Campanha busca conscientizar a população em relação à segurança viária
Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2011, o movimento Maio Amarelo tem por objetivo chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. Segundo o Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito, somente no ano passado, houve 20.053 mortes no trânsito no país, e 878.208 acidentes. Com o tema “Juntos Salvamos Vidas!”, a campanha de 2022 ressalta a importância do cuidado e da educação para o trânsito de todos.
Com 50 anos de experiência profissional no volante, o taxista Ernesto Weschenfelder, de 72 anos, em todos esses anos teve apenas um acidente, mas que felizmente foi sem ferimentos ou grandes danos materiais. O motivo foi a imprudência de um motociclista, que trafegava na contramão à noite com os faróis desligados.
Segundo a Organização das Nações Unidas, mais de 90% de todos os acidentes de trânsito acontecem por imperícia, imprudência e negligência. Segundo Ernesto, que hoje é o taxistamais antigo em atividade na cidade, há muita imprudência no trânsito por todas as partes. “Os pedestres não cooperam, quando está o sinal aberto pra gente eles não respeitam, as bicicletas também não respeitam, vêm na contramão”, cita.
Para ele, é de extrema importância o cuidado de si, mas principalmente do outro. “Tem que manter muita atenção e muita calma. O mais necessário é o cuidado no trânsito”, declara o taxista.
Além disso, ele também toma algumas atitudes preventivas. A velocidade tem que ser sempre na permitida na via, e o carro está sempre revisado. Mas outros fatores também influenciam nos acidentes segundo Ernesto. “Temos algumas ruas muito ruins, e às vezes acontece acidente porque as ruas estão esburacadas”, reflete.
Para o chefe da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com sede em Lajeado, Paulo Reni da Silva, é de extrema importância que quem tem o poder se envolva e melhore as condições das vias. “A PRF não faz estradas, a PRF não faz projeto de estradas, mas a gente atua, e a gente que atende. A gente vê o choro de um pai de família e de uma mãe quando um ente querido se envolve em um acidente. Então eu clamo para que todos os que fazem parte do esforço legal se envolvam também nas outras áreas”, fala.
Educação para o trânsito
Um dos grandes aliados na luta pela redução de acidentes de trânsito é a educação. De acordo com Darllin Ingrid Fischer Klug, gestora em trânsito e mobilidade urbana, e voluntária da sociedade civil, a educação para o trânsito deveria começar já na infância. “Dando os exemplos para as crianças poderem acompanhar e crescer com esse raciocínio e depois poder desempenhar melhor a sua mobilidade nas escolas”, declara.
Paulo Reni explica que há previsões legais em que a interdisciplinaridade do trânsito precisa ser trabalhada desde o Ensino Fundamental, para que ela já cresça com o assunto naturalizado. “Eu acredito que é um assunto que tem que ser tratado em casa. Se esperarmos chegar em uma idade para tratar de trânsito não conseguimos mais recuperar ninguém”, fala.
Ele ressalta que é através das crianças que a informação chega até os pais, com mais facilidade. O tenente da Brigada Militar, Fernando Pastório, especialista em direito de trânsito e instrutor na Esfes Montenegro, concorda com a afirmação e relata sua própria experiência. “Nós (BM) tínhamos anos atrás aqui em Montenegro, uma equipe que passava nas escolas e fazia instrução às crianças. E dentro dessa atividade nós conversávamos com as crianças para que elas conversassem com os pais quando percebessem alguma infração relacionada a comportamento. E infelizmente alguns pais nos reclamaram, porque estavam sendo cobrados pelos filhos”, relembra. “A cobrança de um filho é muito maior e muito mais pesada do que a cobrança do fiscal que está na rua”, completa.
É com essa preocupação em passar às crianças o bom exemplo desde cedo que Darllin realizou estágios nas escolas de Campo do Meio. “E no dia 25 com o apoio da Guarda Municipal vamos fazer uma blitz, na estrada de Campo do Meio e Santos Reis em que as duas escolas irão participar”, afirma.
Grandes fatores de acidente
De acordo com dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o não uso do cinto de segurança é a quinta infração mais cometida no Brasil. Em Montenegro, essa é uma das infrações mais observadas, segundo o Tenente da Brigada Militar. “Afeta diretamente condutores e passageiros, principalmente o não uso do cinto no banco traseiro, o que vem a aumentar a carga sobre o condutor ou o passageiro do banco da frente”, explica.
