. Na verdade, o Rivo Bühler, que era presidente da Câmara, coordenou essa comissão, e eu fiquei de secretário. Nós fomos até lá e mostramos o projeto ao Sinval Guazzelli, juntamente com prefeitos e vereadores de toda a região. Aquele projeto foi adiante e encampado pelo Alceu Collares logo depois, dando seguimento à estrada que está aí até hoje. Na administração pública, as obras são difíceis, principalmente em termos de estradas. Infelizmente, aquela estrada foi mal feita, sem acostamento, pois não conseguimos incluir no projeto, foi construída com asfalto ruim, a base mal feita e, na Costa da Serra, por exemplo, a toque de caixa. Então, hoje está tudo esburacado. O serviço hoje é mal feito pelo poder público. Isso tem que mudar e precisa ser fiscalizado. Não dá para permanecer assim.
JI – Como deputado, o senhor acha que vai conseguir interferir?
Márcio – Vamos fiscalizar e, se for necessário, abrir uma CPI. Na Câmara, abrimos a CPI do Lixo, e hoje o prefeito responde a um processo de improbidade administrativa. Abrimos CPI do Videomonitoramento, que também resultou em processo de improbidade. São diversos atos do Executivo que nós fiscalizamos e deu resultado e isso deve ser feito em nível estadual. Na época em que foi feita aquela estrada (ERS-411), eu tirei várias fotos do serviço mal feito e mandei para o Daer, mas virou em nada. Mandei também para a Assembleia Legislativa e, até hoje, eu não tive resposta. É preciso ter respeito pelo povo e pelo dinheiro público.
JI – Por que não existem mais comissões como aquela hoje?
Márcio – A política tem mudado muito e é uma dificuldade movimentar a máquina pública. Existe uma comissão no Vale do Caí para tratar das cheias do rio Caí, por exemplo, mas as coisas parecem que não andam. Não sei se é inveja um do outro, mas naquela época pessoas de diferentes partidos se uniram em torno daquele objetivo.
JI – De que forma, como deputado, o senhor acredita que pode colaborar para que o Vale do Caí tenha mais segurança?
Márcio – O cercamento eletrônico é fundamental para que o bandido não venha para cá. Se um bandido sabe que o monitoramento pega a placa de um carro clonado ou a face do sujeito, como na China, onde o cara é reconhecido no meio de milhões de pessoas, ele não vem. As coisas têm que funcionar e se o cidadão que foi eleito não fizer isso, tem que sair, porque é preciso fazer as coisas acontecerem. O cercamento eletrônico diminui o uso da mão de obra de brigadianos, que é escassa hoje. É um negócio essencial e prioridade para quem estiver no exercício de um mandato Legislativo ou no Executivo.
JI – Como será sua relação com o prefeito Kadu, e os demais prefeitos da região?
Márcio – Eu não tenho por que me dar mal ou não fazer algo por alguém porque ele é de outro partido. Até porque eu já andei por diversos partidos. Existe gente boa e com interesse de fazer algo para a população em todos eles. Essas pessoas terão a minha atenção, pois estarei lá para ajudar a população e os prefeitos, independente dos partidos. Se o prefeito não me quiser, eu vou lá dialogar com ele, porque tenho experiência em dialogar com as pessoas.
JI – E na Saúde, quais as propostas?
Márcio – Nós temos aí o Hospital Montenegro, que sempre está remando. A Câmara e a Prefeitura repassavam recursos para o HM e depois ele foi se tornando 100% SUS, o que melhorou a situação e as condições. No governo do Tarso, do PT, os recursos eram repassados pontualmente – houve apenas um atraso em novembro e dezembro. Desde então, começou o problema. Também houve corte de verbas. Se eleito, como deputado, vou lutar pela saúde e brigar por mais recursos. A questão do SAMU também tem importância, porque tem que sobreviver e o município gasta bastante com ele. O Estado tem que assumir a parte dele, pois não pode ficar atrasando. O Vale do Caí precisa necessariamente ter um deputado para que essas coisas não aconteçam. Eles não respeitam Montenegro e não respeitam o Vale do Caí. Precisamos de um deputado forte lá na Assembleia Legislativa para que sejamos respeitados de verdade.
JI – O que os agricultores podem esperar do Márcio Müller deputado?
Márcio – As estradas de chão são ruins, o asfalto é ruim e eles estão lá, evitando o êxodo rural. Tem que dar todas as condições para que a população, principalmente da propriedade pequena, seja incentivada a permanecer lá. Tem que ter posto de saúde que funcione adequadamente no interior, em construções decentes, para que, um ano depois, não tenha goteira ou escora. Precisamos dar condições para que a população seja bem servida e consiga permanecer no interior e também na cidade.
Acompanhe as entrevistas
Para deputado federal
– 18 de setembro – Rodrigo Corrêa
Para deputado estadual
– 19 de setembro – Chacall
– 20 de setembro – Márcio Müller
– 25 de setembro – Nei da Kombi
– 26 de setembro – Paulo Azeredo
– 27 de setembro – Waldir Kleber