HEROÍNAS que protegem a sociedade também orgulham e inspiram seus filhos
Ser policial não é tarefa nada simples, tampouco o é ser mãe. Quando o desafio é duplo, só mulheres fortes de verdade conseguem desempenhar essa missão com bravura e amor. Esse é o caso da inspetora da Polícia Civil Marcielli Zanini Mainardi, de 37 anos, e da soldado da Brigada Militar Bruna Hillig de Lemos, 27. São mulheres de fibra, que trabalham para proteger a sociedade, mas que se desmancham ao ouvir a frase “mamãe, eu te amo”.
Marcielli sempre sonhou em ser mãe. Já Bruna, foi presenteada de surpresa pela cegonha. Essas são histórias bem diferentes, em vários aspectos, mas com um ponto em comum: o amor pelos filhos e pela profissão.
Assim como grande parte das mulheres contemporâneas, Marcielli adiou o projeto da maternidade até formar-se, ter estabilidade profissional e familiar. “Sempre sonhei e me imaginei mãe. Quando eu brincava, imaginava ser mãe lá pelos 23 anos, mas aí, a gente termina a faculdade, busca estabilidade, constituir a família, e os filhos ficam para o momento em que tudo está mais organizado”, explica a inspetora, que teve a primeira filha aos 33 anos.
Com Bruna foi diferente. O nascimento do filho, Pedro Lemos Pelisole, a motivou ainda mais a estudar e a construir carreira. “Eu namorava quando descobri que estava esperando o Pedro. No início, fiquei preocupada, mas feliz. O nascimento dele foi uma motivação para eu me dedicar, para dar um futuro melhor pra ele”, diz Bruna. “Ingressar na Brigada é outro sonho. Foi onde me encontrei, gosto muito da instituição, tenho muito orgulho da profissão”, acrescenta a soldado.
Marcielli é mãe da Helena, de quatro anos, e da Clara, de um ano e um mês de idade. Inspirada pela mãe e pelo pai, o agente penitenciário Bruno Rafael de Souza, 38 anos, a filha mais velha adora brincar com o distintivo, ir à delegacia e arrisca até a prever o que quer ser no futuro. “Ela diz que quer ser polícia e que quer prender o vago”, conta a inspetora da Delegacia da Mulher (Deam).
O Pedro, de sete anos, filho da soldado Bruna, quer ser médico, mas se encanta ao andar pela sede do 5º Batalhão da Polícia Militar ao lado da mãe. O olhar de admiração do menino dá a ela a esperança de que o filho ainda mude de ideia. “A gente conversa sobre o Colégio Militar de Porto Alegre, gostaria muito que ele fizesse o Ensino Médio lá. Se ele gostar do militarismo e quiser seguir a profissão, vou ficar bem orgulhosa e feliz”, idealiza a soldado.
Para os pequenos, as mães são motivo de orgulho. Helena e Pedro adoram contar que elas são policiais, o que deixa Marcielli e Bruna ainda mais apaixonadas por seus filhotes. “Eu vejo o orgulho que sente por mim”, acrescenta Bruna.
“O Dia das Mães é todos os dias, é viver cada momento”
“O Dia das Mães é todos os dias, é no convívio com eles. É chegar em casa e viver e descobrir cada momento. Cada instante é único.” A definição é da inspetora Marcielli, mas poderia ser da soldado Bruna. Ambas concordam que receber o abraço dos filhos é a melhor forma de relaxar e esquecer as dificuldades enfrentadas no dia a dia da profissão.
A agente da PC conta que a maternidade aflorou ainda mais sua sensibilidade em relação às situações que envolvem famílias e, principalmente, quando há crianças e adolescentes no meio. “Por mais que pareça que o policial possui uma blindagem, que não se sensibiliza, a gente se sensibiliza sim”, sublinha a inspetora.
Ao ingressar na Polícia, em outubro de 2012, Marcielli foi alocada no Posto de Atendimento à Mulher, da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Montenegro. Lá passou a acompanhar de perto as ocorrências de violência doméstica, crimes contra crianças e adolescentes. Em 2014, com a inauguração da Deam, ela mudou de local de trabalho, mas a rotina das atividades se manteve.
Já na primeira gravidez de Marcielli, a delegada Cleusa Spinatto, responsável pela Delegacia da Mulher, afastou a inspetora de ações como cumprimentos de mandados de prisão e outras que poderiam causar riscos e abalo emocional. Contudo, depois do nascimento e do período da licença maternidade, a policial voltou a encarar a realidade de seu trabalho, mas com uma visão diferente. “Depois do nascimento da minha primeira filha, os crimes sexuais e de violência contra crianças passaram a mexer mais comigo. A gente sempre pensa que aquela vítima poderia ser nosso filho”, explica.
Pensar no filho foi que fez a soldado Bruna enfrentar um dos piores momentos pelos quais já passou. Enquanto fazia o Curso de Formação de Soldado, em Osório, ela foi assaltada. Permaneceu cerca de uma hora com os bandidos, andando em seu próprio carro. Na presença de Pedro, Bruna não dá detalhes sobre o crime. Para ela, o que realmente importa nessa história é lembrar do abraço reconfortante que recebeu na volta pra casa.
Missão dada é missão cumprida, com ou sem ajuda
Outra característica comum das policiais desta reportagem é o distanciamento de suas famílias. Marcielli veio de Santa Maria para Montenegro. Bruna deixou Osório e escolheu viver aqui, unicamente com Pedro.
“A rotina não é fácil, só consigo porque meu marido me ajuda. A gente divide todas as tarefas. Nos dias em que eu estou trabalhando, ele está em casa com elas”, conta a servidora da Civil sobre como é conciliar o trabalho fora de casa com o cuidado às filhas, sem ter a família por perto. “Eu amo ser mãe. Acho que qualquer esforço que a gente faça é pago por sorrisos, um olhar delas”.
Para Bruna, é ainda mais complicado. Com escalas de serviço intercaladas, por vezes de dia e outras de noite, a jovem conta com o auxílio de uma babá para cuidar de Pedro. Quando está trabalhando à noite e a saudade bate, mãe e filho se comunicam por mesagem, nos momentos de intevalo. “A gente faz o que pode. Dou o meu máximo. Tento ser a melhor mãe e a melhor profissional. Ele é minha vida, vivo em função dele”, conclui Bruna.