Desfalque. Em contraponto ao pedido de reforço na segurança, cidade perde contingente para trabalhar na capital
Embora Montenegro e região registrem nestes primeiros três meses diversos casos de criminalidade de repercussão, como os recentes dois roubos a motoristas de veículos em plena RSC-287, de dia, a cidade foi desfalcada em termos de segurança pública pelo Governo do Estado. Isso porque uma decisão da Secretaria de Segurança Pública (SSP) fez com que oito policiais militares do 5° BPM e do 27° BPM, em São Sebastião do Caí, fossem incorporados ao efetivo de 350 PMs do interior que irão trabalhar na Operação Avante 2017, em Porto Alegre.
Os policiais que atuarão no combate aos altos índices de criminalidade, como homicídios e latrocínios, iniciam as atividades imediatamente. A previsão do Governo do Estado é que eles permaneçam por lá até julho, quando está previsto o ingresso de novos policiais que estão em formação em diferentes regiões do Estado, inclusive em Montenegro. Na Escola de Formação de Soldados estão em preparação cerca de 400 alunos-soldados.
A transferência dos PMs para Porto Alegre ocorre apenas 22 dias depois que uma comitiva de políticos, entidades de classe e até a Brigada Militar esteve reunido com o secretário adjunto da SSP, justamente para pedir mais segurança pública no Vale do Caí. A
reivindicação principal é de que cerca de 30 alunos-soldados continuassem na região após a formatura.
Por isso, a saída, mesmo que momentânea de agentes da Brigada, repercutiu muito mal na sociedade montenegrina. Através de nota oficial, o prefeito de Montenegro, Luiz Américo Alves Aldana, lembrou que, no recente encontro na SSP, em Porto Alegre, recebeu como resposta ao pedido de mais segurança para o Vale que a região possui baixos índices de criminalidade em todas as áreas. “Apesar de não concordar com a cedência, Montenegro compreende o momento calamitoso que vive a segurança pública em Porto Alegre”, opina Aldana. O prefeito destaca que a Administração Municipal tem feito a sua parte no que diz respeito à segurança pública do município. Há atuação em várias frentes, através de convênios com a Polícia Civil e Militar, com a cedência de estagiários, pagamento de aluguel da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), manutenção e combustível de viaturas, entre outras ações. A cidade ainda conta com o Gabinete de Gestão Integrada do Município (GGI-M), que discute e orienta sobre as questões segurança pública.
Na Câmara de Vereadores, responsável pela reunião com a cúpula da segurança pública, o clima é de frustração e de “bola nas costas”, conforme o presidente da casa, Neri de Mello Pena, o Cabelo (PTB). Para ele, o pleito da cidade não está sendo atendido e, o que é pior, estão sendo tirados PMs de Montenegro. “A gente foi até para trabalhar um problema, que é a falta de efetivo, e foi criado outro problema”, reclama o chefe do Legislativo.
O vereador entende que a Brigada realiza um bom trabalho, mas se tivesse mais policiais poderia ter um melhor aproveitamento no combate à criminalidade crescente na região. Neri anuncia que já iniciou um diálogo com os seus pares como forma de buscar uma estratégia unificada para cobrar medidas por parte do Estado.
“É preciso colaborar”, diz comandante
Comandante do CRPO-VC, o tenente-coronel Ronaldo Buss entende que é preciso colaborar com o momento delicado que vive a segurança pública em Porto Alegre. Ele esclarece que estão indo quatro PMs do Pelotão de Operações Especiais (POE) do 5° BPM e mais quatro do 27° BPM, em São Sebastião do Caí.
O Ibiá apurou que, do POE de Montenegro, foram, na verdade, apenas três agentes, considerados linha de frente e extremamente operacionais, tendo, inclusive, participado da recente ação exitosa, na sexta-feira, quando da descoberta da maior quantidade de drogas encontrada na cidade nos últimos dois anos. O oficial diz que o número transferido para Porto Alegre leva em conta alguns dados técnicos e de quantitativos dispostos através da ferramenta da Operação Avante.
“Quero tranquilizar a comunidade, que não ficará desassistida”, garante o comandante. A compensação, segundo ele, se dará pelo pagamento de horas-extras aos que ficaram, ou seja, não haverá mudanças. Além disso, ele acredita que a medida é natural, já que, no ano passado, policiais da região trabalharam na Avante Litoral.
“O crime é cíclico, migra de uma região para outra”, entende. Buss acredita que a ida de PMs do Vale será positiva também em termos de experiência em um intercâmbio interessante.
Presidente da CDL não entende prioridades
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, Tiago Feron, diz não entender as prioridades do governo com a saída temporária de PMs da região para reforçar o combate ao crime na capital. Ele cita os dois casos de assaltos a motoristas de veículos na RSC-287, de dia claro, para ser contrário à medida adotada pelo Governo do Estado. “O momento é de assaltos constantes e tem nos preocupado”, salienta.
Feron defende a união dos empresários, de regiões fortes do ponto de vista da economia, como Centro e Timbaúva, como forma de reforçar a cobrança ao Estado para garantir um efetivo mínimo na cidade. “Vivemos o colapso da segurança pública. Faltou sensibilidade do governo para se precaver e não atingir este volume de crimes”, entende.
Mas o dirigente quer ir além das reclamações. Ele pretende marcar uma reunião com o comando do 5° BPM para colocar o CDL à disposição da BM para realizar uma parceria, garantindo recursos materiais, como bens, ou mesmo o conserto de viaturas, por exemplo, seguindo o modelo adotado em Porto Alegre, em que empresários se comprometeram a consertar mais de 100 viaturas que estavam paradas por falta de manutenção.
Para médico, ausência de brigadianos agravará situação na cidade
O cardiologista Eduardo Azevedo considera lamentável a posição do governo estadual, dizendo que o número de PMs já é baixo e que a situação no município ficará ainda pior, com a população tendo cada vez mais medo de sair de casa. Para ele, a droga está tomando conta de Montenegro, aumentando o número de ocorrências, deixando comunidades à mercê dos traficantes.
Azevedo cita o exemplo dos fundos do Hospital da Unimed, em que arames das cercas e até mesmo os moerões estão sendo levados por criminosos, especialmente os que ocupam a Travessa José Pedro Steigleder, lugar em que acredita haver “muitas bocas de fumo”. O médico revela que, nos últimos dias, um funcionário encarregado de cuidar da área de campo, foi parar da UTI depois de resistir a um assalto, quando deveria entregar o dinheiro da venda de uma vaca.
“O funcionário cuida do campo para nós, só que os vizinhos ficaram sabendo que ele tinha vendido uma vaca e estava com dinheiro. Assaltaram ele, deram com tijolo na cabeça dele por não querer entregar o dinheiro”, pontua. Azevedo reclama que as lideranças políticas da cidade não têm peso para garantir uma influência mínima sobre o governo.