O acusado de feminicídio ocorrido em Montenegro na madrugada da última sexta-feira, dia 26, está preso. Conforme a Polícia Civil, o indivíduo de 48 anos, que não teve o nome divulgado e era companheiro da vítima, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça e conforme combinado com a defesa e familiares se apresentou na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), que está investigando o crime.
A Polícia Civi segue investigando o caso, tratado como feminicídio, que tem pena entre 20 e 30 anos de prisão. Se buscou contato com a defesa do acusado, que preferiu não se manifestar por enquanto.
Grande repercussão
A morte trágica de Debora Michels Rodrigues da Silva, a “Debby”, de 30 anos, segue causando grande repercussão. Muitas homenagens aconteceram na despedida, durante o velório na Funerária Forneck Mattana, bem como no sepultamento no Cemitério Municipal de Montenegro, na manhã de ontem, sábado, assim como nas redes sociais, lembrando o quanto a educadora física era estimada e dedicada.
Na manhã de ontem, na Praça Rui Barbosa, no centro de Montenegro, também ocorreu um Ato de Solidariedade à Debby Michels e a todas as mulheres que foram vítimas de feminicídio e de outros crimes. Segundo Monaliza Furtado, da Força Feminina Montenegro, trata-se de um caso cruel. E por isso a manifestação também pediu por mais justiça e segurança, com todos de luto e segurando balões.
Fazia quatro anos que Montenegro não registrava um caso de feminicídio (assassinato de mulher). Entretanto, os casos de violência doméstica contra mulheres são diários, com índices muito altos, ocupando grande parte dos registros na Delegacia de Polícia e nos chamados para a Brigada Militar.
Suspeito se apresentou
O companheiro de Debora se apresentou na noite de sexta-feira, na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Montenegro, acompanhado de advogado. Conforme o delegado regional, Marcelo Farias Pereira, ele foi ouvido pela delegada Cleusa Spinato e durante o depoimento declarou que teria ocorrido uma discussão por questões de ciúmes, na casa em que moravam, na localidade de Vendinha, quando a vítima teria se botado nele, chegando a machucá-lo perto da orelha, mostrando as lesões leves.
De acordo com a Polícia, ele admitiu que pegou ela pelo pescoço, levantando e jogou contra o guarda-roupa. Ao verificar que a companheira começou a passar mal, relatou que colocou ela no carro e foi em direção a Montenegro para buscar socorro. No caminho ele diz que percebeu que ela não tinha pulso e não respirava. Então afirmou que entrou em desespero e deixou o corpo na frente da casa dos pais dela, sexta-feira de madrugada, no bairro Centenário. Alegou ainda que durante o desentendimento não tinha a intenção de matar a companheira.
A Polícia tinha representado ainda na sexta-feira pela prisão preventiva, mas como não tinha sido decretada pela Justiça, o suspeito foi liberado após o depoimento. Segundo o delegado, o advogado dele se comprometeu que seria apresentado novamente caso a prisão fosse decretada. E isso foi cumprido.
O Ministério Público (MP) deu parecer favorável pela decretação da prisão. Para a Polícia, os documentos juntados atestam, inequivocadamente, a causa mortis. Por isso a Polícia e o MP insistiram com a solicitação de prisão preventiva, que foi decretada pelo Judiciário na noite de ontem e cumprida hoje de manhã após a sua apresentação na DEAM.
Morte no dia da mudança e áudio pedindo perdão
“Debby Michels” era bastante conhecida pela atuação como fisiculturista, personal trainer e como instrutora em academia. Graduada em educação física, tinha grande número de seguidores nas redes sociais, onde postava vídeos com dicas de exercícios e treinamentos. Ela e o companheiro AAG (iniciais fornecidas pela Polícia) trabalhavam em academia de ginástica, sendo ele também personal trainer, fisiculturista e instrutor.
Ela foi encontrada morta na madrugada de sexta-feira, dia 26, por volta de 3h, na rua Ponta Negra do bairro Centenário, em Montenegro. O corpo estava coberto por um pano vermelho, próximo da casa dos pais dela, tendo um aparelho de telefone celular ao lado. Uma equipe médica do Samu diagnosticou o óbito. A Brigada Militar fez buscas e também isolou o local. Foi acionada a Polícia Civil e o Instituto Geral de Perícias (IGP).
A Polícia analisou imagens de câmeras próximas ao local, que mostravam o suspeito retirando a vítima do carro e a deixando na calçada, vestida de pijama. Já outras imagens, obtidas pela Polícia, mostram o suspeito trafegando de carro na altura de Canoas, durante a fuga. Conforme informações, não foram encontrados sinais de violência no corpo. Pelo atestado de óbito, a família diz que ela teria sido morta por asfixia mecânica. O laudo oficial depende da perícia do IGP e necropsia do DML.
A principal suspeita é de crime passional. Segundo familiares, o casal estava em processo de separação e acreditam que ele não aceitava o divórcio.
Em um áudio, enviado para um amigo, o suspeito diz que faria para ele o seu último pedido, alegando que iria resolver um assunto e passou números da senha de seu celular. “Manda esse áudio para minhas filhas. Diz que eu amo muito elas e para perdoar pelo que vou fazer”, declarou. Pediu ainda para um irmão que deixasse para elas um valor em dinheiro que foi combinado.
Familiares dizem que justamente na sexta-feira, dia do crime, Debby iria buscar seus pertences na casa em que morava com o companheiro, na localidade de Vendinha, no interior do município, pois tinha alugado um apartamento. “Foi uma grande surpresa. Ele tinha falado com meu pai e parecia estar aceitando a separação numa boa”, diz o único irmão da vítima, Alex Michels. “Foi uma covardia”, completa.
O casal estava junto faz mais de dez anos. Debora não tinha filhos. As duas filhas do suspeito são de um relacionamento anterior.
Os pais da vítima, Davi e Rosane, viram a filha sem vida na frente de casa, após perceberem a movimentação no local. Muito abalados, acompanharam os atos fúnebres na manhã de sábado, recebendo o apoio e solidariedade de parentes e amigos. Na despedida, no cemitério, sob aplausos, foram soltos balões brancos e pretos.