Pesquisador faz alerta para sinal de intensificação de fenômenos como ciclones extratropicais
As condições climáticas que permitiram a formação do ciclone extratropical que causou danos extensos em todo o Rio Grande do Sul podem se repetir ao longo dos próximos anos. De acordo com o climatologista e chefe do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professor doutor Francisco Eliseu Aquino, os estudos da universidade mostram que os ciclones extratropicais estão apresentando sinal de intensificação no Estado.
Conforme o pesquisador, no entanto, ainda não há uma tendência de maior frequência desse evento climático. “Os ciclones extratropicais geram sistemas frontais que garantem a disponibilidade hídrica no inverno gaúcho. Porém, observamos que atualmente eles geram sistemas frontais mais ativos com vendaval, chuva extrema e granizo”, explica. “Em um planeta mais quente (esses sistemas frontais mais ativos) são mais intensos e o El Niño favorece essa combinação”, reforça.
Sobre o El Niño, Francisco diz que a entrada dele no lugar do La Niña explica, de forma simplificada, a troca de um evento climático extremo no Rio Grande do Sul – a estiagem – por outro, as cheias e enxurradas. “O Rio Grande do Sul tem, devido à sua localização geográfica, tempo e clima associado à circulação atmosférica e à sazonalidade. Com o planeta mais quente, a circulação atmosférica se intensifica e, combinada com oceanos mais quentes, intensifica evento extremos no Rio Grande do Sul”, expõe. O professor doutor, que há décadas monitora ondas de frio e eventos extremos de precipitação, cita como exemplos de eventos extremos ciclones extratropicais, tornados, microexplosões, inundações e estiagens.
Quanto ao enfrentamento desses eventos climáticos, Francisco diz entender que o Rio Grande do Sul vem se estruturando para enfrentá-los. “Ainda há muito que se fazer. Em especial recomendo enfatizarmos a preservação ambiental já que é a melhor e mais eficiente forma de enfrentar as mudanças ambientais globais”, afirma o professor. Ele recomenda ações guiadas pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “Devemos fortalecer uma política de redução de riscos e desastres e a Defesa Civil deve ampliar investimento em ciência e tecnologia para que a sociedade gaúcha consiga compreender e mitigar os efeitos das mudanças climáticas”, diagnostica o pesquisador.
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Entenda
El Niño: fenômeno de aquecimento da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico que traz impactos climáticos para todo o mundo. No Rio Grande do Sul, o maior reflexo são os grandes volumes de chuva.
La Niña: fenômeno de resfriamento da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico. Tem papel significativo nas estiagens, ondas de calor e frio, eventos extremos de precipitação e incêndios na América do Sul.
Os ODS
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global da Organização das Nações Unidas (ONU) à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Os objetivos são:
ODS 1 – Erradicação da pobreza: acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.
ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável: acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.
ODS 3 – Saúde e bem-estar: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
ODS 4 – Educação de qualidade: assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
ODS 5 – Igualdade de gênero: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
ODS 6 – Água potável e saneamento: garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos.
ODS 7 – Energia limpa e acessível: garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos.
ODS 9 – Indústria, inovação e infraestrutura: construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável, e fomentar a inovação.
ODS 10 – Redução das desigualdades: reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis: tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
ODS 12 – Consumo e produção responsáveis: assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima: tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.
ODS 14 – Vida na água: conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.
ODS 15 – Vida terrestre: proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da Terra e deter a perda da biodiversidade.
ODS 16 – Paz, justiça e instituições eficazes: promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
ODS 17 – Parcerias e meios de implementação: fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.