De acordo com o Cras, são 3.098 famílias registradas e que possuem renda de R$ 468,50 por mês em Montenegro
Kátia Silva, 36 anos, é uma das montenegrinas que mantêm a família apenas com o benefício social de R$ 224,00 do Bolsa Família. “Não gostaria que fosse assim, mas não consegui mais emprego e tenho meus filhos para cuidar”, lamenta ela.
Na residência de Kátia, vivem sete pessoas. Ela, um casal de filhos e dois netos. O padrasto e a mãe, que vieram de Porto Alegre para poder ajudar a família, moram na parte dos fundos da casa. “Às vezes, a minha mãe ajuda, mas não aceito sempre. A vida toda fui independente, cuidei dos meus filhos e agora estou assim.”
Kátia trabalhou mais de dez anos como doméstica, mas nunca teve carteira assinada naquela profissão. Somente há alguns anos, quando entrou para a construção civil, desempenhando a função de servente de obras, é que ela teve o primeiro registro. Acabou ficando desempregada e agora o que sustenta a família é o benefício do governo, a ajuda esporádica da mãe, da igreja e, em alguns momentos, o material reciclado que coleta.
Kátia veio para Montenegro há alguns anos, em busca de trabalho e de uma vida mais tranquila, já que Porto Alegre se tornara “perigosa demais”.
Hoje, mesmo com as dificuldades enfrentadas pela família, ela prefere ficar aqui. Assim como a mãe, que também escolheu permanecer em Montenegro. “Só queria uma casinha pra mim”, diz dona Tânia Regina da Silva, de 68 anos, que também vive apenas com o benefício do governo federal.
Kátia faz parte de um dado preocupante para o município de Montenegro. Dos 63.868 habitantes – população estimada pelo IBGE em 2017 – são pelo menos 3.098 que vivem com renda inferior a um salário mínimo, que hoje é 937,00. Ela, no caso, mantém a família com R$ 224,00 concedidos pelo governo federal.
Número de pessoas abaixo da linha da pobreza vem crescendo
De acordo com dados do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Montenegro possui 1.576 famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, isso apenas neste ano. Em 2015, o número era de 1.282 e, em 2016, era de 1.850, maior índice dos últimos anos.
O número de pessoas que tinham Cadastro Único, em 2015, era de 2.931, em 2016 passou para 3.364 e este ano está em 3.709. O Cadastro Único é o meio que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, permitindo que o governo conheça a realidade socioeconômica dessa população. Nele são registradas informações como características da residência, identificação de cada pessoa, escolaridade, situação de trabalho e renda, entre outras.
Porém, o dado que mais assusta é o número de famílias que sobrevivem com até meio salário mínimo, R$ 468,50 por mês. Em 2015, eram 1.935, em 2016 este dado saltou para 2.194 e este ano aumentou ainda mais. São mais de 3 mil famílias que vivem abaixo da linha da pobreza, de acordo com os números.
Cras precisa de mais estrutura para realizar atendimentos
E para fazer o atendimento de todas essas pessoas, e dos outros 60 mil habitantes, Montenegro possui apenas uma unidade do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), com porte médio. “Abrangemos uma cidade grande com um Cras só. Então, a gente entende a situação do município que está se reorganizando, mas precisamos de mais profissionais e de pelo menos mais uma unidade para atender a demanda que existe”, defende a coordenadora Mônica Müller.
O Cras é a porta de entrada da assistência social, onde são oferecidos os serviços com o objetivo de fortalecer a convivência com a família e com a comunidade. Promove a organização e articulação das unidades da rede socioassistencial e de outras políticas. Assim, possibilita o acesso da população aos serviços, benefícios e projetos de assistência social, se tornando uma referência para a população local e para os serviços setoriais. “Há vários programas dentro do Cadastro Único e, dependendo dos critérios, a pessoa passará todas as informações de quem mora na casa, para se adequar”, explica a coordenadora.
De acordo Mônica Müller, apesar da desigualdade que se apresenta na cidade, os maiores índices de pobreza estão nas localidades do interior. “As localidades do interior têm famílias de pessoas em muita vulnerabilidade, até mais do que na região central”, afirma.
Ainda, segundo Mônica, existe a imagem de que o Cras atua como centro de doações, mas, na verdade, trabalha como garantidor de direitos, auxiliando no que as pessoas necessitam em termos de direitos. “Estamos tentando desmistificar a questão de ajuda, de doação. Muitas pessoas chegam aqui e dizem ‘ah, eu vim buscar um ranchinho’ ou ‘vim pedir uma ajuda de móveis, roupas’. Como estamos vinculados à Secretaria de Habitação, muitas coisas ficavam aqui na unidade e então estamos tentando desmistificar isso”, argumenta.