Ele ressalta também outro fator que também é foco da educação promovida pela ONU: a velocidade. “O excesso de velocidade que é a infração mais cometida no Brasil hoje, ela contribui muito nos acidentes. O excesso de velocidade aliado com a falta do uso do cinto terá consequência muito pior”, diz.
“O problema hoje da sociedade é o tempo, ninguém mais tem tempo, então as pessoas ganham tempo aumentando a velocidade e aí por mais que a via tenha condições ou eu conheça essa via, se ela não tiver condições isso pode gerar um acidente e as consequências são sempre as piores”, alerta Tenente Pastório.
Segundo o chefe da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), diariamente são feitos levantamentos estatísticos para compreender o que está acontecendo nos trechos onde a PRF atua. Além da velocidade, que é perceptível somente a partir de um equipamento, tem-se a ultrapassagem em local proibido como grande fator dos acidentes. Para Darllin, é lamentável que esses erros continuem ocorrendo, principalmente o não uso do cinto de segurança, algo tão essencial.
O ensino formal
Com experiência também de professora de aulas práticas e teóricas em autoescola, Darllin relata que não media esforços para levar toda a informação e treinamento possível para os habilitados, porém o tempo era um grande adversário. “Uma pessoa que passa pela autoescola, o período dentro de sala de aula é muito curto para tanta informação, se a gente for olhar talvez ela vai absorver 15% de tudo que foi passado pra ela e depois vai fechar o caderno e a gente sabe que nunca mais vai abrir. E as leis estão se renovando, e as pessoas acabam que não se atualizando”, fala.
Em relação à prática, ela diz que não pode afirmar que todos saem prontos para o trânsito. “A pessoa tem um conhecimento prévio e ela vai passar por uma prova, uma avaliação, um exame, mas que tem um método. A questão da prevenção de poder agir com antecedência para poder evitar um acidente só na prática, só ela indo para o trânsito”, descreve.
Para Paulo, esse processo de habilitação não é um assunto fechado, sendo constantemente discutido. “Além de ver o que é necessário passar para um aluno tem que ser algo possível de ser realizado, porque se fossemos perguntar quanto tempo precisa para passar o conteúdo inteiro? Um ano inteiro de aula, quanto custa isso pro aluno? E nós vamos cortar o direito dele ter acesso?”, fala ele citando a democratização do acesso à habilitação.
Segurança nas vias
A segurança nas vias é um dos elementos essenciais para evitar os acidentes de trânsito. Para Paulo Reni, todo projeto de engenharia de rodovias deve ouvir alguém que trabalha no local. “Eu acredito piamente de que engenharia tem que ter alguém que atua na parte do esforço legal, na parte da fiscalização, de prevenção de acidentes”, diz.
Segundo o Tenente da BM, as elevadas seriam a melhor opção para as rodovias, apesar do alto investimento envolvido. “A rótula em si democratiza um pouco mais o trânsito, facilita que as pessoas tenham outras possibilidades de ingressar no trecho da rodovia ou cruzar essa rodovia com uma certa facilidade. O único detalhe é que, eu vou citar como exemplo a rótula da RSC-287, com ERS-240 e Buarque de Macedo, ali quando desce um veículo pesado ele acumula uma fila de veículos que quando ele chegar na rótula para toda ela praticamente”, cita. Além disso, ele cita a sinaleira como outro empecilho, já que também pode acumular filas de espera.
Darllin relembra que uma solução inteligente para evitar os acidentes com pedestres também é necessária. “Quem sabe a instalação de passarelas?! Possibilitar essa travessia para os pedestres já reduziria bastante os números de morte e sequelas”, cita ela em relação à travessia nos bairros Santo Antônio e Panorama, na RSC-287, principalmente em horários de pico.
No âmbito urbano, a gestora em trânsito e mobilidade urbana diz que Montenegro necessita de passeios, calçadas, vias para ciclistas, ciclovias e ciclofaixas. “Acho que poderíamos melhorar esses números, ou seja, salvar vidas, se a gente investisse não só dentro do centro urbano, mas também em estradas”, completa.